Robert Lenoch, professor e diretor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense – IFC – Câmpus São Bento do Sul falou com Evolução, no lançamento do Câmpus na terça-feira, 3
EVOLUÇÃO – O senhor foi muito didático provando que é bom professor em sua explanação. O que significa este ato em São Bento?
ROBERT LENOCH – Para mim é uma realização profissional. Nós estudamos, nos formamos, nos capacitamos desejamos - o professor ele tem um ego intelectual, não tem o ego financeiro. Ele não quer ter o melhor carro . Ele tem o ego de deixar alguma marca. Então para mim é uma realização profissional poder participar da implantação deste projeto.
EVOLUÇÃO – Se fosse só pelo ego financeiro, seria uma tragédia?
ROBERT LENOCH – É, realmente a profissão nem existiria.
EVOLUÇÃO – Como o senhor se sente?
ROBERT LENOCH – Nós estamos formando uma geração nova e temos que servir de exemplo para eles. É uma satisfação pessoal muito grande.
EVOLUÇÃO – O aluno ganhar por hora para estudar não é muito dar?
ROBERT LENOCH – Sim. Existe uma série de bolsas.
EVOLUÇÃO – Mas não é muita bolsa?
ROBERT LENOCH – É uma coisa difícil de saber a solução correta. O que nós entendemos como país e que estamos muito atrás dos outros países irmãos. A Argentina tem em torno de 25% de seus estudantes no Ensino Superior. O Brasil tem 12,5%. A Colômbia 27%. Peru 24%. O México 28%. Então nós não somos nem iguais a Argentina. Quando nos dobrarmos esse número de alunos no curso superior, vamos ser igual aos nossos irmãos na América Latina. Então com país é horrível. Acabamos descobrindo também que muitos da nossa juventude não tem formação nenhuma. É uma tentativa do Governo tentar acelerar isso. Se vai dar resultado ou não, temos que esperar para avaliar mais lá na frente. Alguns países já fizeram isso. Exemplo da Coréia que hoje tudo que é eletro eletrônico é produzido lá no sudeste asiático. Mas não temos certeza. Sabemos que é uma tentativa de resgatar um problema do passado. Outra situação que está havendo. Porque estão criando tantas unidades de ensino no interior? É para tentar fazer com que haja oferta de educação nas regiões. Antes a educação era centralizada. O aluno que não tinha poder aquisitivo e o pai não financiava ele não tinha condições de estudar. A interiorização acho correta. Os programas sociais eu vou me eximir de opinião porque poderá ser que dê certo, poderá ser que não.
EVOLUÇÃO – Mas não é muita mordomia para quem parece mostrar que não gosta de estudar. Deixa passar os anos de juventude para depois em um curto período fazer algum curso, quando a oferta de ensino está à disposição de todos?
ROBERT LENOCH – Isso a gente observa. É a juventude sem objetivo. Pai rico, filho pobre.
EVOLUÇÃO – Rebeldes sem causa e perdendo tempo, porque depois sabem que recuperam tudo em um ano?
ROBERT LENOCH – Eu acho que é um problema mais da educação na nossa geração, pais atual. Se você observar que o filho de uma família mais abastada, ele tem objetivo. Ele vai para a empresa. Vai para o exterior. Faz uma pós-graduação. Estuda muito mais. Quando ele poderia se dar ao luxo de ser mais desinteressado, pois já tem um nível bom de formação. O problema está na nossa faixa intermediária. Isso é uma coisa cultural. Nós ainda entendemos que colocar um filho para trabalhar com 16 anos nas férias, é uma ofensa. É sinal que a família está com dificuldades econômicas. Coisa que não é normal na Europa ou nos Estados Unidos. Lá o aluno trabalha.
EVOLUÇÃO – Os intercâmbios culturais e trabalhos em estágios de férias são uma prova disso?
ROBERT LENOCH – São serviços pequenos mas que geram aprendizado e aperfeiçoamento, preparo para a vida. Educa ele para o trabalho. É uma opinião minha. Também concordo que dar não resolve o problema, acomoda ele. Tenho como exemplo, e citei aqui hoje o problema com os indígenas. Eles não tem interesse nenhum de mudar a sua perspectiva porque ele já estão assessorados. Eles já tem dinheiro demais. O que é bom para eles, eles querem. Agora quando se cobra alguma coisa eles respondem: não, a aminha cultura não permite. Eu quero continuar assim. Então tem que criar um motivo para eles. Motivo para eles lutarem. O pior castigo para um ser humano é a gente alimentá-lo, colocá-lo em uma cama e não deixar fazer nada. É assim que funciona uma cadeia. O ser humano precisa ter um objetivo na vida. Se pararmos de ter um objetivo, não há porque lutar. Então acho que esta situação que vivenciamos é um problema cultural. Alguns pais melhoraram um pouquinho, não tiveram uma cultura para educar os filhos para eles entenderem que hoje o que lhes estão deixando de herança é um fusca, mas vai transformar aquele fusca em um carro. Eles entendem que receberam um fusca e vão consumi-lo e não irão conseguir comprar mais nada. Acredito que vamos superar isso.
EVOLUÇÃO – E a terceirização na educação?
ROBERT LENOCH – Eu vivenciei com experiência própria. Fui diretor do Câmpus 4 anos e vice 8 anos. Os pais realmente transferem muito para os outros a responsabilidade da educação dos filhos. Fui criado em uma educação mais tradicional. Acredito nela e posso falar que a minha experiência deu certo. Tenho um filho com 22 anos e uma filha de 24. Ambos estão formados, fazendo mestrado. Acredito que tenho dado um bom exemplo. Mas o exemplo é bem esse. Quando há necessidade de educar, tem que ser educado. Tem muitos pais que não sabem fazer isso. Bater num filho não é porque a gente não ama ele. A gente ama tanto que quer corrigi-lo. Não que eu seja a favor da violência. Tirar algo que ele deseja muito. Por limites. Isso são coisas que alguns não conseguem administrar. Tem pais que preferem não ouvir quando o filho tem um problema. A coisa mais comum que a gente enfrenta hoje em dia. Tenta comunicar. Olha seu filho está consumindo drogas. Eu falo isso para todos os pais. Eu agradeceria se alguém dissesse isso para mim, se me avisassem porque eu teria tempo de interagir com ele. Tem pais que se ofendem.
EVOLUÇÃO – Sua expectativa com Câmpus em São Bento?
ROBERT LENOCH – Acho que vamos conseguir fazer uma boa escola. A comunidade é muito organizada, muito presente e atuante. Acho que vamos conseguir formatar um Câmpus de maneira que ele atenda as necessidades da comunidade. A questão operacional vai acontecer naturalmente. Já temos experiência, saímos de cinco para dezesseis unidades. Não convém atropelar o processo e essa angústia é a forma que a gente educa uma criança para ser um bom aluno, tudo tem o tempo para acontecer. A escola também vai ser assim.
EVOLUÇÃO – O senhor falou em 600 dias para execução da obra?
ROBERT LENOCH – Estamos aguardando apenas o repasse financeiro do Governo Federal para emitir a Ordem de Serviço para a empresa. É uma questão apenas de pequenos ajustes.
EVOLUÇÃO – Qual foi a empresa vencedora da licitação?
ROBERT LENOCH – CRC. A mesma empresa que está construindo o Câmpus de São Francisco do Sul.