Vimos no artigo anterior a necessidade de se otimizar os recursos no setor da construção civil e de como os países estão se organizando para “premiar” os edifícios que empreendem esforços neste sentido: através de “selos” de qualidade ambiental. Um destes é o AQUA (Alta Qualidade Ambiental), fornecido pela Fundação Vanzolini (USP). Mas do que consiste este selo? O que é analisado para certificar ou não um empreendimento?
O modelo AQUA cuida do processo de construção como um todo, iniciando com a análise do terreno e programa de necessidades, passando pela concepção projetual; execução da obra e, finalizando, com o uso e ocupação do edifício. Por isso, a certificação é concedida em cada uma destas fases mediante uma auditoria presencial. Resumidamente, na fase programa é feito um perfil de potencialidades e deficiências do local de implantação da obra e é então definido um perfil de qualidade – que será o objetivo a ser alcançado. A fase de concepção especifica quais métodos utilizar para se conseguir os resultados esperados; a fase de execução coloca em prática estes métodos e a fase de uso e ocupação gera o “feedback” que demonstra se os métodos previstos foram eficientes.
No total, o AQUA estabelece 14 itens de qualidade que precisam ser atendidos dentro de um conjunto de classificação: bom, superior e excelente. Estes itens especificam quais os parâmetros de desempenho ambiental e de conforto e saúde dos usuários de edifícios. Ao final das obras, atingindo o objetivo definido, o empreendedor obtém o selo de Alta Qualidade Ambiental para seu empreendimento. O certificado demonstra o desempenho do edifício e os esforços feitos para a redução do consumo de água, energia, gás carbônico e matérias primas, e para o aumento da qualidade de vida das pessoas envolvidas.
Mas para finalizar esta questão sobre sustentabilidade nos edifícios gostaria de dividir com os leitores a “aula” que Eduardo Souto de Moura, um grande arquiteto português, nos dá sobre a arquitetura sustentável. Souto de Moura defende que a sustentabilidade não deveria ser “buscada”, mas sim fazer parte, naturalmente, do processo construtivo, ou seja, ser um atributo intrínseco de qualquer edifício. Quando perguntado se a sustentabilidade é um problema dos ricos, ele nos diz: “É um problema dos maus arquitetos. Os maus arquitetos se prendem sempre com temas secundários. Dizem coisas do tipo: a arquitetura é sociologia, é linguagem, é semântica, semiótica. Inventam a arquitetura inteligente – como se o edifício “Partenon” fosse estúpido – e agora, a última é a arquitetura sustentável. Tudo isto é complexo da má arquitetura. A arquitetura não tem que ser sustentável. A arquitetura, para ser boa, leva implícito o “ser sustentável”. Nunca pode haver uma boa arquitetura estúpida. Um edifício em cujo interior as pessoas morrem de calor, por mais elegante que seja, será um fracasso. A preocupação pela sustentabilidade delata mediocridade. Não se pode aplaudir um edifício porque é sustentável. Seria como aplaudi-lo por se aguentar em pé”.