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A cidade utópica

Sexta, 05 de abril de 2013

...não utilizando de conchavos e alianças indesejadas com aquele que o povo rejeitou nas urnas, que não aprova, não deseja

 

- - Por Humberto Corrêa* - -

 

“Todas as coisas de que falo estão na cidade, entre o céu e a terra... São coisas, todas elas, cotidianas, como bocas, mãos, sonhos, greves, denúncias. Acidentes do trabalho e amor. Às vezes tão rudes, às vezes tão escuras, que mesmo a poesia as ilumina com dificuldade. Mas é nelas que te vejo pulsando, mundo novo, ainda em estado de soluços e esperança...” (Fereira Gullar).

 

“TODAS AS COISAS DE QUE FALO ESTÃO NA CIDADE...”

Quando falo de cidadania, estou falando das coisas da cidade, estou falando de tudo que se faz para que a cidade, seja um bom lugar para se viver e conviver, estou falando que este bom lugar é uma construção paciente e teimosa das pessoas que vivem e convivem na mesma cidade. Nos diferentes lugares de nossas vivências e convivências também nos construímos como cidadãos. Assim, em qualquer lugar em que exercemos a cidadania, somos, ao mesmo tempo, construtores e construídos, artesões e obra de arte. Por isso, é tão importante que, em nossa cidade, as relações que criamos sejam de justiça, solidariedade, respeito, cuidado, ternura. São estas relações cidadãs que nos fazem felizes, porque nos humanizam e nos abrem para o debate com os outros seres que habitam a cidade

 

“AINDA EM ESTADO DE SOLUÇOS E ESPERANÇA...”

Outra cidade possível é uma utopia, um lugar com que sonhamos para nos realizarmos plenamente como cidadãos e cidadãs. Vivendo a cidadania, na busca de outra cidade possível, não podemos negar ou fugir da cidade em que vivemos e convivemos. A outra cidade possível não é, na verdade, outra cidade, mas esta nossa cidade totalmente outra. É nesta cidade, entre luzes e sombras, nas suas “coisas cotidianas...”, que te vejo pulsando, mundo novo.  Dos destinos desta cidade, somos convocados não somente a pertencer, mas a participar, tomar parte.

 

“COMO BOCAS E MÃOS, SONHOS, GREVES E DENÚNCIAS”

Por isso, Rubens Alves, que não é filósofo grego, como Sócrates, Aristóteles ou Platão, diz que todo político é também jardineiro, porque deve saber cuidar da cidade com o mesmo carinho com que cuida de um jardim. Este jardim é feito de projetos e ações conscientes. Não tirando do povo, o seu maior direito: ser político, ser cidadão.  De ter alimento na sua mesa por preços modestos.  Não utilizando de conchavos e alianças indesejadas com aquele que o povo rejeitou nas urnas, que não aprova, não deseja. Negociar cargos em troca de favor no Legislativo. Batam na porta destes negociadores dos nossos direitos e diga “eu não te aprovo, não aprovo as tuas ações que exerce com os meus direitos”.

 

“MUNDO NOVO”

Na participação descobrimos que a cidadania não é algo que se tem para si ou que se dá para outros: cidadania é algo que se constrói e se exerce na relação entre uns e outros. Na participação, nos descobrimos como pessoas, seres de possibilidades, de desejo. E daí nasce nossa consciência cidadã, pois superamos a omissão, a indiferença e a exclusão – para nos engajarmos como protagonistas na construção de um lugar bom para viver e conviver, da nossa e da planetária feliz cidade.

 

*Professor de História, Filosofia e Ciências da Religião



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