Padre Antônio Taliari
Jornalista (DRT 3847/SC)
Missionário em Rondônia, estudando em Curitiba/PR
MENSAGEM DO EVANGELHO
Neste, 4º Domingo do Tempo do Advento, o Evangelho de Lucas 1,26-38,
narra o nascimento de dois meninos que mudarão a História da
Humanidade. No primeiro anúncio, Deus mostra seu desejo de salvar a
humanidade, prometendo o nascimento de João Batista, o precursor do
Messias. No segundo anúncio, Deus intervêm de maneira direta na vida
de Maria, uma virgem nazarena. A ela faz o convite para participar de
seu plano salvador. O mistério da encarnação de Jesus só é possível
porque o amor de Deus se manifestou ao gênero humano. A iniciativa é
de Deus que, solidário às lutas e sofrimentos do humano, decide
fazer-se amor em uma linguagem profundamente humana. O termo ‘anjo’,
segundo suas raízes hebraicas, significa ‘mensageiros’. A figura de
Gabriel une céus e terra neste mistério de amor, já não há mais um
abismo entre Deus e as suas criaturas! O anjo é enviado ao pequeno
vilarejo Nazaré, com aproximadamente 150 habitantes, longe das grandes
rotas comerciais e sem importância. Segundo a religião tradicional da
época, acreditava-se que o lugar em que Deus habitava era o templo de
Jerusalém, construído sobre o monte Sião. Deus encontra braços que o
acolhem em uma pequena casa de pessoas simples, que vivem o drama e as
lutas diárias, mas mantém sua fé e capacidade de fazer o bem. Lucas
não usa a palavra ‘jovem’, ‘mulher’ ou variantes. Quer que todos
saibam a natureza de Maria: ela é uma virgem, prometida em casamento.
Saberão que o nascimento de Jesus passa pela acolhida humana de Maria
e é fruto de uma grande manifestação de Deus, que faz uma virgem
conceber. Ela e José se encaixam perfeitamente no caminho da promessa
por sua descendência: o Messias seria filho de Davi. A saudação do
anjo é um convite a toda a Igreja: Deus está próximo do homem, vai ao
encontro dele e concretiza seu plano de salvação. O sofrimento se
transforma em alegria! Os pobres e pequenos não estão mais cheios de
condenações, tristezas e desencantos, todos encontram graça diante de
Deus. Deus escolhe Maria para que esteja junto com as pessoas, para
fazer o amor nascer no meio da humanidade e contagiá-la desde dentro.
É Deus conosco! Esta é uma expressão que perpassa toda a Bíblia. Dá a
certeza de que o Senhor esta junto; é presença real e que não abandona
as pessoas que escolhe e chama. A ação de Deus, não é para castigar ou
desferir sua ira. Este acontecimento une a História da Salvação,
abraçando a humanidade com o amor de Deus. O medo, reação natural do
humano, é envolvido pela segurança de Deus, que se manifesta para
abençoar e salvar. Os pequenos, que vivem longe das seguranças da
religião instituição, encontra graça diante de Deus. O verbo grego
para ‘conhecer’ e seu correlato hebraico são um eufemismo para
referir-se à relação sexual. A expressão em forma negativa prepara o
anuncio de que o filho que vai nascer é de origem divina. Maria é
símbolo de toda a humanidade. Ela é vitima da Lei, diante de todos,
terá um filho origem desconhecida sendo já prometida em casamento.
Este gesto é símbolo da união amorosa de Deus com os homens,
representado pelo Espírito Santo que baixa do céu e a envolve, o poder
de Deus que a cobre com sua sombra. Deus definitivamente se une à
humanidade, os céus se encontram com a terra! A salvação é uma
iniciativa livre de Deus, que fez tudo para que o homem novamente se
encontre com seus braços de amor. Isabel, uma idosa estéril pode
conceber, do mesmo modo Maria uma virgem. A virgindade de Maria não é
uma condenação às relações sexuais e sim um sinal de que o movimento
salvífico é feito por Deus, pelas vias que só ele conhece, passando
pelo homem. Esta é a profundidade da acolhida de Maria, das
profundezas da criação, que se afastou dele pelo pecado, se levanta um
“sim” capaz de atrair Deus. Ela decide participar da História da
Salvação, pois seu coração está de acordo com a vontade de Deus. Neste
tempo do Advento e às vésperas do Natal, todas as pessoas são chamadas
a escutar a voz de Deus, que quer entrar em nossa história. O que nos
torna aptos não são meritocracias ou estruturas de poder. Somos
chamados pela iniciativa livre de Deus, que quer salvar a todos. Nos
mistérios da intervenção divina, a participação humana é peculiar: é
preciso querer participar de seu projeto e deixar-se moldar por sua
salvação. Isso é dizer “sim”! Seja fiel, ofereça o Dízimo!
MISSA DA VIGÍLIA DO NATAL
REFLEXÕES DO EVANGELHO
Nesta, Missa da Vigília do Natal, o Evangelho e Mateus 1,1-25, narra a
genealogia de Jesus. É a porta de entra para o Novo Testamento, o
Evangelho que melhor faz a ligação com o Antigo Testamento. Mateus
preocupa-se em enraizar Jesus de Nazaré na herança do povo escolhido
de Deus, Israel. A genealogia quer mostrar que Jesus é o Messias
prometido, é o descendente da estirpe de Davi. A promessa se realizou
e o Messias já chegou para concretizar o plano de Deus na história.
Gerar alguém é transmitir-lhe a imagem, a imagem de Deus, pelo sangue
ou pela adoção. Para apresentar a origem do homem que sobe
ressuscitado e está presente à sua Igreja até o fim dos tempos, Mateus
recorre ao gênero literário bíblico das genealogias: Jesus tem suas
raízes no povo eleito. Já no inicio, Mateus informa que Jesus Cristo é
da descendência de Davi. Se, cumprem as profecias que previam que o
Messias seria da tribo de Judá e da descendência de Davi. Mateus liga
Jesus à descendência de Abraão, o pai da fé. Diferente de Lucas, que
conduz a descendência de Jesus até Adão. Abraão e Davi representam os
dois pilares da fé e da história de Israel. Ambos foram chamados por
Deus para serem os fundadores de um povo e de uma dinastia. Foi esta
história que conduziu o povo até Jesus. Os nomes na genealogia estão
organizados em três grupos de 14 nomes cada. A história de Israel é
traçada desde o início com Abraão, passando pelo ponto alto com o rei
Davi e seu ponto baixo no exílio babilônico, até sua concretização em
Jesus Cristo. Esse número ‘quatorze’, repetido três vezes,
corresponde á soma do valor numérico das três consoantes que, em
hebraico, formam o nome de ‘David’. A presença das quatro mulheres
incomuns na genealogia de Cristo prepara o surpreendente nascimento de
Jesus em Mateus 1,18-25. Não só a ocorrência de nomes de mulheres em
uma genealogia judaica é incomum, como o que se conhece delas pelo
Antigo Testamento torna sua presença ainda mais surpreendente. Tamar
disfarçou-se de prostituta e concebeu os filhos de Judá, seu sogro.
Raab foi uma prostituta de Jericó que teve a vida poupada por causa de
sua colaboração com os espiões de Josué. A tradição de que era mãe de
Booz só se encontra em Mateus. Rute foi uma moabita que se ligou a
Israel por intermédio da família do marido. A “mulher de Urias” era
Bat-Sheba; o rei Davi vergonhosamente planejou a morte de seu marido
em combate e tomou-a por mulher. Quando fazemos as contas dos nomes da
última geração, do exílio na Babilônia até Cristo, um dado chama
atenção: não há 14 nomes e sim 13! Será que o evangelista errou? Esta
é uma maneira muito fina de mostrar que a história de Jesus passa por
Maria. Ela é o décimo quarto nome desta lista, porque não é possível
ler a história de Jesus sem passar por sua mãe. A genealogia
apresentada por Mateus não é uma lista enfadonha de 42 nomes, mas a
celebração de uma história conduzida por Deus até chegar ao ponto
máximo da revelação. As três etapas sussecivas desta história conduzem
até Jesus Cristo. Se o Evangelho começa olhando para o passado, o seu
final será indicado para o futuro, quando o Evangelho será anunciado a
todas as nações e Jesus estará conosco até o fim dos tempos. Somos
convidados a olhar para o passado: ver, conhecer, valorizar e celebrar
o que Deus fez conosco nesta bela história da salvação. A história é
conduzida por Deus e, na nossa história, Jesus é o Deus conosco,
sempre junto com seu povo e sua Igreja. Seja fiel, ofereça o Dízimo!
MISSA DA NOITE DO NATAL
REFLEXÕES DO EVANGELHO
Nesta, Missa da Noite do Natal, o Evangelho de Lucas 2,1-14, relata a
simplicidade do nascimento de Jesus. A grandeza de Deus se esconde na
sua humildade. Sem lugar na casa, resta-lhe a sensibilidade da gruta
ou da estrebaria. Seu berço: uma manjedoura. Um Deus pobre que se faz
servo, um Deus pastor que se faz cordeiro. O Altíssimo de se faz
pequeno. Este cenário de pobreza e indigência confirma a ação de Deus,
que exalta os humildes e que exultará ao ver os pequeninos acolherem a
boa nova. Em Lucas, os pastores, pessoas pobres e mal vistas, são os
primeiros que virão visitar e acolher o Messias. O Apóstolo Paulo
afirma: “Quando chegou a plenitude do Tempo, Deus enviou seu Filho ao
mundo, nascido de mulher”. Lucas situa esse tempo na história humano.
É o tempo de Herodes, do decreto de Cesar Augusto. Há uma outra
história que é a história de Deus. Enquanto a história oficial é
marcada pelos grandes da terra, a história de Deus se manifesta num
menino que nasce num ambiente pobre e cheio de vida e esperança. Maria
era de Nazaré, no norte de Israel. José era de Belém, mas estava
trabalhando no norte do país. Os fatos históricos, censo, fazem com
que o nascimento de Jesus aconteça em Belém. Com isso se cumpre a
profecia de Miqueias: “E tu, Belém, pequena cidade entre as clãs de
Judá, de ti sairá para mim aquele que governará Israel”. Belém
significa ‘casa do pão’. Em Belém nasceu Davi, o maior dos reis de
Israel e, segundo as expectativas, era de onde viria o Messias
esperado. Por duas vezes Lucas diz que o menino está envolto em
faixas. Sinal da simplicidade que demonstra a humanidade de Jesus. O
Papa Bento XVI, no terceiro volume do seu livro ‘Jesus de Nazaré’,
recorda que, na beleza do nascimento, está presente a paixão de Jesus.
No começo, as faixas, no final, o sudário que envolve o corpo de
Jesus. Três vezes é mencionada. Novamente, o sinal da pobreza de
Jesus. A manjedoura era o local onde os animais se alimentavam. O Papa
Bento XVI recorda que a manjedoura antecipa a doação de Jesus na mesa
da Eucaristia e no lenho da cruz. Diferente de Mateus, no qual são os
magos que visitam Jesus, em Lucas, são os pastores. Devido ao seu
trabalho com animais, os pastores eram considerados impuros. Eram mal
vistos pelo povo das cidades, tanto que nem podiam testemunhar num
tribuna. No meio da noite, eles estão em vigília. E foram eles os
escolhidos para serem as primeiras testemunhas do nascimento de Jesus.
Há um tempo em que se inicia e se realiza o projeto da salvação. Este
tempo é “hoje”. Este termo aparece dez vezes no Evangelho de Lucas. É
o ‘kairós’, o tempo da graça de Deus! São três títulos importantes
dados a Jesus no seu nascimento. Ele é o ‘Salvador’, título que os
romanos davam ao imperador. Já os judeus davam este titulo a Deus que
os havia libertado da escravidão do Egito. Outro titulo é ‘Cristo’, o
Messias, o Ungido, que Lucas dá a Jesus desde o inicio e que Pedro
confessará em Lucas 9,20 e o proclamará em Atos dos Apóstolos 2,36. O
terceiro é ‘Senhor’, é o ‘Kyrios’, que substitui o tetragrama YHWH, o
nome de Deus no Antigo Testamento, que Lucas já atribui a Jesus desde
o nascimento e pelo qual a Igreja o confessará mais tarde. Este menino
que nasceu na noite fria e escura, isso: Salvador, Messias e Divino.
Luz para o mundo! Uma grande, bela e nova liturgia é celebrada ao
redor do menino Jesus. A multidão dos anjos celestes celebra a
grandeza de Deus e o que Ele faz. “Glória a Deus nos céus”: é isso que
Deus merece por tudo que é e faz. “Paz na terra”: é o que mais
precisamos e necessitamos. É a plenitude do ‘Shalom’ que vem da parte
de Deus! Lucas indicou que há duas histórias. A história dos
poderosos, que não muda o mundo e não traz novidades para o povo. A
outra história é a intervenção de nosso Deus, de forma simples e
humilde. Nasceu o Salvador, que vem trazer alegria e esperança,
sobretudos aos que são excluídos por aqueles que fazem a história
‘oficial’. É a maior intervenção na história da salvação. Cabe a nós
conhecê-la com alegria, como os pastores que se puseram a caminho na
noite escura e foram ver Jesus. Cantemos alegres como os anjos,
louvando a Deus e sonhando com a paz aqui na terra! O “hoje” da
salvação acontece quando deixamos o Menino nascer em nossos corações!
Seja fiel, ofereça o Dízimo!