Entre as tradições trazidas pelos imigrantes poloneses e ucranianos a Itaiópolis, no Norte Catarinense, o cultivo da tatarca continua vivo graças ao esforço dos produtores em parceria com a Epagri. A semente, também conhecida como trigo-mourisco, rhétcta ou trigo-sarraceno (Fagopyrum esculentum), fez parte da dieta dos primeiros colonizadores e ainda hoje está na alimentação e na cultura dos descendentes.
O resgate dessa tradição começou em 2011, quando a Epagri se aliou às famílias rurais de Itaiópolis para difundir o uso da tatarca e abrir novos mercados. Desde então, a Empresa oferece apoio para o cultivo, o processamento artesanal e a venda da semente, e também atua no levantamento histórico, cultural e gastronômico.
Hoje, oito famílias cultivam a tatarca em 22ha de lavouras. O esforço para abrir canais de comercialização já consolidou as vendas na região, por isso a semente vem sendo cultivada tanto para a subsistência quanto para incrementar a renda dos produtores.
Na lavoura, a tatarca pode ser usada para fazer rotação de culturas como soja, fumo, milho, feijão e olerícolas. Também é usada como cobertura do solo, forragem para os animais e na apicultura, pois suas flores atraem as abelhas que usam o néctar para produzir um mel escuro, de aroma forte.
Mas o uso desse alimento na culinária típica é o que mais motiva os agricultores a investir no plantio. Em Itaiópolis há diversas colônias de poloneses e ucranianos e é justamente no meio rural que essa tradição é mais forte. Pratos como holuptchi, tatarca cozida, quadradinhos e sopa de rhétcta ou tatarca são as receitas mais populares. A farinha não contém glúten e pode ser usada em panquecas e pães.
Em 2015, a Epagri lançou boletim didático Receitas com tatarca. A publicação mostra um pouco da história e da importância desse alimento em Itaiópolis, além de apresentar oito receitas, algumas tradicionais dos primeiros imigrantes. O material tem ajudado na divulgação da tatarca, tanto que pessoas de todo o País já buscam sementes.
Herança que dá dinheiro
Família Bossi se sustenta com o cultivo do grão
O agricultor Davi Bossi, de 53 anos, é o maior produtor de tatarca de Itaiópolis. Ele vive com a esposa Maria e dois dos três filhos em uma propriedade de cerca de 30ha no distrito de Itaió. Dividindo ou revezando espaço com culturas como melancia, fumo, milho e soja, a família, descendente de ucranianos, sempre plantou tatarca, um costume que foi herdado dos pais e dos avós.
“Nunca faltou tatarca em casa e eu estou seguindo a tradição”, diz Davi. Nas refeições da família, o grão dá sabor a sopas, acompanha galinha caipira e também é consumido com leite. Outro prato que faz sucesso é o alusque ou holuptchi, feito com tatarca, arroz, carne moída, linguiça, molho de tomate e temperos.
Antes de receber o apoio da Epagri, a família cultivava tatarca apenas para consumo próprio. “Era como arroz, tinha em todas as casas. Fiquei muito feliz e satisfeito em poder produzir para vender. O retorno é muito bom e a procura é grande”, conta Davi.
Hoje a família planta cerca de 8ha de tatarca e colhe 15t por ano. O faturamento alcança R$5 mil por hectare para a semente vendida sem casca. O produto é vendido para municípios do Planalto Norte e também do Paraná. “A gente descasca e embala para vender. Investi em máquinas e agora consigo descascar 250kg de tatarca por hora. Agora quero melhorar a embalagem e colocar código de barras para poder vender para grandes mercados”, conta o agricultor.