Francisco Teles, 47 anos, atleta na modalidade de Levantamento de Peso, proprietário da Academia Teles. Próximo de completar 30 anos de atividades, sendo três preparatórios e 27 de carreira competitiva. Já perdeu as contas dos títulos conquistados, mas só internacionais são 6. Três anos consecutivos campeão Sul Americano e Panamericano no levantamento de peso, agachamento, supino e terra. Teles que adotou São Bento do Sul há doze anos, diz considerar-se um alemão bock, sempre com um largo sorriso no rosto. Quem mede massa muscular, surpreende-se com a maneira gentil com que mantém uma conversa, pelo menos como foi a nossa. Teles comenta o projeto de escolha da cidade para receber um Centro de Referência em Desenvolvimento de Halterofilismo, destinado ao treinamento de atletas paraolímpicos da modalidade Levantamento de Peso.
EVOLUÇÃO – Qual a importância para São Bento do Sul e sul do Brasil desta iniciativa?
FRANCISCO TELES – Primeiro é o de podermos fazer um trabalho de inclusão social com as pessoas que tem algum tipo de deficiência. Segundo termos a oportunidade de daqui a três anos, quem sabe, um atleta de São Bento do Sul participando de uma paraolimpíada.
EVOLUÇÃO – Você já tem uma noção do número de atletas que poderão participar deste projeto?
FRANCISCO TELES – Vamos fazer uma triagem. Mas como atingiremos toda Santa Catarina, no momento que o pessoal conhecer o projeto, entender a técnica e percepção de movimento, a coisa vai embora.
EVOLUÇÃO – Quantas modalidades serão trabalhadas neste Centro?
FRANCISCO TELES – Só o levantamento supino. O atleta fará o trabalho específico de força e a modalidade técnica que é o supino propriamente dito.
EVOLUÇÃO – Então tornar-se mais seletivo ainda?
FRANCISCO TELES – É uma peneira. O trabalho é muito mais difícil que o nosso normalmente. No nosso supino usa-se equipamento de segurança. No treinamento para portadores de deficiência usa-se apenas uma munhequeira e um macaquinho especial de lycra.
EVOLUÇÃO – E o deslocamento dos atletas de outras cidades e até estados? Quem vai bancar as despesas de viagens, alojamentos e alimentação?
FRANCISCO TELES – A prefeitura Municipal se colocou à disposição. No caso de atletas de outras localidades, quem banca o projeto é a Loteria Federal da Caixa. O atleta tem que passar três fases pois vamos estar dentro do circuito nacional paraolímpico. É o circuito Caixa. O atleta terá que participar de três competições, pontuar e conseguir o índice para participar da Seleção Brasileira. Uma vez na Seleção terá uma bolsa atleta, no valor internacional em torno de R$ 3.500,00 mensais e toda a suplementação e viagens pagas. Até o atleta chegar neste nível ele terá somente o Centro de Treinamento, o seu técnico. Então até ele chegar a Seleção terá que buscar alguns recursos, algum patrocínio para custear as suas despesas.
EVOLUÇÃO – Então para que alguém de fora venha aqui para treinar, terá que bancar as suas despesas?
FRANCISCO TELES – Terá que correr atrás de seus próprios recursos. Se for diferente ficará muito fácil e acabaremos atraindo um sem número de pessoas e muitas ficarão frustradas. Tem aquele ditado: “tudo que se dá demais não é dado valor”.
EVOLUÇÃO – Até porque a demanda seria maior que o espaço?
FRANCISCO TELES – Exato. O objetivo é peneirar. Embora trabalhemos com um horário bem prolongado não podemos encher demais para não prejudicar a qualidade do atendimento.
EVOLUÇÃO – Então existirá uma limitação no número destes atletas?
FRANCISCO TELES – Vamos abrir espaço para treinamentos três vezes por semana. Duas horas no período da manhã e duas no período da tarde. Vamos fazer uma pré-seleção. Final de semana teremos os treinos mais técnicos.
EVOLUÇÃO – Como você recebeu a convocação para técnico da Seleção Brasileira na modalidade de supino?
FRANCISCO TELES – Foi resultado destes 27 anos de trabalho, de competir Brasil a fora, conversando e conhecendo técnicos, conquistando títulos. São Bento do Sul é a segunda força na modalidade no País. São Paulo e depois nós. São Bento do Sul tem a atual equipe campeã catarinense de peso comandada por mim e pelo Thiago Grall. O convite surgiu coroando estes quase trinta anos de dedicação. Fiquei muito satisfeito e assumimos este compromisso de estar junto com a Seleção. Nos próximos dias já estarei fazendo uma viagem com a Seleção, mas também coroou a trazer este trabalho para São Bento do Sul, que a cidade onde temos negócios, família e amamos por estar aqui nestes doze anos.
EVOLUÇÃO – O espaço precisa crescer. Onde será a nova Academia?
FRANCISCO TELES – Nas antigas instalações do Supermercado União, em frente a Casa Paroquial. As obras estão bem aceleradas. Estaremos dobrando o espaço, acesso melhorado, rampa, banheiros adaptados. O Centro de Treinamento vai funcionar dentro da própria Academia.
EVOLUÇÃO – O suporte inclusive de equipamentos será da Caixa Econômica Federal?
FRANCISCO TELES – Na realidade o Comitê Paraolimpíco Brasileiro não paga aluguel. Ele te dá todo o material para que você possa realizar o trabalho. Então é uma parceria. Fomos até Brasília e assinamos um contrato. O Comitê manda todo o equipamento. Já recebemos a primeira etapa que todos os alunos normais da Academia poderão utilizar. O objetivo é a integração. São em torno de oito equipamentos, no valor mais ou menos de R$ 80 mil. Na segunda fase chega todo o material restante, que é o mesmo que foi usado em Londres e que é fabricado por uma empresa da China. Peso olímpico, barra, banco especial para atleta paraolímpico, maior, com faixas para amarrar o atleta. Antes que inauguremos as novas instalações da Academia os equipamentos especiais estarão todos lá.
EVOLUÇÃO - Previsão de inauguração?
FRANCISCO TELES – Na segunda quinzena de setembro, estaremos inaugurando o Centro de Treinamento, as novas instalações da Academia Teles e para coroar tudo isto a presença da Seleção Brasileira que deverá ficar uma semana aqui na cidade. E, em breve se Deus quiser teremos um atleta são-bentense conquistando uma medalha.
EVOLUÇÃO – Por serem atletas especiais como funcionará o acompanhamento médico destes atletas?
FRANCISCO TELES – Na realidade o Comitê tem todo uma estrutura de acompanhamento. Tem toda a equipe, nutricionista, psicólogo, cardiologista, enfim toda a equipe que avalia estes atletas.