Padre Antônio Taliari
Jornalista (DRT 3847/SC)
Missionário em Rondônia, estudando em Curitiba/PR
Neste, 16º Domingo do tempo Comum, o Evangelho de Mateus 13,24-43, apresenta uma serie de parábolas após a do semeador, ensinando de maneira simples sobre o Reino dos Céus: A do joio no meio do trigo; A do grão de mostarda; A do punhado de fermento. Segue-se a elas um texto sobre a necessidade das parábolas, tudo terminando com a explicação da parábola do joio. A) Mateus faz questão de mostrar que tudo aquilo que sai da mão do semeador é bom. Virá surpresa na colheita: se tudo o que foi plantado foi bom, porque há fruto mal? O semeador teria plantado sementes ruins? O leitou de Mateus já pode saber a origem do mal: nunca vem do semeado, mas daqueles que estão contra ele. O inimigo não está só do lado de fora, mas vem causar confusão dentro do campo do semeador. O judeu conhece bem o trigo, e conhece bem o joio, abundante no Oriente Próximo, um tipo de trigo degenerado.
O joio era tóxico, porque nele frequentemente se desenvolvia um fungo. As duas plantas são muito semelhantes enquanto muda, mas no inicio do crescimento, suas folhas já se diferenciam. Os empregados querem ocupar o papel dos trabalhadores do campo e separar o joio do trigal. Querem seguir o plano natural da agricultura: retirar as plantas ruins, que servirão de alimento para os animais ou deixá-las intactas até o final da colheita do trigo. A resposta do semeador é inusitada. Não seguirá os padrões do plantio do mundo judaico. Sua preocupação não está no que foi plantado pelo inimigo, mas na semente boa que saiu de suas mãos. A obra de separação das sementes não será feita pelos servidores, mas por ceifadores. Isso é essencial para a compreensão da parábola, como veremos a seguir. A parábola vai levando o foco para a colheita, onde não haverá dúvidas sobre a natureza das plantas. Serão separados joio e trigo. O trigo irá para os celeiros do dono da plantação. O joio terá fim drástico: não servirá de alimento, mas será queimado.
Esse tipo de comparação era típico do judaísmo, que olhava para as nações estrangeiras e pensava que, no final dos tempos, elas seriam punidas por não se comportar de acordo com a Lei de Israel. Veremos que a interpretação materna provavelmente é diferente. B) A literatura judaica considera a mostarda negra como uma planta silvestre. O começo da parábola é curioso. Por que alguém vai semear somente uma semente de mostarda em seu campo? Tudo indica que a narração tem outro sentido. Os ouvintes da parábola devem ter ficado desconsertados. Estavam acostumados a escutar o Reino dos Céus ser comparado com um majestoso cedro, entre tantas outras imagens triunfantes que saem do Antigo Testamento. É típico do mundo judaico a imagem dos pássaros como os povos estrangeiros. Nos tempos messiânicos, eles viriam apreender a doutrina de Deus no Monte Sião, buscando refúgio na salvação dada por Deus. C) Mais uma comparação continua ensinando o que é o Reino dos Céus pregado por Jesus, usando uma imagem muito característica do povo da época, o fermento. O que geralmente traduz-se por ‘midtura’, no grego, aproxima-se mais de ‘esconder’.
A parábola não desenha um pão sovado, quer que os ouvintes notem que o fermento age sem que ninguém veja, às escondidas. Jesus mostra novamente que não está de arte culinária. A quantidade de farinha serviria para um pão de 50 kg! Um pouquinho de fermento tem a capacidade de fazer crescer muita, muita quantidade de massa. Jesus mostra o sentido de suas imagens para que as pessoas entrem no mistério do Reino dos Céus. Para fermentar o mundo, devem descobrir o fermento escondido, olhar para a pequena semente enterrada no campo. Devem mergulhar na verdade que Jesus mostra com sua vida e com sua pregação. É a escuta atenta, que traz as palavras, para dentro do coração, que faz de alguém verdadeiro discípulo missionário de Jesus, capaz de entrar no mistério do Reino dos Céus revelado aos pequenos. D) O Filho do Homem é Jesus, que anuncia a palavra do Reino dos Céus. A Palavra é Ele, que se torna sinal definitivo ao tornar-se semente sepultada por três dias no coração da terra. São os filhos do Reino dos Céus, aqueles que escutam a Palavra com o coração belo e bom e dão fruto. Nas comunidades maternas, havia muita competição e conflitos. Eram comunidades mistas, com cristãos vindos de muitas partes e alguns grupos, os que tinha origem judaica, tentavam dominar os demais. Não é a origem de alguém ou cargo que ocupa na comunidade que demostra se pertence ou não a Deus. Os filhos de Deus são aqueles que mostram, com seus frutos, com sua vida, que são dignos de estar no celeiro do Pai.
Nos tornamos, filhos de quem nós escutamos. Quem escuta a Palavra, torna-se filho de Deus; quem dá ouvidos ao Maligno, que ‘troca’ a Palavra de Deus por uma bonita mentira, não se comporta como membro do Reino dos Céus. Significa ‘divisor, ‘divididor’. Seu propósito e intento é dividir o humano da Palavra. Ele o faz com a mentira. Ele rouba a verdade do homem, que está na Palavra. É o julgamento de Deus, no final dos tempos. Seria uma bonita colheita para aqueles que vão para os celeiros de Deus, cheio de alegria e fartura. Para os membros da comunidade que queriam dominar, filhos da mentira, receberiam a consequência das suas más ações. Mateus ensina que o mal tem consequências! Os justos perseguidos e que sofrem devem encher-se de esperança. Deus fará o juízo, por meio dos seus anjos, que significa ‘mensageiros’. O tempo presente é o da paciência, nossa, dos outros e de Deus, para que possamos chegar à conversão e à salvação. A parábola do joio nos ensina que a Palavra sempre encontra obstáculos, que atrapalham ou impedem seu desenvolvimento. A nossa vida e a vida do mundo são um campo de batalha: onde Deus semeia o bem, o inimigo semeia o mal dentro de nossa comunidade. Devemos lutar para arrancar o mal em nós e nos outros. O triunfo definitivo do bem será no fim, por obra de Deus.
É tempo da paciência, compreendendo que a Igreja não é uma reunião de perfeitos, mas casa de todos. Deus permite que o joio para nós O conhecermos como graça; tornamo-nos filhos que recebem e dão amor gratuito! Resta só o amor, que nunca terá fim. A palha do nosso egoísmo será queimada; só o que é precioso resistirá. É preciso viver o presente com responsabilidade em relação ao tempo e com misericórdia em relação aos irmãos! As parábolas do grão de mostarda e a do fermento misturado na massa nos convidam a abrir o coração para Deus, que fala conosco diariamente e nos convida a entrar em seu mistério. A fé não pode ser vivida somente quando tudo vai bem e a religião é triunfante e poderosa. Quando, no meio dos problemas humanos, gente de bom coração luta para fazer o bem, o esforço pequeno como o grão de mostarda ou escondido como o fermento sempre têm como resposta a ação amorosa de Deus, que transforma todas as maldades!
Seja fiel, ofereça o Dízimo!