César Augusto Accorsi de Godoy, 32 anos, advogado, vereador eleito pelo DEM, com 874 votos. Em sua primeira legislatura já assumiu a presidência da Câmara. Jovem lutador pelas causas populares, sempre se destacou pela sua liderança, inclusive nos tempos de estudante.
Antigamente, quando um vereador se pronunciava na Câmara, a pessoa só tinha dois meios de ficar sabendo. Ou era pelos jornais e uma parte resumida , ou tinha que pedir o áudio para a Câmara e esperar de quinze a vinte dias pela entrega. Hoje a pessoas assiste em tempo real (Foto Elvis Lozeiko/Evolução/Arquivo)
EVOLUÇÃO – Como foi o encontro com a vitória nas eleições?
CÉSAR GODOY – Eu te digo sem a menor sombra de dúvida que o dia da votação foi um dos dias de mais emoção na minha vida. É assustador a emoção que toma conta da gente. Recebi de uma forma bem serena, embora emocionante, porque eu trabalhei muito, não só durante a campanha, mas durante toda a minha vida estudantil e pós-universitária. Você (Pedro Skiba, entrevistador) bem sabe disso, porque acompanhou a maioria das ações. Liderei o movimento Pixurum Gota D’Água, atividades bastante pró-ativas no Diretório Central dos Estudantes, campanha contra a corrupção – cujo movimento gerou processo, campanha contra o aumento salarial dos vereadores em 81%. Aquilo era escabroso, vergonhoso, um atentado contra a inteligência das pessoas. Hoje eu mesmo recebo menos por conta daquele movimento, mas não me arrependo e seria uma falta de vergonha se tivesse sido aprovado. A campanha e a ação pela meia entrada na Schachtfest. Essas atitudes me credenciaram ao longo dos anos. E veja como é interessante. Eu não tive nem a metade da votação que o vereador Márcio Dreveck (PP) obteve com a atuação dele frente a uma secretaria no Executivo. Plantei durante oito anos para poder colher depois com a candidatura. Minha eleição foi fruto de trabalho e boas propostas que posso realizar agora como vereador.
EVOLUÇÃO – Sempre apostamos na sua eleição, escrevemos antes e acertamos – e ainda o aconselhamos a “briga” pela presidência...
CÉSAR GODOY – Foi uma ótima “briga”. Permite-me voltar só um pouquinho no tempo? É interessante como estas “brigas” nos credenciam mesmo. Lembro lá por 2006, quando entramos com a ação para a meia entrada na Schlachtfest – eu era uma espécie de “rei” porque tentei. Ganhei no direito e continuei sendo um “rei” porque consegui. Aí o Ginástico fez o que fez e eu virei um “demônio”. Hoje, passados muitos anos da ação, prevalece o direito dos estudantes e da vitória da ação. O que foi de direito foi conseguido e não tem monstro nem criador. Tem só o que é certo. Voltando à “briga” pela presidência, por que eu queria tanto? Vi um cenário muito propício para eu ser presidente. O prefeito eleito (Fernando Tureck, PMDB), com 31 anos, agora com 32, e eu também eleito com 31 – então a gente conseguiria impor um ritmo jovem, de mudança e de frescor nas ideias. Esse é meu ritmo como presidente. Com quatro meses de presidência consegui efetivar coisas que nunca foram feitas. A transmissão online das sessões, ainda sendo aperfeiçoada. Criei o “Fale com a Câmara”, que não existia. Vamos criar o “Câmara nos Bairros”, com sessões nas Associações de Moradores. Ao meu ver são iniciativas como estas que aproximam a Câmara da população. Por isso eu queria ser presidente. Para impor o meu ritmo, as minha ideias. Como vereador eu tinha um objetivo – como presidente tenho outro. Acredito que estou conseguindo fazer isto aos poucos.
EVOLUÇÃO – Isto é ensinar e proporcionar o exercício da cidadania, da participação?
CÉSAR GODOY – Isto é que eu prezo e prego. Antigamente, quando um vereador se pronunciava na Câmara, a pessoa só tinha dois meios de ficar sabendo. Ou era pelos jornais – e uma parte resumida –, ou tinha que pedir o áudio para a Câmara e esperar de quinze a vinte dias pela entrega. Hoje a pessoas assiste em tempo real sem ir à Câmara – e o que foi dito não é apagado. Se você acessar agora o site da Câmara pode conferir na íntegra todas as sessões, tudo que foi dito e por quem, desde que a sessões passaram a ser transmitidas online. Você, através do site, fica sabendo também se o vereador está trabalhando ou não. É uma ferramenta de fiscalização do trabalho do edil. Não podemos virar as costas para a modernidade.
EVOLUÇÃO – Quais novas iniciativas estão nos seus planos?
CÉSAR GODOY – Nesse sentido é bom dizer que participei da elaboração do Plano Diretor como representante dos alunos indicados pela Univille. Precisamos rever nosso Plano Diretor porque ele não pode ser uma coisa estática. Tem que ser atualizado. Mas, antes de rever, tem uma coisa muito importante. É preciso cumprir o que está nele. Por que eu digo isto? Venho sustentando na Câmara que o que não falta são leis, municipal, estadual e federal. O que falta é cumprimento delas. Um exemplo clássico são as calçadas em nossa cidade. Uma vergonha o que acontece hoje. O cidadão constrói – e sempre com o mesmo pensamento. “Faço bem rapidinho e depois a Prefeitura não desmancha mais”. Hoje um cadeirante não pode andar - a mãe com criança no carrinho é outra vítima. Então a calçada não é prioridade. Outras prioridades que tenho: vereador não pode fazer tudo, mas pode fazer muito. O trânsito de São Bento do Sul é outra coisa caótica, desastrosa. As questões ligadas aos estudantes: tenho muito carinho por este pessoal, me criei no meio universitário. Quero proporcionar melhoria em todos os sentidos, aumento das bolsas para que realmente precisam. Pretendo conversar com o prefeito Tureck para subsidiar parte do ônibus de transporte dos universitários que estudam em outras cidades. A questão dos animais, que é sempre muito falada. Estou com duas legislações no forno para propor. Uma a respeito do comércio de animais. Outra é enrijecer as penalidades para aqueles que maltratam os animais. Também não adiantam só as lei. É preciso fiscalização e conscientização das pessoas.
EVOLUÇÃO – Não fiscalizam porque é antipático e perde voto?
CÉSAR GODOY – Falta conhecimento da legislação, fiscalização e cobrança. Já fui na Prefeitura várias vezes e com quem conversei simplesmente dizem não saber do assunto. São Bento do Sul, lembra, hoje, Barra do Sul. Não tem nenhuma padronização. Calçada começa com quatro metros, acaba com trinta centímetros. Degraus, orelhões, postes, latões de lixo. Vergonhoso. Ou se age ou daqui a dez ou quinze anos seremos uma cidade horrível.
EVOLUÇÃO – Sobre a instalação de uma UPA, que agora já se anuncia como penitenciária?
CÉSAR GODOY – Conversei com o magistrado, o doutor (Luis Paulo dal Pont) Lodetti depois que li a matéria no Evolução. Eu sou terminantemente contra uma penitenciária em São Bento do Sul. Ainda mais com o número de vagas anunciado. Já sabemos que o que for construído para trezentos e sessenta vai abrigar setecentos. O que sou favorável é a construção de um presídio ou outro nome, mas provisório. Aquele que supostamente cometeu um crime e ainda não foi condenado é um preso provisório. Está aguardando julgamento. Mafra hoje recebe presos provisórios de São Bento. Aquele que é condenado, não tem recurso, vai para o presídio. Aquele que cometeu um delito em São Bento do Sul, ou supostamente cometeu, está sendo investigado, esse fica aqui. Uma penitenciária vai muito além de você manter os presos. É o atendimento hospitalar, deslocamento todo feito com escolta pela Polícia Militar e inúmeros outros problemas. Pretendo, na Câmara, abrir o debate sobre o assunto, chamar as autoridades, juízes, Ministério Público, Defensoria Pública, representantes da OAB, Consegs, Acisbs, CDL e todos os segmentos que possam contribuir para discussão do assunto.
EVOLUÇÃO – Isso, na verdade, é que está faltando: debate?
CÉSAR GODOY – Perfeito. Inclusive o juiz Lodetti, que é da Vara Criminal, me disse que você (Pedro Skiba) foi a primeira e única pessoa até agora a perguntar a opinião dele sobre este assunto. Imagine! É ele que julga e é também o corregedor do presídio ou o que aqui for instalado. O governo simplesmente não pode agora, faltando um ano para as eleições, vir aqui e despejar qualquer tipo de obra para dizer que fez. Eu inclusive fiz parte e pedi votos para este governador, mas não pense que iremos esquecer o descaso para com São Bento do Sul. Eu mesmo, na Câmara, pretendo lembrar e esclarecer os eleitores. Agora mesmo está sendo criada a Defensoria Pública e aqui não teremos nenhum. É tudo para Mafra, a exemplo da SDR, Justiça Federal, Receita Estadual, etc...
EVOLUÇÃO – Sobre a lei do silêncio, ou seja, dos sons abusivos em veículos de propaganda sonora...
CÉSAR GODOY – O problema é antigo. Fui um dos que fiz questão de não usar esse tipo de propaganda durante a campanha eleitoral, embora fosse permitido. Não acho necessário proibir nem inviabilizar a atividade de ninguém. O que precisa é bom senso de quem pratica esta atividade, norma e fiscalização. Aliás, em termos de mídia, estamos ultrapassados. A mídia visual, através de placas, outdoor e pintura de fachadas de lojaas, é uma verdadeira baderna. A poluição visual é extremamente agressiva e de mau gosto. Não existe nenhum padrão. É feio. Já tem alguma coisa com a CDL que eu propus. Esta é uma lei antipática, mas que num segundo momento mudará o visual da cidade – e para melhor. Hoje a poluição visual e sonora é um mal de São Bento do Sul. Tem até alguns outdoors que são atentatórios e obscenos pelas fotos e poses exibidas.
EVOLUÇÃO – E o convite para ir para a França?
CÉSAR GODOY – Eu fiquei muito envaidecido. Pois é um convite em função de uma série de fatores. O primeiro é porque é uma instituição europeia que foca na qualificação dos jovens. Politicamente falando, são considerados jovens até 33 anos. Segundo, por eu ser vereador e presidente da Câmara - e com esta idade não ser a regra, mas sim uma exceção. Terceiro, por pertencer a um Estado que sofreu atentados praticados sob o comando de presidiários, que, segundo consta, o fizeram em represália a maus tratos. Ou seja, desrespeito aos direitos humanos dentro dos presídios brasileiros. A França é o berço dos direitos humanos. A visita se estenderá também para a Áustria. Serão treze países participantes. Do dia 19 ao dia 30 de abril, em Strasburg. Estarei representando São Bento do Sul com muito orgulho.
EVOLUÇÃO – Suas conclusões finais, por favor.
CÉSAR GODOY – Pedro, você sabe que o jornal Evolução foi sempre – não vou nem dizer o jornal – mas você foi sempre meu grande parceiro, ainda quando eu mal sabia o que significava política, ou quando minha política ainda era apenas estudantil. Então, mais que agradecer isso, eu coloco a Câmara de Vereadores completamente aberta, a todos que nos lêem, a você principalmente, pelo espaço que sempre me dispensou. O meu objetivo na Câmara é que as pessoas saibam o que lá estamos fazendo.