A proliferação das algas do gênero Dinophysis, que produzem toxinas, é uma das maiores no litoral catarinense desde 2007, quando começou o monitoramento dessas espécies, segundo o Laboratório Oficial de Análise de Resíduos e Contaminantes em Recursos Pesqueiros (Laqua), ligado ao Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Por causa dessas toxinas, que podem causar intoxicação alimentar em seres humanos, áreas de cultivo de ostras, mexilhões, vieiras e berbigões estão preventivamente interditadas em todo o litoral catarinense, informou a Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca na quinta (26). Com isso, a retirada, a comercialização e o consumo desses moluscos está proibida no estado até que a situação se normalize.
"Este ano está aparentando, desde que nós iniciamos o monitoramento, ser maior em extensão e intensidade. Esse está parecendo o de maior abrangência, no estado todo", afirmou o professor Luís Antônio Proença, um dos coordenadores do Laqua.
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Para os maricultores, é preciso esperar. "Como é um fenômeno natural, o que se faz é aguardar que as algas não estejam mais na água. Isso acontece com o tempo", explicou o professor.
Não há previsão de quando o cultivo será liberado. "Neste caso de evento muito extenso, não arriscaria uma estimativa", disse o professor.
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interditadas (Foto: Divulgação)
Água com nutrientes
A hipótese do laboratório é que água vinda do Sul do Brasil tenha trazido nutrientes que servem de alimentos para as algas que produzem a toxina. "A água que vem do Sul é uma corrente junto à costa", disse o professor.
Além das algas, essas condições oceanográficas também influenciam na população de outros organismos marinhos, como as tainhas, que vêm sendo capturadas em toneladas pelos pescadores catarinenses.
Camarões e peixes liberados
Porém, o professor enfatizou que os problemas com as algas atingem apenas os moluscos, que se alimentam delas. Por isso, as pessoas que se alimentarem deles podem ter diarreia, náuseas, vômitos e dores abdominais.
"Pode consumir camarão, siri, peixes", afirmou o professor. Ele também destacou que o problema das algas não atinge somente os mariscos de cultivo, mas também aqueles retirados de costões.
(Foto: Divulgação/Epagri)
Monitoramento
O monitoramento da presença dessas algas no litoral catarinense é realizado o ano todo. "Nossos estudos indicam que não há uma época do ano que seja mais propensa [à proliferação]", explicou o professor.
Os testes são feitos em cada área importante para a maricultura de forma intercalada. É feita uma coleta em um ponto da área e, na semana seguinte, em outro ponto.
As amostras da água são retiradas por agentes da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) e enviadas ao laboratório. Os resultados são publicados no site da Cidasc.
Agora que foi constatada a presença das algas que produzem toxina, aumentam o número de testes. "Existe o protocolo, uma portaria do Ministério [da Agricultura, Pecuária e Abastecimento] de amostragem e manejo. No caso, a gente aumenta a frequência [de testes] para ver quando pode liberar", explicou o professor.
Os testes são feitos a cada dois dias. "Não adianta fazer testes diários, tem que esperar no mínimo 48 horas". Esse tempo é para que possa haver mudança nas condições climáticas e oceanográficas que influenciam na proliferação da água", explicou.
Restaurantes
O presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Fabio Queiroz, afirmou que a interdição influencia nos estabelecimentos.
"Eu tenho um evento aqui que teria um prato que seria de ostra, substituí por outra opção", disse. "Afeta um pouco mais os restaurantes que servem a ostra fresca", complementou.
Porém, ele vê a interdição como uma forma de segurança para o consumidor. "Isso acontece. Não deixa de ser uma forma para o consumo de ostras ser seguro. Existe um controle periódico", disse.
Interdição
Segundo a Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca, exames laboratoriais feitos nos últimos dias detectaram a presença da toxina diarreica na localidade da Caieira da Barra do Sul, em Florianópolis, e alta contagem de algas produtoras dessas toxinas nas localidades de Enseada do Brito, em Palhoça, Ganchos de Fora, em Governador Celso Ramos, ambas na Grande Florianópolis, e Laranjeiras, em Balneário Camboriú, no Litoral Norte.
A expectativa é de que as toxinas desapareçam em alguns dias e que isso não gere prejuízo financeiro para os maricultores, informou a pasta. O G1 entrou em contato com a Associação Catarinense de Aquicultura, e aguarda retorno.
Os últimos episódios de toxinas no litoral catarinense ocorreram em 2014, 2008 e 2007.
Maior produtor do país
Atualmente, Santa Catarina é responsável por 95% da produção de todos os moluscos consumidos no Brasil. Em 2014, foram 21.553,6 toneladas. O governo calcula que o lucro anual total dos produtores catarinenses seja equivalente a R$ 70 milhões.
A capital catarinense é considerada a maior produtora de ostras, com 2.700 toneladas, bem como de vieiras, 20 toneladas. Já Palhoça detém a maior produção de mexilhões, com 12.600 toneladas.