Padre Antônio Taliari
Jornalista (DRT 3847/SC)
Missionário em Rondônia, estudando em Curitiba/PR
MENSAGEM DO EVANGELHO
Neste, 20º Domingo do Tempo Comum, o Evangelho de Lucas 1,39-56, e da Celebração Litúrgica da Assunção de Nossa Senhora. Lucas narra o anúncio de dois nascimentos: de João Batista e de Jesus. O primeiro foi a Zacarias, no Templo de Jerusalém. O de Jesus foi a Maria, na pequena cidade de Nazaré. As duas grávidas vão se encontrar. Não é um encontro qualquer que Lucas quer relatar. São dois ventres grávidos que se encontram; duas mães, dois meninos. Antigo e Novo Testamento, o humano e o divino se encontram.
Maria exulta com seu canto de libertação, o ‘Magnificat’. Maria parte de Nazaré em direção à Judeia. Ela partiu como fez Abraão, como farão os pastores ao ouvir o anúncio do anjo, assim como Jesus fará mais adiante e depois a Igreja missionaria, que irá até os confins da terra. Colocar-se em viagem é um traço importante na obra de Lucas. Embora não cite o nome da cidade, o local é conhecido como ‘Ain Karem’, ‘fonte generosa’ ou ‘fonte do vinhedo’, distante cerca de cento e cinquenta quilômetros de Nazaré. Lucas não informa nada sobre esta viagem. Maria teria vindo a pé? Quem a acompanhou? Quanto tempo levou? Há um silêncio e um mistério nesta viagem, somente se diz que ela partiu apressadamente. Lucas não diz as palavras da saudação de Maria, mas com certeza foi ‘Shalom’!, esta saudação de paz, harmonia e plenitude com que os judeus se saudavam. Lucas prefere relatar o efeito da saudação: o menino pulou de alegria dentro do ventre de Isabel e ela ficou cheia do Espírito Santo. As pessoas que são beneficiadas ficam cheias, repletas, plenas do Espírito Santo: João Batista, Zacarias, Simeão, Jesus. Lucas quer indicar que o Espírito Santo será dado em abundancia, como mais tarde em Pentecostes.
O Espírito Santo vem do Pai, por meio de Jesus. Cheia do Espírito Santo, Isabel começa a falar e profetizar. Sua palavra é um grito de fé. Maria é saudada como bendita, o mesmo é dito do menino que esta em seu ventre. Outro tema muito caro para Lucas é o verbo ‘visitar’. Está no canto de Zacarias e é assim que o povo reconhece o milagre de Jesus em Naim: “Deus visitou o seu povo”. Jesus chora sobre a cidade de Jerusalém que não o acolheu quando foi “visitada”. Mesmo sem usar o verbo ‘visitar’, Lucas fala de Jesus “entrando na casa” de pessoas, como do fariseu, de Zaqueu etc. A alegria é outro tema importante em Lucas. Temos as três parábolas da alegria. Em Lucas 10,21 Jesus “exulta de alegria” ao ver que os pobres acolhem a boa notícia do Reino de Deus. Através de Isabel que profetiza, Maria torna-se bem-aventurada porque acreditou na Palavra do Senhor. Ela antecipou o que Jesus vai anunciar em Lucas 8,21 e Lucas 11,28: “Felizes os que ouvem a Palavra do Senhor e a observam”. O ‘Magnificat’ É uma das páginas mais belas das Sagradas Escrituras. É o canto daquela que acreditou na Palavra do Senhor e foi chamada de bendita e bem-aventurada. Um canto que resume todo o Antigo Testamento, especialmente o cântico de Ana e de diversos salmos.
Como estrutura, em primeiro lugar aparece o que o Senhor fez a Maria, em seguida, às multidões humildes e exploradas e a Israel, servo do Senhor. Maria canta a alegria da sua alma, que reconhece a grandeza do Senhor e tudo que Ele fez por ela e por seu povo. Ela, generosamente, respondeu seu “sim” e agora alegremente canta ao seu Senhor! O cântico inicia com o tempo presente e, antes de recordar o passado, projeta-se para o futuro: todas as gerações a recordarão como bem-aventurada. Não porque ela quer se exaltar, mas porque ela foi escolhida, acreditou e aceitou ser a mãe do Messias. Maria recorda as grandes coisas que o Senhor fez pelos pobres, humildes e que foram humilhados historicamente pelos projetos humanos dos poderosos. Por isso é que reconhece que Deus é o Onipotente e que seu Nome é Santo! A força e a potência de Deus se caracterizam pelo modo como Ele age: com amor e misericórdia. É assim que Deus agiu salvando o seu povo no passado e agora vindo em socorro dos pobres e famintos. O temor do Senhor não é o medo, como tantas vezes erroneamente é interpretado. O temor vem dos escritos sapienciais e significa a piedade e o respeito que se tem diante de Deus. O temor do Senhor é princípio de sabedoria. É a atitude de respeito diante do Criador manifestada pelo povo simples que coloca em Deus a sua vida e sua esperança.
A recordação dos fatos passados, daquilo que o Senhor fez pelo seu povo, sempre foi uma prática do judaísmo. Faz memória, recordar, não esquecer. Olhar para o passado era um consolo e um motivo de esperança. O acontecimento mais importante foi a libertação do povo da escravidão do Egito. Aquele que já fez, continuará realizando ações salvíficas em favor dos pequenos, contra os grandes e poderosos. O título de servo é muito importante para a Bíblia. O povo deve servir ao Senhor e ser libertado. Na Assembleia de Siquém o povo proclama: “nós serviremos o Senhor”; os cantos do Servo Sofredor do II Isaías identificavam Israel como o servo do Senhor. O cântico recorda um elemento importante da fé de Israel: as promessas que o Senhor havia feito aos nossos pais da fé. Estas promessas não falharam. O Senhor é aquele que promete e cumpre. Este Evangelho relata a beleza da visita e do encontro entre duas mães que celebram as maravilhas que Deus realiza em favor do seu povo. Maria foi chamada de bem-aventurada porque acreditou.
Tudo isso nos desafia a fazermos o mesmo: crer na Palavra de Deus, sairmos de nosso comodismo e irmos visitar e encontrar nossos irmãos levando a boa notícia de Jesus Cristo. Deus continua visitando seu povo, escolhendo os pobres e excluídos para transmitir-lhes a boa notícia do Reino de Deus. Com seu cântico, a jovem Maria nos ensina que devemos cantar as maravilhas que Deus fez e continua fazendo pelo seu povo. O conteúdo do cântico nos ensina a não esquecer a história, pois é olhando para o passado que temos a certeza que Deus continua salvando o seu povo e levando adiante a história da salvação. É fazendo memória que descobrimos que nosso Deus é misericordioso e nos ama. O ‘Magnificat’ nos convida a celebrar a vida cantando, recordando e seguindo em frente, servindo a Deus, como Maria.
Seja fiel, ofereça o Dízimo!