
Preso por suspeita de envolvimento na morte do filho Bernardo, de 11 anos, o médico cirurgião Leandro Boldrini era um "pai desleixado", segundo o primo dele e advogado Andrigo Rebelato, que ficará responsável pela defesa no processo que investiga o caso. O garoto, dado como desaparecido em 4 de abril, foi encontrado enterrado em uma cova na cidade de Frederico Westphalen, no norte do Rio Grande do Sul, na segunda-feira (14).
"Ele era um pai desleixado e dominado por mulheres", afirma o primo. Entretanto, ele acredita na inocência do médico. "Vamos descobrir. Estou chegando agora, conhecendo o caso. Quero tentar entender o que aconteceu. Não imagino que ele tenha feito uma coisa dessas" disse ao G1. "Como parte da família, estou muito chocado e muito abalado", resumiu o advogado.
O atestado de óbito do menino diz que a morte dele ocorreu no dia 4 de abril de “forma violenta”. Segundo o documento, o corpo foi encontrado "em adiantado estado de putrefação". “Isso quer dizer que o registro de ocorrência de desaparecimento que o pai diz ter feito ocorreu após a morte do menino”, disse ao G1 o advogado Marlon Taborda, contratado pela avó materna da criança, Jussara Uglione, 78 anos.
De acordo com a Polícia Civil, o garoto foi morto com uma injeção letal, o que ainda deverá ser confirmado pela perícia. A investigação também vai apurar se a criança foi dopada antes de morrer.
A criança morava com o pai, a madrasta, Graciele Ugolini Boldrini, e a irmã de um ano de idade, filha do casal. Além deles, a amiga Edelvania Wirganovicz foi presa por suspeita de participação no crime. Os três estão detidos em local não revelado pela polícia por medida de segurança.
Órfão de mãe, o menino se dizia carente de atenção. Ele chegou a procurar a Justiça para relatar o caso. No início do ano, o juiz Fernando Vieira dos Santos, 34 anos, da Vara da Infância e Juventude de Três Passos, autorizou que o garoto continuasse morando com o pai, após o Ministério Público (MP) instaurar uma investigação contra o homem por negligência afetiva e abandono familiar. O garoto chegou a pedir para morar com outra família.

Maria (Foto: Alice Pavanello/RBS TV)
No início do ano, porém, o médico pediu uma segunda chance à Justiça. Com a promessa de que buscaria reatar os laços familiares com o filho, ele convenceu a Justiça a autorizar uma nova experiência. Na época, a avó materna, que mora em Santa Maria, na região central do estado, chegou a se disponibilizar para assumir a guarda. Porém, conforme o MP, Bernardo também concordou em continuar na casa do pai e da madrasta.
Velório e sepultamento
Na terça-feira (15), o corpo de Bernardo foi velado em Três Passos, noroeste do estado, no ginásio do Colégio Ipiranga, onde ele estudava. À noite, o corpo chegou a Santa Maria, onde uma nova cerimônia ocorreu na Capela do Hospital de Caridade.
O corpo de Bernardo foi sepultado na manhã desta quarta (16), por volta das 10h30 no Cemitério Municipal, no mesmo jazigo da mãe Odelaine, falecida em fevereiro de 2010 aos 30 anos. Segundo a polícia, a mulher cometeu suicídio com um tiro na cabeça no consultório onde o ex-marido, pai do garoto, trabalhava na época.

(Foto: André B. Piovesan/Folha do Noroeste)
Caso corre em segredo de Justiça
A investigação corre em segredo de Justiça e poucos detalhes são fornecidos à imprensa. Entretanto, de acordo com a delegada Caroline Virginia Bamberg, responsável pela investigação, a amiga do casal relatou à polícia onde o corpo de Bernardo estava enterrado.
A Polícia Civil disse ter certeza do envolvimento do pai, da madrasta e da amiga da mulher no sumiço do menino. "Precisamos identificar o que cada um fez para a condenação", afirmou.
De acordo com a família, Bernardo Boldrini foi visto pela última vez às 18h do dia 4 de abril, quando ia dormir na casa de um amigo, que ficava a duas quadras de distância da residência da família. No domingo (6), o pai do menino disse que foi até a casa do amigo, mas foi comunicado que o filho não estava lá e nem havia chegado nos dias anteriores. Ele chegou a ligar para uma emissora de rádio de Porto Alegre para comunicar o desaparecimento e pedir ajuda.
No início da tarde do dia 4 de abril, a madrasta foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. A mulher trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) disse que a mulher estava acompanhada do menino.
“O menino estava no banco de trás do carro e não parecia ameaçado ou assustado. Já a mulher estava calma, muito calma, mesmo depois de ser multada”, relatou o sargentoda PRF Carlos Vanderlei da Veiga. A madrasta disse ao policial que ia a Frederico Westphalen comprar um televisor