RIO - O Papa Francisco reconheceu, nesta quarta-feira, que a separação, em alguns casos, “é inevitável” e até mesmo “moralmente necessária”, sobretudo quando há violência na relação entre marido e mulher, em um sinal de abertura do conceito contemporâneo de família.
— Há casos em que a separação é inevitável, às vezes, moralmente necessária, para afastar os filhos da violência e da exploração e até da indiferença ou do isolamento — afirmou o líder da Igreja Católica aos milhares de peregrinos que participaram da audiência geral na Praça de São Pedro. — Oremos ao Senhor para pedir fé para vermos a realidade com os olhos do Senhor.
A mensagem do Papa chega um dia depois do Vaticano apresentar o documento que guiará, em outubro, o Sínodo dedicado à família, com a presença de bispos de todo o mundo, que se propõe a debater sobre “os divorciados e as famílias com filhos gays”.
O papa falou sobre as “profundas feridas” provocadas pela separação nas crianças.
A reflexão é parte dos debates acalorados que os bispos vêm tendo há mais de um ano sobre como a Igreja católica deve enfrentar os desafios da família contemporânea, especialmente a espinhosa questão de autorizar a comunhão para divorciados que desejam se casar novamente.
A Santa Sé revelou que foi alcançado um “acordo” para propor um “caminho”, sob a autoridade dos bispos, para reintegrar os católicos divorciados que desejam se casar novamente à Igreja Católica, o que tem sido considerado um sinal de abertura.
O próprio Papa Francisco afirmou, em fevereiro, que os casais que fracassaram em manter o matrimônio não devem ser condenados.
— Quando o amor fracassa, e fracassa muitas vezes, devemos sentir a dor desse fracasso, acompanhar a pessoa que tenha sentido o fracasso de seu amor — afirmou o Papa durante uma missa no Vaticano, em fevereiro. — Não devemos condená-los. É preciso caminhar com eles. Devemos ficar perto dos irmãos e irmãs que sofreram o fracasso do amor em suas vidas.
Pouco antes, o jornal argentino “La Nación” havia publicado uma entrevista na qual o Papa Francisco lembrava seus fiéis de que pessoas divorciadas que voltam a se casar não estão excomungadas, apenas não podem receber a comunhão na missa.
O reconhecimento da nulidade do matrimônio religioso em caso de divórcio civil é um dos maiores motivos de discórdia entre representantes de alas conservadoras e progressistas da Igreja Católica. Considerado conservador nas suas posições, o arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, afirmou, em entrevista ao GLOBO, em outubro do ano passado que há uma perspectiva de mudança na discussão do tema.
— Há o desejo de simplificar e agilizar os processos de reconhecimento da nulidade matrimonial. Nisso poderá haver mudanças nos próximos anos — declarou o cardeal à época.
A declaração de Dom Odilo segue a linha da ‘relatio ante disceptationem’ (relatório precedente ao debate), apresentada pelo cardeal húngaro Peter Erdo, Presidente-delegado do Sínodo do ano passado. No documento, é sugerida a hipótese de que, em certos casos, o próprio bispo diocesano possa formular uma declaração de nulidade matrimonial, em via extrajudicial. Atualmente, a igreja considera o casamento indissolúvel, e pessoas divorciadas ou casadas mais de uma vez (exceto em casos de viuvez) não podem receber os sacramentos, como eucaristia e reconciliação.
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