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E.M.E.J.A. - Quando simples letras realizam sonhos

Quarta, 21 de março de 2018

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Histórias e lições de vida. É isto que encontramos quando conhecemos os jovens e adultos que frequentam a Escola Municipal de Educação de Jovens e Adultos - EMEJA, em São Bento do Sul.

Atualmente a EMEJA conta com seis professores para atender os 160 alunos matriculados e que por diversos motivos decidiram, a esta altura da vida, "aprender".

Durante as aulas que ocorrem nos períodos matutino, vespertino e noturno, as turmas de anos iniciais que abrangem do 1º ao 5º ano, e dos anos finais que abrangem do 6º ao 9º ano, em turmas multiseriadas, aprendem todo o conteúdo necessário para que possam concluir o Ensino Fundamental.

O diretor da Emeja, professor Carlos José Fedalto, "Cacau" como é conhecido, comentou que a grande missão da escola é ensinar as pessoas que por diversas circunstâncias da vida não estudaram, e que agora tem o desejo de aprender.

"Aqui nós temos alunos que enfrentaram diversas situações na vida, e não tiveram a oportunidade de aprender em tempo hábil. E o nosso papel na vida destas pessoas é proporcionar a eles condições para que tenham uma oportunidade de aprender, seja desde o início da alfabetização, ou em anos finais para a conclusão do Ensino Fundamental", disse Cacau.

A secretária de Educação de São Bento do Sul, Rosemari Strack Cândido, comentou que a educação de jovens e adultos vem atender um público que não teve oportunidade de iniciar ou concluir a educação de ensino fundamental na idade adequada. Hoje a Emeja é justamente a oportunidade que eles têm de ter acesso à escola. "Esses adultos chegam à escola com outras experiências de vida, e não há saber mais ou menos, há saberes diferentes quando avaliamos os alunos em idade escolar e os adultos que retornam ao aprendizado", disse Rosemari.

Sobre a educação Rosemari fez questão de ressaltar que quando falamos em educação buscamos uma igualdade social, pois quem está ali tem que acreditar no que está fazendo, e esses professores sentem isso. “Eu vejo os professores encantados com o atendimento a este público, porque é fantástico lidar com alunos que acreditam que a educação pode fazer a diferença em sua vida”, disse a secretária.

A professora de alfabetização Marilda Peyerl Corrêa Peres comentou sobre as aulas na Emeja: "Nós temos nas salas de aula turmas multiseriadas, ou seja, com alunos aprendendo conteúdos de vários anos no mesmo ambiente, e funciona muito bem, pois dedicamos atendimento individualizado aos alunos", explicou.

E sobre os alunos, Marilda disse: "As pessoas desta turma estão aqui porque realmente tem vontade de aprender. Todos têm sua história de vida, com muitas dificuldades, e agora, nesta altura da vida, despertaram o interesse e o desejo por aprender a ler e escrever. É maravilhoso quando as pessoas demonstram este interesse", concluiu.

Alguns dos personagens principais da Emeja, os alunos, também participaram e relataram um pouco de suas histórias. Participaram com seus depoimentos os alunos Maria Denir de Chaves, Agenor Fernandes dos Santos e Lídia Telma Dybas, do período vespertino, e ainda Adilson da Silva Oliveira, Nilva Alves dos Santos, Manoel Domingos da Silva e José Gonçalves Pereira, do período noturno.

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Maria Denir de Chaves
 

A aluna Maria Denir de Chaves, hoje com 60 anos, relatou que passou por uma vida difícil. "Quando criança eu estudei só dois anos e meio. Era muito difícil porque nós precisávamos trabalhar, e a família era pobre. Então o tempo passou, eu casei, tivemos uma vida difícil, pois criei 6 filhos, um neto e ainda criei filho dos outros", disse.

Maria relatou que sempre esteve envolvida com clube de mães e algumas outras atividades, e sobre a motivação para voltar a estudar, Maria foi precisa: "Foi o celular mesmo que me motivou a estudar. Certo dia entraram na minha casa e furtaram meu celular, então comprei um novo e não sabia mexer. Foi quando pedi para as crianças me ajudarem a mexer um pouco. Até que um dia apareceu no celular a palavra recíproco, e eu não sabia o que era recíproco, fui pesquisar, e fui me motivando. Foi o celular mesmo que me motivou a buscar mais conhecimento", disse.

Sobre estudar no Emeja, Maria disse que quer ir em frente. “Eu gosto muito de estar aqui aprendendo, fico muito feliz. A professora é muito boa, e eu conheço ela desde que era uma menina”, brincou.

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Agenor Fernandes dos Santos
 

Agenor Fernandes dos Santos, com 69 anos, descobriu no ano passado que o Emeja estava funcionando na Rua João Pauli e por isso foi estudar.

Conforme relatou Agenor, que está aposentado há dois anos e meio e agora tem tempo e disposição para aprender a ler e escrever, "eu nunca tive contato com a escola. Era muito difícil antigamente. Nós morávamos no interior, no sertão, em Pitanga-PR, e não havia sala de aula nem colégio na região. Eu trabalhava na roça e começava cedo na lida. Foi uma vida difícil, criamos 10 filhos, e o tempo passou", disse.

Mas o que motiva verdadeiramente o senhor Agenor a aprender a ler é a Bíblia Sagrada, como ele mesmo diz. "Tenho muito interesse em aprender a ler para pegar a Bíblia Sagrada e poder ler todo o livro. Temos a Bíblia em casa, minha esposa lê um pouco, mas tenho como objetivo eu mesmo ler e entender", concluiu.

 

Lídia Telma Dybas, 69 anos, motivou-se a estudar após o convite de sua filha Natália, que foi professora de inglês na Emeja e conheceu o trabalho da professora alfabetizadora Marilda. Como a própria senhora Lídia relatou, "eu vim morrendo de vergonha, mas estou aqui. Fiquei muito feliz, todos meus filhos me ligaram alegres porque eu estava iniciando na escola. Minha filha Natália tirou foto quando comecei aqui na sala de aula e enviou pelo whatsapp para todos os irmãos, e todo mundo está sabendo que eu estou estudando", disse.

Lídia relatou que sabia ler muito pouco, e nunca frequentou a escola porque sua família residia no interior de Agudos, e não havia escola nas proximidades.

Sobre estudar Lídia disse: "tenho meus filhos todos formados, e agora chegou a minha vez. Eu queria porque é bom estudar, é bom saber as coisas. Antes tinha que perguntar muitas coisas para os outros, e quando nós sabemos é muito bom. Eu estou gostando, a professora é muito querida.", concluiu.

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Adilson da Silva Oliveira
 

Natural de São Joaquim-SC, Adilson da Silva Oliveira, atualmente com 43 anos, também relatou sua infância na lavoura. “Eu frequentei a escola durante três anos, mas meus pais me tiraram de lá para ajudar na lavoura”, disse. Sobre voltar a estudar Adilson disse que acha muito bom estar na sala de aula, e afirmou gostar muito da turma e da professora. Quanto ao seu sonho, Adilson, que lê pouco ainda, disse ter muita vontade de ler um livro inteiro. Ao ser questionado sobre um livro que gostaria de ler, a resposta foi rápida: “Tenho muita vontade de ler a Bíblia”.

 

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Nilva Alves dos Santos
 

A aluna mais nova que frequenta a turma da professora Marilda Peyerl Corrêa Peres durante os anos iniciais do período noturno é Nilva Alves dos Santos, que aos seus 37 anos retornou para a sala de aula com o desejo de aprender tudo que perdeu na infância.

Natural de Foz do Iguaçu, Nilva disse que morava no Paraguai, e que estudou dos 11 aos 13 anos, mas seu pai a retirou da escola porque não queria que a filha estudasse. "Meu pai não queria deixar eu frequentar a escola. Já sei ler e escrever um pouco, mas quero aprender mais, até porque na empresa pediram para eu estudar", relatou.

Nilva comentou que a necessidade profissional a fez retornar para a sala de aula, mas também expôs seu desejo de poder ler vários livros do início ao fim.

 

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Manoel Domingos da Silva
 

Quem contou um pouco de sua história também foi o aluno Manoel Domingos da Silva, 68 anos, natural de Santana do Ipanema, no estado de Alagoas, Manoel relatou a vida difícil no Nordeste. Seu pai abandonou a família quando ele tinha 10 anos de idade, e naquela época Manoel se viu sozinho com sua mãe e mais quatro irmãos. Na infância não frequentou a escola pela necessidade de trabalhar, e quando adulto enfrentou a vida e mudou-se para o estado do Paraná, onde permaneceu por 30 anos trabalhando na lavoura.

Em 1990 chegou em São Bento do Sul e foi trabalhar na fábrica de móveis Zipperer, "Ziprinho", como era conhecida. "Eu sempre tive vontade de estudar, e agora que estou aposentado posso fazer. Acho um pouco dificultoso entender, mas estou conseguindo, e as letras grandes eu já consigo ler", relatou.

Frequentando a Emeja há três anos, Manoel disse que está feliz por estudar e que isso mudou sua vida. "A pessoa que não sabe ler é como se fosse cego, porque pega uma folha de papel e não vê nada", disse.

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José Gonçalves Pereira
 

E José Gonçalves Pereira, com seus 77 anos, mostrou-se ser o aluno mais divertido da turma. Natural de Itiúba, no estado da Bahia, José já está há 40 anos em São Bento do Sul. Durante sua infância José contou que seu pai não o deixava ir para a escola. "Meu pai dizia que homem tem que trabalhar e que a mulher é quem deve aprender", relatou. Frequentando a Emeja há três anos, José disse que já lê e escreve um pouco e que gosta de aprender. "Eu quero aprender mais para depois viajar e entender as coisas", finalizou.

 



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