Em épocas difíceis como a atual, todo mundo precisa fazer sacrifícios. E o rei espanhol, Juan Carlos, quis mostrar que também estava fazendo sua parte.
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Neste ano, a Casa Real anunciou que “por motivos de austeridade” o rei entregaria ao governo um de suas mais famosas posses, um iate de 41,5 metros de comprimento e de US$ 27 milhões (R$ 57,5 milhões), recebido há 13 anos para substituir um outro, que havia sido dado de presente pelo rei Fahd, ex-governante da Arábia Saudita.
Apenas se fosse fácil assim.
O gesto acabou se tornando uma disputa pela propriedade do iate. Os empresários que pagaram pela embarcação anunciaram que, se o rei Juan Carlos não a quer, eles a querem de volta. Em uma carta aos administradores do patrimônio nacional da Espanha, a fundação que representa os doadores enfatizou que o presente foi dado com a condição de que fosse usado pelo rei e membros da família real.
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O iate Fortuna, feito de alumínio e pesando 35 toneladas, fica ancorado na ilha de Mallorca, onde a família real tem um palácio e passa as férias de verão. Os 30 empresários que contribuíram para a compra da embarcação incluem donos de hotéis e banqueiros com ligações com Mallorca e com as ilhas Baleares, cujo governo regional também contribuiu um pouco para a compra do Fortuna.
O presente foi uma forma de agradecer a monarquia por ajudar a promover Mallorca, um dos principais destinos turísticos da Espanha. Mas Mallorca também parece ser um problema para a realeza.
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O local se tornou cenário de um caso de corrupção que afetou a reputação da família real – o genro do rei, Iñaki Urdangarín, teria desviado milhões em contratos lucrativos de eventos esportivos organizados na região. A princesa Cristina, esposa de Urdangarín e filha mais nova do rei, também é alvo da investigação .
Urdangarín não foi acusado de nenhum crime, mas o caso intensificou a pressão sobre a monarquia, em um período em que a popularidade do rei chegou ao pior nível já registrado em pesquisas de opinião. Alguns defendem que o rei deveria abdicar em favor do príncipe herdeiro, seu filho Felipe.
Após décadas no exílio, o rei chegou ao trono em 1975, quando o ditador general Francisco Franco morreu e a monarquia foi reinstalada. Juan Carlos é o chefe da família real mais pobre da Europa. Ainda assim, com o alto desemprego e o corte de benefícios sociais, a riqueza da família tem sido alvo de grande atenção.
O rei, que tem 75 anos e vários problemas de saúde, certamente não sentirá muita falta do Fortuna; em 2012 ele saiu no iate apenas uma vez. Carmen Matutes, presidente da fundação que pede a embarcação de volta, diz que a organização tampouco tem a intenção de ficar com ele, o que é compreensível. Apenas encher o tanque de combustível custa mais de US$ 30 mil (R$ 63,9 mil), segundo a imprensa espanhola. E ainda tem a tripulação.
Por Raphael Minder