Uma clínica odontológica clandestina que funcionava há pelo menos dois anos em Campo Alegre, a 68 km de Joinville, no Norte catarinense, foi interditada nesta quarta-feira (16). Há indícios de que este tempo de funcionamento seja ainda maior. Luiz Benedito de Castro, de 65 anos, que se passava por dentista e seria proprietário do estabelecimento, foi preso em flagrante depois de uma investigação da Polícia Civil de São Bento do Sul. Ao menos 50 pacientes das duas cidades chegaram a ser atendidos na clínica ilegal nos últimos meses.
Depois de dois meses de apuração, a polícia deflagrou uma ação de busca e apreensão no consultório, localizado na Rua Victor Stachon, no bairro Fragosos. No endereço, foram encontrados um aparelho de raio-x, duas cadeiras odontológicas, além de cerca de 100 ampolas de medicamentos de uso exclusivo para médicos e dentistas. Foram recolhidos também materiais como seringas e agulhas.
Os atendimentos eram feitos pelo próprio suspeito, que é protético e usava o alvará de um dentista de Curitiba (PR) para exercer a função. O documento está vencido desde 2015 e a polícia ainda não sabe apontar o grau de participação do profissional no esquema.
Além de Castro, a polícia apurou que nas sextas-feiras e sábados, um sobrinho dele, que cursa o último ano de Odontologia em uma universidade de Curitiba (PR), também realizava atendimentos no local. Era dele a responsabilidade dos atendimentos mais complexos.
Busca e apreensão aconteceu nesta quarta-feira em clínica odontológica clandestina, em Campo Alegre, Norte catarinenseFoto: Polícia Civil / Divulgação
De acordo com o delegado responsável pelo caso, Odair Sobreira, os falsos dentistas chegavam a realizar procedimentos como restauração, limpeza, extração de dentes e até tratamento de canal.
— Essa posse de medicamentos exclusivos para uso de médicos e dentistas nos pacientes é a situação mais preocupante porque além da atividade ilegal exercida, havia o uso de medicamentos injetáveis nos pacientes_, explica.
Denúncia originou investigação
Delegado Odair Sobreira realizou investigação nos últimos dois meses depois que um homem denunciou o falso dentistaFoto: Salmo Duarte / A Noticia
O consultório clandestino foi descoberto por conta de uma denúncia feita por um homem que suspeitou das atitudes do suspeito durante uma consulta.
— Essa vítima relatou que foi até lá para fazer um orçamento e quando sentou na cadeira para avaliação dentária, ele veio em sua direção com uma seringa, pronto para aplicar anestesia neste paciente. Ele suspeitou e pensou 'que dentista faz isso?', e então nos procurou_, destaca o delegado.
Conforme Odair Sobreira, o advogado do idoso preso não estava listado no flagrante. O Jornal A Notícia não conseguiu contato com o representante legal de Luiz Benedito de Castro e abre espaço para que, devidamente identificado, possa expor a versão da defesa — Contato: (47) 3419-2100.
Desdobramentos
O espaço onde a clínica funcionava foi lacrado ainda na noite de quarta-feira e parte do material foi recolhido pela vigilância sanitária em um caminhão. O aparelho de raio-X e as caideiras de dentista serão retiradas do imóvel com o auxílio de técnicos especializados. Segundo a polícia, o estabelecimento atendia em condições precárias, mas contava com recepção, uma sala de espera e outras duas de atendimento.
Espaço onde a clínica funcionava foi lacrado ainda na quarta-feira e parte do material foi recolhido pela vigilância sanitáriaFoto: Salmo Duarte / A Noticia
Preso na Delegacia de Polícia da Comarca de São Bento do Sul, Castro permaneceu em silêncio durante interrogatório. O inquérito policial deve ser concluído em até 10 dias e ele deve responder por dois crimes contra a saúde pública: exercício irregular da profissão e posse de medicamentos exclusivos utilizados por médicos e dentistas sem a devida regulamentação sanitária. Se condenado pelos crimes, a pena nestes casos pode chegar a 15 anos de detenção.
O estudante suspeito de exercer a profissão irregularmente junto com o tio ainda não foi ouvido. Nos próximos dias os pacientes que tinham ficha cadastral no estabelecimento deverão ser notificados a depor. Não está descartada a possibilidade de enquadramento ao crime de associação criminosa, caso haja envolvimento do dentista de Curitiba no caso.
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