Padre Antônio Taliari
Jornalista (DRT 3847/SC)
Missionário em Rondônia, estudando em Curitiba/PR
MENSAGEM DO EVANGELHO
Neste, Domingo da Sagrada Família, o Evangelho de Lucas
2,22-40, vemos que o menino Jesus é apresentado no Templo de Jerusalém
onde os pais oferecem um sacrifício para o resgate. É a oferta dos
pobres. Surge um ancião, o velho Simeão, pleno do Espírito Santo, que
toma o menino em seus braços e, com seu cântico, bendiz a Deus. É a
alegria e satisfação de quem esperou, confiou e viu as promessas se
realizaram antes de sua morte. O justo vive pela fé e pode descansar
em paz. Entre as pessoas simples e piedosas que se aproximara para ver
o menino, está Ana. Ela profetizou sobre o futuro de Jesus. Depois
Jesus retornará para Nazaré, onde crescerá silenciosamente em
sabedoria e graça. A Encarnação não é somente no ventre de Maria, mas
na vida, na comunidade, em toda a Criação. A apresentação do
recém-nascido no Templo de Jerusalém não era obrigatória, mas podia
ser feita. Lucas inicia se Evangelho no Templo em Jerusalém e é no
Templo que o mesmo se conclui. A partir de Lucas 9,51, todo o
Evangelho converge para Jerusalém, pois é lá que se cumprirão os
acontecimentos pascais e é de onde partirá a missão cristã. Segundo a
Leia, ao dar a luz, a mãe tornava-se impura ritualmente. Isto
acontecia pelo fato de derramar sangue durante o parto. O sangue é a
vida e deveria ser oferecido um sacrifício de reparação. Este ritual
devia ser cumprido 40 dias depois do nascimento do filho. O
primogênito pertencia a Deus e devia ser resgatado, segundo a Lei. O
fundamento desta prática vem da libertação do povo do Egito, quando
Deus poupou os primogênitos dos hebreus. Ao resgatar o filho, o pai
diz: “Eu te resgato porque também eu fui resgatado”. A presença do
primogênito no Templo de Jerusalém não era necessária. Jesus está lá
porque foi trazido pelos seus pais, mas para fazer com que tudo o
relato gire ao redor da sua presença. Segundo o sistema ritual, havia
vários tipos de ofertas para os holocaustos e sacrifícios. Os animais
podiam ser grandes ou pequenos, dependendo da condição do ofertante. A
oferta para o primogênito consistia num cordeiro. Para que todos
pudessem cumprir os preceitos, aos pobres era concedida a prerrogativa
de oferecer um casal de pombas. A ausência do cordeiro no texto de
Lucas confirma que Jesus nasceu num ambiente pobre, escolheu nossa
fraqueza e se humilho para nos salvar: esperava-se a presença de um
sacerdote no Templo de Jerusalém para receber a oferta e conceder a
bênção, mas quem aparece é um personagem novo: Simeão, um home justo,
o qual exerce a função de sacerdote e profeta. Simeão é movido pelo
Espírito Santo. Na sua idade avançada, devia ‘ver’ a morte chegando,
mas ele ‘ve’ a salvação se realizando. Toma o menino nos braços e
bendiz com seu cântico. José e Maria apresentaram Jesus no Templo de
Jerusalém; Simeão o apresentou ao povo de Deus. Mais breve que o
‘Magnificat’ e o ‘Benedictus’, o cântico de Simeão é uma ação de
graças e uma voz de esperança pelo cumprimento das promessas da parte
de Deus e das expectativas de Israel. Enquanto os antepassados
esperaram pelo Messias. Simeão o viu com os seus olhos. O Messias veio
da história do povo de Israel, mas será para todos, bem como a
salvação que Ele traz. Israel tem a prioridade, com a missão de abria
a sua fé a todas as nações, cumprindo as professias de Isaías. Há um
sinal de contradição. Jesus, veio trazer a paz, será sinal de divisão;
ele que veio trazer a salvação, provocará a ruína de muitos; portador
da alegria, se fará humilhar. Isso se dará porque as pessoas deverão
escolher se estarão a seu favor ou contra; sua mensagem do Reino de
Deus será acolhida pelos pequenos e será rejeitada pelos escribas e
fariseus; os pecadores e excluídos querem ouvir suas palavras e as
autoridades murmuraram contra Ele. A Palavra de Deus muitas vezes é
comparada a uma espada cortante. Maria sofrerá o martírio no coração
ao ver que seu filho será condenado à morte de cruz. As palavras de
Simeão se transformam em profecia do mistério pascal. Assim como no
nascimento, aqui já está presente o mistério da Paixão. Lucas iniciou
com uma dupla: Zacarias e Isabel; depois Maria e José. A terceira
dupla é o velho Simeão e a profetiza Ana. Junto com os anteriores, ela
representa os pobres e piedosos que esperavam a redenção de Israel e a
vinda do Messias. Ana é chamada de profetiza. Junto com Simeão, formam
as duas testemunhas para um reconhecimento autêntico. Ana viveu casada
sete anos. Está com 84 anos, que é a multiplicação de 7x12. Números da
perfeição e da escolha, indicando que Ana viveu toda uma vida dedicada
a Deus. Ela tem todas as condições de ser testemunha. Lucas é o
evangelista que mais cita as viúvas: Jesus recorre a figura da viúva
de Sarepta a quem foi enviado o profeta Elias; Ele ressuscita o filho
único da viúva de Naim; conta a parábola da viúva que importuna o juiz
iníquo clamando por justiça; é a viúva indigente que está ofertando
duas moedinhas. Na obra de Lucas, encontramos ainda outras menções de
“viúvas” em Lucas 20,28.30; 20,47 e Atos dos Apóstolos 6,1; 9,39.41.
Junto com o órfão e o estrangeiro, a viúva forma o tripé que a Lei e
os Profetas defendem e protegem. Deus é o “Pai dos órfãos e o protetor
das viúvas” e denuncia os ímpios que massacram o povo e “matam a viúva
e o estrangeiro e assassinam os órfãos”. A Carta de Tiago recorda que
religião pura diante de Deus Pai é aquela que “socorre os órfãos e as
viúvas nas suas aflixões”. A atitude de Ana representa a missão do
povo de Deus. Quando o povo saiu do Egito devia “servir” a Deus. O
povo devia se apresentar diante de Deus para celebrar, mostrando a
santidade e a justiça. Na Assembleia de Siquém o povo proclama: “nós
serviremos o Senhor”; os cantos do Servo Sofredor do II Isaías
identificavam Israel como o servo do Senhor. Ana vivia no Templo de
Jerusalém servindo a Deus dia e noite, sinal da sua fidelidade à
Aliança. Ela canta a alegria, louva a Deus e fala bem do menino. No
capítulo 2 de Lucas, Jesus é chamado nove vezes de “menino”, o mesmo
número de vezes de Mateus 2. Nosso Deus se torna humano, um menino,
para que ninguém tenha medo. Assume nossa condição humana, nossa
fragilidade, demostrando sua humildade e correndo todos os riscos.
Lucas quer mostrar como estas pessoas piedosas são aquelas que
realmente cumprem a Lei do Senhor, na sua piedade popular e simples.
Muito diferente será a atitude dos fariseus e doutores da Lei. Quem
vive servindo a Deus cumpre a Lei e não aqueles que se julgam os
melhores por conhecerem todas as leis e mandamentos, mas que não o
praticam. A Sagrada Família retorna à cidade onde aconteceu o anúncio
do anjo a Maria. Nazaré significa ‘broto novo’ pequena cidade no
Norte, com aproximadamente 150 pessoas. Jesus retorna a Nazaré, onde
cumprirá a sua preparação silenciosa em família, em comunidade, junto
com seu povo. Jesus cresce como o grão de mostarda e como a Palavra.
Jesus crescerá em sabedoria, que é conhecimento da Lei e dos desígnus
do Senhor e em graça, que é a bondade e a benção de Deus. A Encarnação
continua na vida oculta da pequena comunidade de Nazaré. O exemplo do
velho Simeão e da profetiza Ana, pessoas justas e que esperaram contra
toda esperança, convida-nos a perseverar na fé, a sermos justos. Somos
levados a tomar o menino nos braços e apresentá-lo ao mundo como a boa
notícia de Deus. Não devemos ter vergonha da pobreza de Jesus, que se
fez pobre e humilde para nos salvar. Jesus primeiro se encarnou no
seio de uma jovem e se encarna silenciosamente no seio da comunidade,
na qual vai crescendo em sabedoria e graça. Em meio as turbulências do
mundo, somos convidados a participar de nossas comunidades e ali
servir e silenciosamente dar nosso testemunho. Seja fiel, ofereça o
Dízimo!