A Polícia Civil de Rio Negrinho, no Planalto Norte, denunciou à Justiça nesta semana dois vereadores e um empresário da cidade por formação de cartel e corrupção passiva e ativa. A denúncia foi tema de reportagem que foi ao ar no Jornal do Almoço, daRBSTV de Joinville, nesta terça-feira.
À repórter Cinthia Raasch, o delegado Gustavo Muniz Siqueira disse que a investigação começou com a denúncia de que o vereador retirava cestas básicas de um mercado da cidade pagas com cheques da funerária. Os alimentos eram retirados mensalmente pelo vereador e vice-presidente da Câmara, Cleomar José Nicoleti, do PMDB.
– Ouvimos funcionários do mercado e eles confirmaram que todo mês era depositado valor na conta do mercado para que fosse retirado por esse vereador. Via de regra, eram cestas básicas para eleitores e, eventualmente, o valor em dinheiro – disse o delegado, que já enviou o inquérito ao Ministério Público de Santa Catarina (MPSC).
Para a polícia, as duas funerárias que atuavam na cidade até o começo do ano eram do mesmo dono e, por meio da compra do apoio político, tentavam impedir que outra empresa entrasse na cidade. O delegado juntou à investigação vídeos em que o vereador manifestava a importância de a cidade ter um processo de licitação para as concessões, o que deixou de acontecer depois que os valores foram repassados a ele por uma das funerárias.
Na investigação, a Polícia Civil chegou ao presidente da Câmara, Artemio Corrêa, também do PMDB. Ele teria recebido 600 rosas de uma das funerárias para distribuir a eleitores no Dia das Mães, durante uma missa. A investigação também aponta que uma das duas funerárias estava no nome de um laranja.
A Prefeitura chegou a abrir a concorrência para o serviço funerário na cidade, em setembro, mas, por problemas na documentação das interessadas, o processo foi anulado. Nenhum dos vereadores denunciados concorreu na eleição de outubro.
Depois da investigação, uma das funerárias fechou e parte da construção foi demolida. A polícia suspeita que no local nunca tenha sido feito preparo de corpos. A funerária Rio Negrinho chegou a ser interditada por falta de destino correto aos restos mortais.
CONTRAPONTOS
O presidente da Câmara, Artemio Corrêa, admitiu ter recebido as flores para distribuir no Dia das Mães, mas negou qualquer irregularidade. Segundo ele, o delegado da Polícia Civil fez o papel dele ao incluir seu nome no inquérito, já que ele foi citado, porém, diz ter convicção de que não deve nada. Ele disse também que pagou posteriormente pelas rosas.
— Eu não devo nada. Estou tranquilo — disse.
O vereador Cleomar José Nicoleti não foi encontrado para falar sobre o inquérito. O celular dele está desligado, e na Câmara a informação é de que ele não estava no gabinete.
O empresário Carlos Alfredo Franco Stephan disse que comprou uma das funerárias e que a outra, dos mesmos donos anteriores, teria muitas dívidas e que, por isso, não foi adquirida. Ele admitiu ter feito doações aos vereadores, mas negou que recebesse qualquer apoio em troca.
— É muito comum em cidades do interior as empresas fazerem doações. Às vezes, emprestamos cadeira de rodas, muletas.