Padre Antônio Taliari
Jornalista (DRT 3847/SC)
Missionário em Rondônia, estudando em Curitiba/PR
Neste, 2º Domingo da Páscoa e da Misericórdia, o Evangelho de João, apresenta Jesus Ressuscitado, que visita os discípulos missionários no mesmo lugar em que durante a Última Ceia, tinha garantido que não os deixaria órfãos. Ele prometera que voltaria para lhes dar a sua paz e a sua alegria, tornando-as suas testemunhas na força do Espírito Santo. Diferentemente do livro dos Aos dos Apóstolos, no qual o dom do Espírito é feito em Pentecostes, o Evangelho de João o antecipa na cruz e Jesus o ‘insufla’ nos discípulos missionários na tarde do mesmo dia da Páscoa. Quando, no relato da cruz, João diz que Jesus ‘entregou o Espírito’, essa afirmação tem que ser lida como quase todo o Evangelho de João, em dois níveis: o nível histórico dos fatos brutos e o nível teológico que capta e transmite a profundidade do real. É neste segundo nível que, na cruz, Jesus está entregando, dando, comunicando o Espírito Santo. É o Espírito da nova e eterna Aliança, prometida em Jeremias, que nos dá um novo coração, um coração capaz de viver o que a Lei mandava, mas não tornava possível. Jesus pede que os discípulos missionários recebam, quer dizer, acolham o Espírito Santo. Na verdade, o Espírito Santo é o amor que ele recebe e dá. Ele nos dá o Espírito totalmente, sem mais medidas. Se O temos pouco, é porque nos fechamos muito, pois cada um tem não quanto recebe, mas quanto acolhe. O Espírito, sendo amor, é também perdão. Se o amor é dom, o perdão é superabundante, excessivo, mais do que dom. ‘Perdoar’ vem do ‘dar’ ou ‘doar’ e de ‘per’, que significa ‘mais ainda’, ‘fora dos limites’. Perdoar não é perder, mas, sim, doar! A comunidade recebe o poder de perdoar os pecados. Perdoar os pecados não é fácil, aliás, é milagre. É milagre maior do que ressuscitar um morto. Quem perdoa alguém ressuscita um vivo, pois reconhece o outro como irmão, e ressuscita a si próprio. Quem perdoa ressuscita dois mortos: o ofendido e o ofensor. Tomé não estava presente quando os outros discípulos missionários viram o Ressuscitado. Quando os outros lhe contaram o que tinha acontecido, ele não acreditou no testemunho deles. Quer ver Jesus pessoalmente. O ver pessoalmente em si não é um absurdo; o encontro com o Ressuscitado, de fato, vai do ver ao crer; do tocar ao crer. Tomé, porém, não só tem dúvida a respeito do Ressuscitado; os outros discípulos missionários também tiveram. A dúvida é normal; faz parte do caminho da fé. O problema é que ele exclui o valor do testemunho dos outros discípulos missionários. Excluir o valor do testemunho dos seus companheiros de caminhada é a primeira falência do anúncio pascal. Aliás, é o segundo; o primeiro se deu com Maria Madalena. “Não aceitar por principio o testemunho”, diz o sábio Fausti, “destrói toda relação e torna impossível toda transmissão de conhecimento: sem confiança razoável na palavra do outro, não existe o ser humano, cuja natureza é relação e cultura”! A fé, na verdade, tem um aspecto, testemunhal e comunitária; eliminá-lo é cortar aquele fio que liga os crentes de hoje aos discípulos missionários da primeira hora que testemunham que o Crucificado ressuscitou e, por isso, pode ser reconhecido como “Senhor e Deus”.
Anotações Litúrgicas Importantes
Amanhã, no Brasil, celebra-se a solenidade da Anunciação. O dia próprio desta solenidade é o dia 25 de março, que, este ano, caiu, porém, na Semana Santa.
Amanhã, na recitação do Creio ajoelhamo-nos ao dizer as palavras ‘se encarnou, por obra do Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem’.