Padre Antônio Taliari
Jornalista (DRT 3847/SC)
Missionário em Rondônia, estudando em Curitiba/PR
Neste 1º Domingo do Tempo da Quaresma, o Evangelho de Lucas 4,1-13, na tradição que vai de Jesus aos Evangelhos, a narração serve para ilustrar o messianismo de Jesus, mostrando como ele se recusa a assumir o poder político, a fazer um milagre que obrigasse seus ouvintes crer nele e a seguir um caminho que evitasse a cruz para trazer o Reino de Deus acontecer: o ministério de Jesus foi todo tentação, do início ao fim. Já nos Evangelhos, o relato das tentações tem um valor programático mais amplo, mostrando o significado salvífico do ministério de Jesus à luz da totalidade da história da salvação. Depois do batismo, que corresponde à passagem do Mar Vermelho, Jesus percorre no deserto o caminho de Israel; enquanto todo o povo sucumbiu às tentações e morreu, Jesus supera-as e abre a passagem para a terra prometida, para o Reino de Deus. Ainda que Jesus tenha sido tentado ao longo de toda a sua existência, as tentações têm uma conexão toda particular com o batismo. O batismo sinaliza e contém a opção fundamental de Jesus: a solidariedade com os irmãos, em obediência ao Pai. As tentações mostram, sob a forma de luta contra a opção contrária, os custos desta escolha. A escolha contrária consiste em buscar o poder de qualquer tipo e a qualquer custo, ‘para fazer o bem’! O problema é que o poder colide com a solidariedade com os irmãos e com a obediência ao Pai. Os Evangelhos das tentações mostram quanto pecamos ‘para fazer o bem’, de modo que, vendo nossas quedas, levantamos. Se, erramos o alvo, temos que fazer um sério discernimento e a escolha certa: entre poder e servir; entre aparecer e desaparecer. A escolha vital custa toda a vida: podemos cair e caímos. Cada um dos evangelistas encerram as tentações sob uma ótica particular. Marcos mostra Jesus como novo Adão. Lucas, na sua vitória pascal sobre o inimigo, “satanás”. Mateus, como novo Israel. Essa vitória se dá nos exorcismos, nos milagres e na paixão. Revela-se o Filho em que o Pai se compraz: é o Filho obediente à sua palavra, que venceu o mal e criou na história um espaço livre do poder do mal, no qual todos os homens podem ser salvos. Se, para Israel, as tentações foram espaço de perdição, para Jesus, as mesmas tentações tornam-se promessa de salvação graças àquele que as venceu. O ‘domínio de satanás’ sobre os homens foi vencido por Jesus. Em Jesus, a pessoa de fé passa como que através de uma porta estreita e entra no ‘aqui e agora’ da salvação. Ele não venceu só no passado; pela força do Espírito Santo, ele vence ainda, na fé do discípulo missionário que o ouvem para serem salvos. As tentações são o tecido do dia-a-dia da vida cristã: são a luta necessária contra o mal e os custos que o bem acarreta. Ruins em si, têm um lado positivo: é um sinal de que ‘estamos’ no mundo, mas não ‘somos’ do mundo, ‘pertencemos’ ao Senhor Jesus. O poder único inicial do demônio é roubar a Palavra. Mas, se o espantamos, como se espantam as pombas amargosas, e obedecemos, como Jesus, a Palavra penetra na terra da nossa vida e produz frutos de salvação. É justamente por isso que ele tenta, por no meio da tribulação para que caia na falta de confiança. Quando não consegue esmorecer a pessoa, tenta sufocar a Palavra, alimentando preocupações com a riqueza e os prazeres, que são seus cúmplices no jogo de sedução visando a empurrar o ser humano para a desobediência. De acordo com os Evangelhos, as tentações experimentadas por Jesus não são de ordem moral. São abordagens nas quais se lhe propõem maneiras de entender e viver a sua missão. A reação dele serve de modelo para o nosso comportamento moral, mas nos alerta para não desviarmos da missão que Jesus confiou a seus discípulos missionários.
15/02/16 – Seg: Lv 19,1-2.11-18 – Sl 18 – Mt 25,31-46
16/02/16 – Ter: Is 55,10-11 – Sl 33 – Mt 6,7-15
17/02/16 – Qua: Jr 3,1-10 – Sl 50 – Lc 11,29-32
18/02/16 – Qui: Est 4,n.p-r.aa-bb.gg-hh – Sl 137 – Mt 7,7-12
19/02/16 – Sex: Ez 18,21-28 – Sl 129 – Mt 5,20-26
20/02/16 – Sáb: Dt 26,16-19 – Sl 118 – Mt 5,43-48
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