De um lado, a morte de um rapaz de 32 anos. Do outro, um homem de 29 anos com uma doença irreversível no coração. Anderson Carneiro, de Blumenau, recebeu no dia 24 de julho de 2013 o coração de Jaderson Marcel Ferreira, de Guaramirim, que morreu dois dias antes em um acidente de trânsito. Um ano depois, Anderson foi a Guaramirim conhecer a mãe do homem que salvou sua vida, Maria Alvina. O encontro foi neste domingo.
O nome de Anderson era conhecido da família Hackbarth desde o ano passado. Cerca de 15 dias após morte de Jaderson e a doação dos órgãos, um irmão viu em um jornal a notícia sobre um jovem que recebeu um transplante de coração. A proximidade de datas chamou atenção e o nome foi procurado no Facebook. Por meses, a família de Jaderson acompanhou pela internet a recuperação de Anderson.
Aproximação
Neste ano, a cunhada de Maria, Salete Hackbarth, tomou a iniciativa de conversar com Anderson. Apresentou-se pela rede social e perguntou se Anderson gostaria de conhecer a família; ele aceitou na hora.
Após três noites sem sono, Maria esperava ansiosa. Ainda marcada pela dor da perda do caçula, ela mal sabia descrever a sensação de reencontrar o coração de seu filho garantindo a vida de outra pessoa.
– É uma semana difícil, pois completa um ano e a história volta à memória: o sofrimento, o hospital, a notícia do médico. Estava lá, escutando o coração dele bater, mas já não tinha vida. Agora vou escutar o coração do meu filho de novo.
Era por volta de 14 horas quando Anderson chegou com familiares e flores. Ele abraçou Maria, que logo pousou a mão sobre o lado esquerdo do peito do rapaz.
– Rezo todas as noites por esse coração – confessou ela.
– Hoje, toda a família tem um olhar diferente sobre doação. Estou feliz, pois sei que você está cuidando muito deste coração. Sei que você quer viver, e era disso que o Jaderson gostava. Ganhei um filho, que tem o coração de meu filho – disse Maria ao olhar para Anderson.
Da doença à operação
Em 18 de janeiro de 2012, Anderson Carneiro sentiu um forte cansaço, primeiro sintoma da doença que iria marcar seus próximos anos. Procurou um médico e foi internado no mesmo dia. Foram 36 dias no hospital e o diagnóstico de miocardite, inflamação que causa dilatação no miocárdio, causada em Anderson por uma bactéria. Em dezembro, ele entrou para a lista de transplante de coração. Sete meses depois, fez a cirurgia de cinco horas e meia que salvou sua vida.
– Sou muito grato pela chance de viver de novo – disse.
Decisão foi difícil, mas deu felicidade
A opção pela doação dos órgãos de Jaderson não foi simples para Maria Alvina e família. Sem ter escutado do jovem o desejo pela doação, a mãe temia por aceitar algo de que se arrependesse depois.
– Eram 19h40 quando o médico deu a notícia da morte e tudo escureceu para mim. Na hora, não queria saber de doação, queria apenas meu filho vivo – lembra Maria.
Ela pediu a noite para pensar e foi para casa. Lá, recebeu a visita de uma colega de trabalho de Jaderson. A moça havia conversado com ele dias antes e o ouviu falar sobre o desejo de ser doador. Pela manhã, outro amigo de Jaderson contou sobre conversas parecidas.
– Sentia no meu coração que devia doar, mas tinha receio. Quando eles me contaram, foi como se confirmassem o que eu sentia.
O coração, as córneas, o fígado e os rins de Jaderson foram doados. Foi autorizada a doação dos pulmões, mas problemas logísticos impediram o procedimento.
– Fico feliz por saber que antes de partir ele deixou outras pessoas felizes. A gente dar vida para outras pessoas é um gesto bonito, né?