O mundo da moda constantemente “revisita” o passado em busca de elementos que possam expressar uma tendência futura. É possível perceber como os tecidos e modelos vão e voltam da “moda”: o couro, por exemplo, já foi moderno, já foi chique, já foi country, já foi brega e hoje volta em versões sintéticas, com novos modelos e cores e se tornando novamente contemporâneo. O mesmo movimento ocorre com a arquitetura: cores, desenhos e estéticas vão e voltam em diferentes usos. Um dos ícones do passado que voltou com tudo para as construções são os elementos vazados, antigamente conhecidos como “cobogós” e atualmente com diversas releituras de formas, materiais e cores.
Talvez muitos leitores não liguem o “nome à pessoa” e nunca tenham ouvido falar em “cobogó”. Mas com toda certeza ele faz parte da memória visual de quase todos nós: é aquele antigo elemento vazado de cimento muito utilizado nas casas dos anos 50. Foi criado em Recife em 1929 por três engenheiros (Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann e Antônio de Góis), que patentearam o produto com as iniciais de seus sobrenomes. Sócios em uma fábrica de tijolos, buscavam algo capaz de aliviar as altas temperaturas nordestinas permitindo a circulação de ar e luz. Foi inspirado nas tramas vazadas de madeira, chamadas muxarabis e que foram muito utilizadas na antiga arquitetura árabe para fechar parcialmente os ambientes – protegendo as mulheres da casa dos olhares masculinos.
Os cobogós inicialmente eram utilizados nas fachadas, em substituição aos tijolos, para promover uma proteção solar, um melhor aproveitamento da ventilação e controle da luz natural, especialmente em regiões quentes e úmidas como o Nordeste brasileiro. Com o passar dos anos estes elementos deixaram de embelezar as fachadas e migraram para espaços menos nobres, passando a serem usados como divisórias de áreas de serviços e relegados a construções populares. Difundido pelas obras de Lucio Costa, Oscar Niemeyer e outros grandes arquitetos do século passado, os cobogós estão de volta e totalmente repaginados.
Originalmente a peça era produzida em cimento, mas hoje podem ser encontrada em diversos materiais como vidro, madeira, cerâmica e até aço. O formato também se modernizou, podendo ser encontrado em formas geométricas mais ousadas, florais ou mesmo em desenhos personalizados, sob encomenda. Ainda são utilizados em fachadas, mas podem ser encontrados em diversos ambientes internos, como salas, cozinha e lavabos, dividindo ou delimitando espaços ou simplesmente como efeito decorativo, formando um jogo de luz e sombra que garante em belo efeito. Podem substituir paredes inteiras ou apenas “salpicados” em meio à alvenaria; podem formar quadros ou composições diversas dando um significado especial a um ambiente. Trazem sempre textura aos ambientes, seja pelo próprio material ou pelo rendado da trama, que ainda garante um espaço ventilado e iluminado.
Com um custo acessível e de fácil instalação, o cobogó vem ao encontro dos novos ambientes de nossas casas – cada vez mais integrados – e pode ser a solução para a busca de um meio-termo entre a parede totalmente fechada e o ambiente totalmente aberto.