Num fim de semana tive a oportunidade de conhecer o Sr. Claudio Oliver, coordenador do fascinante projeto de agricultura e pecuária urbana chamado “A Casa da Videira”, instalado em Curitiba. O projeto, segundo definição de seus próprios fundadores, consiste em “uma estação ambiental focada em soluções urbanas com respeito à gestão de resíduos, produção de alimentos e educação ambiental, criando um diálogo entre a tradição e inovação em busca de um ambiente mais sustentável. Em nosso espaço, criamos um “quintal da vovó”, que integra animais e plantas em um ciclo biológico que transforma poluentes em nutrientes, morte em vida”.
O espaço é pequeno – cerca de 300m2 – mas o que é feito neste espaço serve como inspiração a qualquer pessoa que queira estar em sintonia com o meio ambiente ou simplesmente respeita o “ciclo da vida”: as plantações são nutridas a partir do esterco dos animais, que por sua vez são alimentados com resíduos orgânicos. A iniciativa conta com um grupo de participantes que engloba três famílias.
A criação animal conta com 04 cabras, 28 galinhas, 30 coelhos, 07 porquinhos-da-índia e minhocas. Os animais funcionam como unidades de processamento de resíduos: sua alimentação é constituída integralmente de resíduos orgânicos gerados pela comunidade local. Mas além de consumir o que antes seria lixo, os animais têm ainda a função de produzir esterco, o qual servirá para a adubação das hortas, que desta maneira não precisam ser alimentadas com adubos químicos e fertilizantes. Os animais ainda trazem o bônus de assegurar 100% da necessidade de ovos e leite do grupo, além de 80% da carne consumida mensalmente pelas famílias.
Nos canteiros são plantados diversos tipos de tubérculos, hortaliças e frutas. A sazonalidade da produção é respeitada, o que significa que o consumo de produtos frescos acompanha as estações do ano, diminuindo no outono e inverno e tornando e verão propício para a produção de conservas, defumados e congelados. Os problemas naturais decorrentes do processo, como o mau-cheiro gerado pelos dejetos animais e as moscas, são solucionados rapidamente e com “tecnologias” naturais: ao esterco dos animais é misturado borra de café, que neutraliza os odores característicos. Já para afastar as moscas, são utilizadas iscas montadas com garrafas PET e o sangue dos animais abatidos no local.
Infelizmente a iniciativa do grupo está sendo ameaçada, pois a Vigilância Sanitária proíbe a criação de animais em áreas urbanas. Apesar de apresentarem todas as prerrogativas de saúde ambiental e animal, de destinar adequadamente mais de 3.500kg de resíduos orgânicos mensalmente e abastecer a comunidade com produtos de qualidade, o grupo é considerado “fora da lei” e corre o risco de ter seu projeto extinto. Vale aqui a reflexão de uma revista do meio jurídico: “Apenas proibir a criação de pequenos animais sob a velha alegação dos riscos de insalubridade é ficar preso sob o paradigma da sociedade industrial”. E para finalizar: antigamente, criminoso era o ladrão de galinhas; hoje, criminoso é quem as cria!