Ex-vereador por quatro legislaturas (79/82, 83/88, 2001/04 – 2005/08), presidente da Câmara (2005/2006), secretário regional (2005/2007), secretário da Saúde na gestão Silvio Dreveck/PP (97/04) e secretário de Saúde na gestão Vilmar Grosskopf/PMDB (2009/12) em Campo Alegre. Deodato está de volta a São Bento do Sul, assumindo novamente o comando da pasta da saúde na gestão atual Fernando Tureck (PMDB).
EVOLUÇÃO – Após estes anos de experiência, o que o senhor tirou de experiências, como coisas boas?
DEODATO HRUSCHKA – O conhecimento da área de Saúde. O principal, acho, é a oportunidade de atender as pessoas. É um trabalho profissional, claro, mas às vezes a gente acaba tendo reconhecimento porque somos procurados por pessoas em momentos de dificuldades. Ou seja, é uma oportunidade de ajudar as pessoas que realmente precisam. É uma realização pessoal.
EVOLUÇÃO – Sabemos que, enquanto o senhor esteve neste cargo, sempre atendeu e nunca deixou de dar resposta.
DEODATO HRUSCHKA – Desde meu primeiro mandato como secretário de Saúde, percebo como as pessoas são carentes de atenção. Atender com respeito, com atenção, às vezes vale muito mais do que dar um remédio, por exemplo. Percebo que é isso que falta. Eu sempre fiz isso e vou continuar fazendo. Isso não tem dinheiro que pague. Assim, sinto-me realizado por trabalhar nesta área.
EVOLUÇÃO – O senhor já passou pela Secretaria de Saúde de São Bento, esteve em Campo Alegre, agora voltou para cá. Percebe que os problemas na área ainda são os mesmos?
DEODATO HRUSCHKA – Só muda o endereço, né? A demanda é muito grande e os recursos são pequenos. Pouca gente tem plano de saúde. Pouquíssimos têm condições de manter um plano de saúde, de ter uma renda razoável. Sempre digo: com o SUS é ruim, mas sem o SUS seria pior. O SUS atende bem, mas o que existe é desperdício de dinheiro público. Digo desperdício porque, pelo fato de ser de graça, isso se torna um pouco vulnerável. Há um certo abuso. Nos postos, por exemplo, na necessidade de alguma medicação, de algum exame, acontece com muita rotatividade, com muita frequência.
EVOLUÇÃO – Antigamente se chegava ao médico – eram quase todos clínicos gerais – e ele examinava a pessoa do cabelo à unha do pé, olhando nos seus olhos. Hoje ele chega no médico, ele preenche a ficha e depois pede tais exames.
DEODATO HRUSCHKA – Recorre-se muito aos exames, para daí se ver os diagnósticos. Claro que eu não posso questionar a conduta médica, porque, se é assim, deve haver algum motivo. Os médicos se cercam desses benefícios, dessas vantagens, até com alguma razão. Para ele, há até maior segurança. Antigamente, isso não era tão comum. Hoje é uma prática normal. Antigamente se pedia raio-x, porque não existia tomógrafo. Hoje já se pede a tomografia. Também tem muita ressonância. A saúde é diferente do setor produtivo, por exemplo. No setor produtivo, quando se investe em maquinário ou equipamentos, é para reduzir custos. Na saúde, acontece o inverso – quanto mais se investe em tecnologia, mais caro fica. Veja o custo do raio-x, agora da ressonância. O que virá depois? Mas, seja o que for, será mais caro.
EVOLUÇÃO – Como está a demanda nos Postos de Saúde de São Bento do Sul, hoje?
DEODATO HRUSCHKA – A demanda é muito grande. Acho que não vai diminuir nunca, ou melhor, vai aumentar cada vez mais. Mas também tem a seguinte questão: começar a colocar Posto de Saúde em tudo quanto é lugar é problema, porque precisa de médico. Temos, hoje, dezenove postos – e não temos médicos em todos os postos o dia inteiro.
EVOLUÇÃO – Qual a maior carência, atualmente?
DEODATO HRUSCHKA – Há várias especialidades médicas, mas a pediatria, por exemplo, é uma área muito complicada. Tem também a questão da cardiologia, urologia, etc. Nessas especialidades mais avançadas estão as maiores dificuldades. É uma tendência natural, porque os municípios menores sempre terão essa dificuldade. Os especialistas ficam nos centros maiores, porque há mais oportunidade de trabalho, mais oportunidades em clínicas e hospitais. Se alguém vir para Santa Catarina e for para escolher entre São Bento e Blumenau, ele vai para Blumenau, pois há mais oferta e mais gama de trabalho. Porém, nem por isso não estamos correndo atrás. Estamos buscando profissionais para algumas demandas reprimidas.
EVOLUÇÃO – Mas qual é a maior demanda?
DEODATO HRUSCHKA – Hoje, entre todas as especialidades, há cerca de cinco mil consultas reprimidas. A questão da cardiologia deve liderar esse número. Na ortopedia também há um bom número. Na urologia, também. Idem na angiologia. Até tínhamos um médico angiologista tempos atrás, mas surgiu a oportunidade de ele fazer uma especialização na UFSC, em Florianópolis. Estamos com processo seletivo para contratar profissionais para tentarmos diminuir essa fila de espera. Vamos contratar mais um ortopedista, um angiologista, um urologista, mais um cardiologista. Há também uma demanda muito grande na oftalmologia – esse é um problema crônico no Estado inteiro. Estamos tentando resolver essa questão. O nosso prefeito (Fernando Tureck/PMDB) está muito empenhado nessa questão – talvez até pelo fato de ser médico, ele está muito preocupado, ele quer diminuir essas filas – inclusive já tendo autorizado a contratação de profissionais. Temos também esse horário estendido nos postos, das 18:00 às 22:00. Hoje cobrimos isso com profissionais da própria rede, pagando horas extras – mas também já estamos com processo seletivo para contratarmos médicos para esses horários. Hoje, às vezes, o médico – que já trabalha o dia todo – não pode ir à noite, pois pode acontecer algum imprevisto, por exemplo. Esse atendimento acontece na Serra Alta, no Centenário, no Cruzeiro e no posto central.
EVOLUÇÃO – E a demanda por exames, qual é a maior demanda?
DEODATO HRUSCHKA – De certa forma, estamos conseguindo atender a questão dos exames. O maior número de exames está relacionado à questão oftalmológica. Essa realmente é uma questão complicada. A questão vascular é também complicada, porque o exame é feito mas não existe o cirurgião. Então, muitas vezes, nem adianta autorizar o exame, pois se não houver previsão de cirurgia em determinado período, esse exame vai ser perdido. Então, é preciso ter muito critério. Então, só vamos autorizar o exame quando tivermos certeza da cirurgia.
EVOLUÇÃO – O senhor sabe que, juntamente com o ex-prefeito e atual vereador Fernando Mallon, estamos trabalhando para uma campanha em prol da quimioterapia em São Bento do Sul, Rio Negrinho e Campo Alegre.
DEODATO HRUSCHKA – Não quero tirar o mérito de ninguém, mas temos tomado a iniciativa nessa questão – já participei de reuniões com o pessoal da clínica de Jaraguá do Sul. Isso já faz uns quarenta e cinco dias. Tivemos essa reunião no gabinete do prefeito. Sabemos, por exemplo, que fazer um credenciamento novo é difícil. Para iniciarmos este novo serviço aqui, teríamos que ter um aumento de mil novos casos por ano.
EVOLUÇÃO – E isso não queremos!
DEODATO HRUSCHKA – Claro, não queremos que isso aconteça de jeito nenhum. O que se pensa? Em uma extensão de Jaraguá do Sul, pois a questão da químio já está toda instalada em São Bento, no Cemox. Porém, isso passa pelo crivo do Estado. Se o Estado entender que é viável, aí sai. Sabemos que essa mesma solicitação já ocorreu no oeste de Santa Catarina, mas o Estado não apoiou a iniciativa. Mas, claro, a campanha é válida. Quando trouxemos a hemodiálise para São Bento, foi uma guerra. Havia todo o credenciamento via Ministério da Saúde, então foi uma luta de uns dois anos, através de muito trabalho. Isso porque o ministério tem parâmetros bem rígidos para trabalhar essa questão. Temos que ver que, caso haja a extensão da quimioterapia, poderemos diminuir os gastos do município com transporte, haverá mais conforto para o paciente, etc. Realmente temos que esgotar todos os meios e precisamos nos unir por esta causa.
EVOLUÇÃO – A respeito da famosa Oscip: tanto foi falado nisso na gestão passada! Falou-se sobre a informatização dos postos, por exemplo. Como ficou essa situação?
DEODATO HRUSCHKA – O que houve foi uma parceria entre a Astran e a Prefeitura de São Bento do Sul na questão do prontuário eletrônico. Isso envolveu um prestador de serviço, ou seja, uma empresa, a Global Data, de Tatuí, interior de São Paulo – a empresa era detentora do sistema. A Astran contratou essa empresa para disponibilizar, em comodato, esse sistema para São Bento do Sul. A Astran comprou cento e vinte computadores, mais oitenta e poucas impressoras e, ainda, os estabilizadores, os monitores, etc. A Astran se comprometeu a pagar a implantação do sistema por dois anos, ao custo de R$ 9 mil mensais. Esse trabalho iniciou em janeiro de 2012 e tinha o prazo de conclusão de um ano, ou seja, janeiro de 2013. Durante a campanha, ouvimos comentários de que o sistema não funcionava e tal. No final de ano, quando já estava definido quem iria assumir a Secretaria de Saúde, foi conversado com o ex-secretário (Marcus Maluf) e entrou-se no assunto. A informação que havia é que o sistema estava funcionando razoavelmente bem, o que contradizia a informação que tínhamos. Dez dias antes de encerrar o governo, não havia muito que fazer – já havia período de férias –, então o governo anterior resolveu deixar isso para a nova gestão retomar assim que assumisse. Foi uma das primeiras ações nossas, inclusive. Fomos conversar com o pessoal do setor de Informática da Prefeitura – e a reclamação era geral. O que eu fiz? Fui em todos os postos de saúde. Além de conhecer a estrutura física, ou seja, ver como estavam os postos, fui ver como funcionava esse sistema – da recepção até o médico. A crítica era geral! Diziam que era difícil de acessar, que era difícil tirar relatórios, etc. Essas críticas havia em todos os postos. A reclamação dos médicos era a seguinte: eles tinham o prontuário eletrônico no sistema, mas não tinham os complementos. Ou seja, se uma consulta médica gerasse exames ou receitas de medicamentos, estes não estavam no sistema. Então, praticamente não era um sistema informatizado. Além disso, não havia um banco de dados. Era difícil o acesso ao Ministério da Saúde, também. O que fizemos? Entramos em contato com a Astran, que nos foi muito receptiva. Tivemos uma conversa bem franca, entendendo que deveríamos fazer uma reunião com a empresa do sistema, a qual foi realizada no dia 8 de fevereiro. Então foram pontuadas algumas situações e estabelecidos novos prazos. A conversa foi afunilando, afunilando, afunilando, até que em determinado momento a dona da empresa achou por bem se retirar, achando que a pressão era muito grande. Ela disse: “Achamos melhor nos retirarmos do processo”. Na reunião estavam a empresa, a Secretaria de Saúde e a Astran, as três partes envolvidas no processo. Porém, a parte principal se retirou. Então fomos negociar com a Astran o comodato dos equipamentos. Novamente tivemos uma receptividade muito boa. Dos cento e vinte e oito computadores, ficamos com cento e dez.
EVOLUÇÃO – E agora?
DEODATO HRUSCHKA – Estávamos trabalhando com um sistema paralelo, de uma empresa de Jaraguá do Sul. Estamos investindo nesse sistema. No caso anterior, acho que houve uma certa acomodação por parte do governo passado, que deveria cobrar a implantação desse sistema dentro do prazo. A diferença desse sistema agora é que o prontuário eletrônico não é certificado. O prontuário eletrônico certificado elimina o papel. Esse sistema atual é muito bom, muito fácil de operar. Já são praticamente 60% do sistema implantados. Também estamos implantando, agora, o controle de transporte dos nossos pacientes. A nossa expectativa é que até o final do ano tenhamos 100% do sistema implantado.
EVOLUÇÃO – O senhor sabe que sempre houve uma queda de braço entre a Secretaria de Saúde e os médicos. Como está essa situação hoje? Os médicos estão batendo ponto, por exemplo?
DEODATO HRUSCHKA – Os médicos, em sua grande maioria, estão batendo cartão ponto, sim. Não adianta brigarmos com os médicos. Temos que ser parceiros, temos que fazer as coisas com diálogos. Temos alguns problemas, mas são pequenos – estamos tentando acertar isso. Temos preocupação em relação às especialidades médicas. Se formos levar as coisas a ferro e fogo, daqui a pouco vamos ficar sem especialidades. Temos ideia, por exemplo, de fazer um mutirão...
EVOLUÇÃO – ...era isso que iríamos perguntar!
DEODATO HRUSCHKA – ...mas, para fazer esse mutirão, temos que estar sintonizados. Se formos brigar com o médico – o prefeito ou eu –, não vamos conseguir fazer nada.
EVOLUÇÃO – E o relacionamento com o hospital, como está?
DEODATO HRUSCHKA – Tivemos uma surpresa muito boa. No passado tínhamos maior dificuldade. Hoje há uma gama maior de serviços, por exemplo. Há diversos recursos adicionais que o hospital recebe hoje, também. Em 2004, quando deixei a Secretaria de Saúde, o teto do hospital estava em torno de R$ 300 mil/mês. Hoje está em R$ 1 milhão. Então, a situação do hospital é boa. O hospital, hoje, está em uma situação muito mais confortável do que era antes.
EVOLUÇÃO – Tem outro assunto, que inclusive está indo à Câmara de Vereadores, que é o apoio da Prefeitura à Associação dos Portadores de Parkinson. Hoje a associação não recebe verba oficial nenhuma...
DEODATO HRUSCHKA – Com certeza vai haver apoio do Poder Público. Não tem por que não ter.
EVOLUÇÃO – Sobre a Campanha de Vacinação...?
DEODATO HRUSCHKA – Nosso objetivo é chegar a 90% da meta. São vacinadas crianças de seis meses até abaixo de dois anos, gestantes, pessoas com mais de sessenta anos de idade e funcionários públicos. Essas pessoas são o público-alvo da campanha, que está em todos os postos de saúde. Agora no dia 20 será o Dia Nacional da Campanha, com os postos abertos das 8:00 às 17:00.
EVOLUÇÃO – Em relação ao governo do Estado, como está? São milhões destinados a vários hospitais catarinenses, por exemplo. E nós?
DEODATO HUSCHKA – Sempre ganhamos muito pouco, né? Seria interessante se o Estado tivesse a mesma visão do governo federal, com verbas disponibilizadas mensalmente para o Município. O Estado sempre foi mais parceiro na parte técnica.
EVOLUÇÃO – O que o senhor nos deixa como suas considerações finais?
DEODATO HRUSCHKA – Agradecer pela oportunidade e dizer que aceitamos esse compromisso talvez até pela experiência que já temos. Entra inclusive a questão de o prefeito ser filho do doutor Genésio Tureck, com o qual sempre tivemos um bom relacionamento. Em São Bento do Sul muito se resolve aqui mesmo, porque a estrutura é maior do que a de Campo Alegre, onde atuei no governo anterior. Aqui também já conheço a grande maioria dos servidores do setor. Também tenho bom relacionamento com os médicos e confio no trabalho deles – e eles têm sido parceiros. O nosso objetivo é atender bem a população.