Nos últimos tempos, tem-se buscado com vigor materiais e técnicas construtivas que minimizem os impactos ambientais ocasionados pela construção civil – uma das atividades mais consumidoras de recursos naturais e que gera grande parte dos resíduos do planeta. No Brasil, segundo dados da ABRELPE, no ano de 2012 os Resíduos da Construção Civil chegaram à ordem de 35 milhões de toneladas. E o que mais assusta é que grande parte dos materiais utilizados ou descartados apresentam uma alta conta de desperdício. Pasmem leitores, estima-se que cerca de 50% (!) do cimento adquirido para uma obra entra na conta do desperdício – em utilizações excessivas ou perdas de material!
Neste contexto, entra o tijolo de solo-cimento, que nada mais é que o resultado de uma mistura de solo, cimento e água em proporções adequadas e que, após compactação e cura, ganha consistência e durabilidade. A compactação é feita em prensas manuais ou automatizadas, já a cura é o processo no qual se evita a saída rápida de água da mistura e pode ser feita através da molhagem dos tijolos novos ou de sua proteção com lonas plásticas. Pode-se dizer que este material é uma evolução da construção com terra crua, onde as colas naturais foram substituídas por um produto industrializado e de qualidade controlada: o cimento.
Construções em terra crua são aquelas cujas paredes são feitas em barro socado ou sob a forma de tijolos crus – sem cozimento. Trata-se de um sistema construtivo milenar, datado de cerca de 5.000 anos, e realizado através de diversas técnicas, como a taipa de mão, taipa de pilão, adobe e atualmente o solo-cimento. A utilização da terra crua apresenta duas grandes vantagens: o barro regula a umidade do ambiente, pois possui a capacidade de absorver e perder umidade; regula também a temperatura, armazenando o calor quando exposto aos raios solares e liberando-o lentamente quando a temperatura externa baixa.
Existem no mercado diversos tamanhos e modelos destes tijolos: maciço, com encaixes, com furos, do tipo canaletas, etc. A escolha do produto vai depender da necessidade. No geral, tijolos com encaixe facilitam o assentamento, resultando em baixo consumo de argamassa. Já os tijolos com furos permitem a passagem de elementos estruturais e tubulações de água e energia, evitando o uso excessivo do concreto, bem como os inevitáveis “rasgos” realizados na alvenaria tradicional para passagem das tubulações.
Ecologicamente, o tijolo de solo-cimento é considerado um material sustentável: não passa pela “queima” como o tijolo convencional, processo no qual se consome grande quantidade de energia; diminui consideravelmente o consumo de cimento em argamassa, chapisco e emboço (diminuindo também o desperdício), é obtido através do solo, material abundante e renovável e, ainda, é totalmente reciclável, uma vez que basta fragmentá-lo para retornar ao processo da massa de terra.