Padre Antônio Taliari
Jornalista (DRT 3847/SC)
Missionário em Rondônia, estudando em Curitiba/PR
Neste Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, o Evangelho de Mateus, tem como prelúdio a unção de Betânia Mt 26,1-6 e como conclusão o sepultamento de Jesus Mt 27,57-66. Sua simples leitura ou escuta constitui uma catequese sobre os últimos dias de Jesus e sobre o sentido que ele deu à sua morte na Cruz. O silêncio com que se ouve o texto na Liturgia parece a melhor atitude. Mas é sempre possível retê-lo e meditá-lo. Podemos dividi-lo em onze partes: a unção de Betânia; a Última Ceia; a oração de Jesus no Getsêmani; a prisão de Jesus; Jesus diante do Sumo Sacerdote; a negação de Pedro; o enforcamento de Judas; Jesus diante de Pilatos; a coroação de Jesus pelos soldados; a morte de Jesus e seu sepultamento. Não podemos nos deter em todo o texto, vamos nos concentrar num tema que percorre toda a história da Paixão: o tema da ‘entrega’. A entrega pode ser a palavra fundamental da Paixão. Em latim, o verbo é ‘tradere’, que significa dar, entregar, transmitir, passar, comunicar. Provém de ‘trans-dare’, que que é uma contração, e passa a ideia de ‘dar uma mão a outra’, passando assim de mão em mão, algo pra frente. O radical ‘trad’ está presente em inúmeros verbos e substantivos latinos e, portanto, também portugueses: ‘tradens’, traidor; ‘traditus’, dado, entregue; ‘traduco’, transferir, transpassar, transportar; ‘traductio’, transladação, passagem de um lugar a outro; ‘traductor’, o que faz passar; ‘traductus’, a passagem. O meu dicionário não esgota todas as possibilidades de ‘tradere’. Na Paixão, Judas entrega Jesus aos sumos sacerdotes: “O que me dareis se eu o entregar? E a partir disso, ele procurava uma oportunidade para entregá-lo”. Na Ceia, Jesus chama a atenção para este fato: “O que come comigo e põe a mão no prato, esse me entregará. Ai daquele homem por quem o Filho do Homem for entregue”! Na Ceia, o verbo ‘tradere’ não é usado, mas Jesus entregou, dar distribuir, seu corpo e seu sangue no simbolismo do pão e do vinho. No Getsêmani, aos discípulos missionários solenemente ele diz que “a hora está chegando e o Filho do Homem está sendo entregue às mãos dos pecadores” e que o “traidor está chegando”. Os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo entregaram Jesus ao governador Pilatos. O governador, depois de açoitar Jesus, “entregou-o para que fosse crucificado”. Finalmente, Jesus, “tornando a dar um grande grito, entregou o espírito”. Atendendo ao pedido de José de Arimateia, Pilatos entrega-lhe o corpo de Jesus para que o sepulte. Temos aqui, de um lado, a entrega que uma série de pessoas, grupos e instituições fazem de Jesus; do outro lado, a entrega que Jesus faz de si mesmo. Jesus é entregue por seus irmãos, mas, mais radicalmente, ele mesmo é que se entrega. No Evangelho de João, essa atitude de Jesus é claramente explicitada: “Minha vida ninguém a tira de mim, mas eu a dou livremente”. O próprio Jesus se entrega nas mãos dos irmãos: é uma entrega de si mesmo, até dar a vida. Na verdade, a entrega de Jesus deve ser inserida na entrega que o Pai faz de seu próprio filho: “O Pai amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigênito”. Finalmente, depois do grito de confiança no desespero, “Meu Deus, meu Deus”, Jesus gritou com o pouco de forças que lhe restavam e “entregou o espírito”. Se o primeiro é o grito da nossa morte urlada diante do Pai, este é a voz poderosa da Palavra criadora. A voz portenta da Palavra criadora se expande nas trevas e cria a vida.
14/04/14 – Seg: Is 42,1-7 – Sl 26 – Jo 12,1-11
15/04/14 – Ter: Is 49,1-6 – Sl 70 – Jo 13,21-33.36-38
16/04/14 – Qua: Is 50,4-9a – Sl 68 – Mt 26,14-25
17/04/14 – Qui: Ex 12,1-8.11-14 – Sl 115 – 1Cor 11,23-26 – Jo 13,1-15
18/04/14 – Sex: Is 52,13-53,12 – Sl 30 – Hb 4,14-16; 4,7-9 – Jo 18,1-19,42
19/04/14 – Sáb: Gn 1,1.26-31a – Sl 32 – Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18 – Sl 15 – Ex14,15-15,1 – (Ex 15) – Is 54,5-14 – Sl 29 – Is 55,1-11 – (Is 12) – Br 3,9-15.32-4,4 – Sl 18 – Ez 36,16-17a.18-28 – Sl 41 – Rom 6,3-11 – Sl 117 – Mt 28,1-10
Seja um participante fiel, na sua Igreja, ofereça o Dízimo!