Nem a máscara de proteção esconde a expressão de alívio do casal de comerciantes Neuza e Josué Fontes, que mora na praia do Paulas. Eles e milhares de francisquenses que tiveram de deixar as casas encerraram na sexta-feira, dia 27, uma longa jornada de medo e incerteza.
— É a alegria de voltar pra casa e recomeçar a vida —disse Neuza na tarde da sexta-feira, em frente ao mercado que ela e o marido montaram na praia.
A máscara, o forte cheiro de solvente e a sujeira que ficou no mercado por causa da densa fumaça que cobriu a região eram os únicos resquícios dos dias mais complicados da história recente da cidade.
Na sexta, por volta das 14h30 quando o coordenador de Defesa Civil estadual, major Aldo Neto, comunicou oficialmente que as famílias de São Francisco que fugiam da fumaça poderiam voltar para casa, o clima de euforia já havia tomado conta dos moradores. É que a coluna de fumaça que assustou o país inteiro por 57 horas ininterruptas havia sido debelada pouco antes pelos mais de 200 bombeiros que se revezaram no combate à reação química numa carga de 10 mil toneladas de nitrato de amônia, uma espécie de granulado de cor alaranjada que é usado como fertilizante.
Neuza, Josué e a vizinha Cátia Gonçalves dedicaram boa parte da tarde para fazer a limpeza das casas e do mercado. Como o cheiro do material químico ainda estava forte no bairro, todos usavam máscaras.
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No Centro Histórico, evacuado às pressas na noite de quinta-feira, poucas lojas abriram ontem. Mas o clima já era de entusiasmo. Mesmo tendo sido obrigada a buscar atendimento no hospital durante a semana, a atendente de caixa Daiane Machado, sentia-se eufórica em retomar o dia a dia numa das regiões mais bonitas da cidade.
— Tive vômito e saiu sangue da garganta. Mas agora já estou bem melhor — disse ela sob os raios de sol ainda tímido entre as nuvens do meio da tarde.
Por volta das 17 horas, o movimento no Centro Histórico já parecia o de uma tarde nublada de sexta-feira à espera de um fim de semana movimentado de turistas, como é a rotina do lugar.