O suplente de vereador do PSDB deve assumir na Câmara, pois o titular, José Hermínio Grein, deve passar a responder pela Fundação Municipal de Desportos. Assim, o partido, que até ano passado fazia parte do governo do PP de Magno Bollmann, deve integrar a administração do PMDB. Nesta entrevista, Geraldo fala desta questão e também responde a questionamentos sobre o fechamento do Restaurante Popular – uma vez que denúncia apontaria para um suposto acordo para beneficiar Grein, proprietário de restaurante – e da possível criação de uma Comissão Especial de Investigação.
EVOLUÇÃO – Estamos com o empresário Geraldo Weihermann, 53 anos, ex-diretor do Samae na gestão de Magno Bollmann, do PP. Foi candidato a vereador pelo PSDB, conquistando 738 votos, se tornando o primeiro suplente do partido. Seu nome chegou inclusive a ser cogitado para ser vice do atual prefeito, Fernando Tureck, do PMDB. Ele se manteve no PSDB, ao lado do candidato à reeleição, Magno Bollmann, que foi derrotado. Passados seis meses das eleições e três do atual governo, temos uma reviravolta política, com o anúncio da saída do titular da vaga de vereador, José Hermínio Grein, que deverá assumir a Fundação Municipal de Desportos – com isso, possibilitando a ascensão de Geraldo à Câmara. O que mais se fala na comunidade é a questão da ideologia partidária e a fidelidade aos acordos. Geraldo, o que teria levado a sucumbir aos encantos do poder e assumir uma vaga na Câmara, justamente você que foi oposição ao atual governo?
GERALDO WEIHERMANN – Tivemos conversas entre o PMDB e o PSDB. No mês de abril do ano passado os principais cargos do PSDB saíram do governo Magno Bollmann. Assim, poderíamos ficar livres para “negociar” ou o apoio à reeleição do Magno ou à outra candidatura. Conversamos inclusive com o (então vereador, Antonio) Tomazini (DEM). A conversa estava bem adiantada, mas não deu resultado. Também fomos procurados pelo então candidato Fernando Tureck, podendo compor com o meu nome para vice. Levamos esse assunto aos nossos candidatos a vereador e fizemos uma votação. O apoio à candidatura de Magno Bollmann ganhou. Mas a votação não foi unânime, como também não foi unânime a decisão de fazer parte do governo Fernando Tureck.
EVOLUÇÃO – O PSDB já havia sentado com o PMDB, mas consta que o acordo não deu certo porque uma das exigências seria você ser secretário de Saúde. Isso é verdade?
GERALDO WEIHERMANN – Não era uma exigência, não. Dentre as secretarias que ainda não tinham seus nomes anunciados, havia a Secretaria de Educação e a continuidade de trabalho do Samae. O vereador Grein recebeu convite feito pelo prefeito eleito Fernando Tureck para ir à Fundação de Desportos. Ele declinou do convite, na época, querendo assumir na Câmara. Ele repassou o convite para mim. Eu também não aceitei, sem demérito ao esporte, mas eu queria voltar aos meus negócios. Agora, porém, aconteceu novamente esse convite – e ele aceitou.
EVOLUÇÃO – Nas chamadas redes sociais, são muitos os comentários – de pessoas que apóiam a sua atitude, de pessoas que criticam e de quem se diz desiludido com esse troca-troca. Como você vê essa situação?
GERALDO WEIHERMANN – Isso é democracia. Toda a unanimidade é burrice, já dizia o Nelson Gonçalves. Pessoas a favor e pessoas contra? Faz parte. Respeito os dois lados. Agora, partir para ataques pessoais ao vereador Grein já é baixo nível. Um partido fazer parte do governo? Isso acontece em todos os níveis. Quando Lula ganhou do Fernando Henrique, o PMDB fez campanha para o Serra – foi inclusive vice dele. Depois, foi compor com o governo do PT, e está até hoje lá. Aqui em São Bento, no início da gestão do Magno Bollmann, o PT e o PSD foram convidados para compor a maioria da Câmara. É uma prática... se é condenável, é também usual e normal. Lá na Alemanha vemos o governo que ganha fazer coalizão com outro partido para ter maioria no Congresso. Isso acontece em todas as democracias. O governo quer ter tranquilidade para governar. O povo elegeu o prefeito para ele trabalhar pela comunidade, não para ficarmos lá apenas batendo e falando mal. Vamos buscar soluções! Com nossas ideias, com nossas propostas, com nosso tempo, para ajudar São Bento do Sul.
EVOLUÇÃO – A sua gestão frente ao Samae foi bastante elogiada. Porém, já se diz que essa composição entre PSDB e PMDB foi para camuflar um “excesso de horas extras” que havia no Samae. O que você diz sobre isso?
GERALDO WEIHERMANN – Meu Deus do céu!!! Cada coisa que inventam, né? Em duas situações acontecem horas extras no Samae. No final do ano, quando voltei ao Samae, a área comercial estava fazendo uma campanha de adesão das contas de lixo juntamente com as contas de água para quem ainda não tinha feito este processo. Quando retornei, autorizei a continuação da campanha – inclusive aos leituristas, que fariam o trabalho à noite ou nos finais de semana, quando é possível encontrar as pessoas em casa. A adesão das contas visava a uma melhor cobrança das mesmas. Então, esses funcionários receberam um volume de horas extras. Foram feitas mais de três mil adesões ao final de processo. Com a adesão, aumentamos a arrecadação da taxa de lixo para a Prefeitura. Isso realmente aconteceu. Se esse é o problema, que bom!!! Conseguimos transformar a conta de lixo, do prejuízo de R$ 800 mil quando assumi para um lucro de mais de R$ 400 mil em 2011 – este lucro foi repassado para a redução da tarifa em 2012. Quando a pessoa paga a taxa juntamente com a conta de água, quase não há inadimplência. Para o usuário, também é uma grande vantagem, porque ele ganha 15% de desconto. Então, é bom para o usuário e para o Município.
EVOLUÇÃO – Qual será sua posição na Câmara, uma vez que o cargo praticamente não pertence ao suplente? Ou seja, em qualquer contrariedade, o Grein pode ser exonerado, por exemplo. Como deve ser comportar na Câmara?
GERALDO WEIHERMANN – Não vou ser vaquinha de presépio do Fernando Tureck. Ponto. O PSDB é um partido independente do PMDB. Ponto. Se houver qualquer situação que me incomode do ponto de vista ético e moral, ou mesmo se eu não concordar, primeiro vou conversar com quem apresentou a proposta. Se houver insistência na votação, vou votar conforme minha consciência e com as deliberações que o PSDB tomar.
EVOLUÇÃO – Circulam rumores de criação de uma Comissão Especial de Investigação por conta do fechamento do Restaurante Comunitário. Você pode adiantar se votaria a favor?
GERALDO WEIHERMANN – Voto a favor, sim. Se há suspeitas, vamos apurar! Hoje (quarta-feira) tive reunião com o Grein e disse: “Fique quanto tempo quiser (na Câmara), já que você também está sendo citado nessa tal de CEI”. São muitas inverdades sendo colocadas no ar, tudo por causa de um partido dar apoio a outro para dar governabilidade. Estão procurando chifre em cabeça de cavalo. Se o PP quer abrir a CEI, o PSDB vai apoiar a criação.
EVOLUÇÃO – Gilmar Foitt, seu colega de partido e integrante da CDL, pergunta quem será seu assessor.
GERALDO WEIHERMANN – Será meu amigo e ex-presidente do PSDB, Wilson João Bento, que já foi candidato, foi vereador, foi presidente da Câmara. Ele tem faculdades, tem pós-graduações. Ele tem larga experiência e será meu assessor na Câmara.
EVOLUÇÃO – Pipocaram denúncias de que o esquema de fechamento do Restaurante Comunitário faz parte do acordo com o PSDB apoiar o PMDB, uma vez que o Grein é proprietário de um restaurante vizinho ao Restaurante Popular.
GERALDO WEIHERMANN – Acho uma palhaçada isso! Por isso disse a ele: “Vá lá e peça para eles fazerem essa CEI”. Ele disse que está com a consciência super-tranquila, porque são inverdades. Se houvesse qualquer suspeita em relação a isso, eu não teria negociado nada, até porque foi o vereador que foi convidado. Querem juntar um problema com o outro. Todos conhecem o restaurante do vereador, que está sempre lotado. Ele foi contra em 2011, porque algumas pessoas teriam uma refeição mais barata e outra não. Mas isso foi em 2011!
EVOLUÇÃO – O abandono das supostas ideologias partidárias não desilude mais ainda o eleitor e aumenta o descrédito dos políticos?
GERALDO WEIHERMANN – Infelizmente há muito tempo perdeu-se a ideologia, quando foi aberta a criação de mais de trinta partidos políticos. Vamos voltar na história um pouco. Final da Ditadura Militar, 1985, “Diretas Já”, e sobem ao palanque os exilados Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Tancredo Neves, Luiz Inácio Lula da Silva, etc. Todos eles em busca das “Diretas Já”, das eleições para presidente. Dois partidos de Esquerda, formados por exilados, por José Dirceu, por Lula, José Genoíno no caso do PT; e José Serra, Mário Covas, Fernando Henrique no caso do PSDB. Um mais para a Social-Democracia, outro mais para o Socialismo. Por conjunturas eleitorais, os dois foram para o segundo turno naquela eleição. Lá começou a rivalidade do PT com o PSDB. Ideologicamente, estatutariamente, os partidos têm uma linha muito similar. Ambos vieram do combate à Ditadura. Os partidos foram formados com linhas tênues. Agora, depois de anos, os dois partidos vão para o segundo turno para presidente e se combatem. Ou seja, política é embate. Pega Vasco e Flamengo – é sempre um contra o outro. São inimigos? Não são. São adversários. Veja bem: duas pessoas do PT trabalharam comigo no Samae, o Abel (Volinger) e o (Luiz Carlos) Pedrozo. Pergunte a eles o que eles acharam da nossa gestão.
EVOLUÇÃO – Voltando ao tema anterior, recentemente houve denúncias de que não estariam sendo feitos os repasses dos recursos da CDL para o Restaurante Comunitário, sendo que teria existido até uma oferta de emprego para o ex-proprietário do restaurante. É muita coisa que não está sendo explicada. Não está faltando transparência? Não faltam explicações?
GERALDO WEIHERMANN – Acho que isso deve ser explicado. Essa questão do emprego não caiu bem. Não se deve tratar assim este assunto. Pelo que sei, o governo passado tinha um convênio que se encerrou no dia 20 de dezembro – e o governo atual não renovou esse convênio. Deveria ter explicado isso mais claramente. Não tenho domínio sobre todo este assunto. Eu preferiria que as partes esclarecessem isso melhor. Seria muito mais racional.
EVOLUÇÃO – Mas na própria Câmara tem vereador que diz: “Eu não sei”, “Ouvi dizer”, “Me contaram...”.
GERALDO WEIHERMANN – Vamos buscar informações! Antes de eu assumir na Câmara, vou tomar ciência desse assunto. Sou favorável a um Restaurante Popular, mas tem que haver um critério. Em relação ao que aconteceu, tem que se explicar quem fez.
EVOLUÇÃO – Qual será sua plataforma de atuação na Câmara? Algum projeto que de repente pode apresentar?
GERALDO WEIHERMANN – Defendi algumas bandeiras na Câmara. O vereador não é só legislador; é fiscalizador e quem leva os anseios da comunidade a público. Veja a questão de áreas de lazer. Tivemos a feliz experiência de fazer o Parque do Samae. Aquela região agora é supermovimentada. Foi um investimento barato, que pode ser multiplicado em São Bento. Então, eu defendo essas áreas de lazer. Defendo a questão da melhoria do atendimento nos Postos de Saúde até mais tarde, nos bairros. Às vezes a mãe leva o seu filho para o hospital, e lá fica entulhado de gente – e a maioria acaba até sendo mal atendida. Se estendermos o horário nos bairros, isso pode ser melhorado. Vou inclusive cobrar essa questão do prefeito Tureck, já que ele colocou no Plano de Governo.
EVOLUÇÃO – Como vê a possível construção de uma UPA em São Bento?
GERALDO WEIHERMANN – Quanto à Unidade Prisional, sou a favor, desde que tenha condições de reabilitar o preso. Que haja uma unidade industrial ou agrícola para ele poder trabalhar. Se for um depósito de preso, sou contra, porque daí teremos mais bandido na cidade.
EVOLUÇÃO – Como avalia a falta de atenção do governo estadual com São Bento do Sul? Temos até mesmo um deputado estadual eleito pelo PP (Silvio Dreveck). Fizemos uma crítica aberta a ele, que disse que o governo do Estado já trouxe R$ 1,5 milhão para São Bento. Porém, fazendo as contas, o deputado já custou R$ 7 milhões. Como não houve contestação, imagina-se que quem cala, consente.
GERALDO WEIHERMANN – Vejo que o governo estadual há tempos está omisso com São Bento do Sul. No mínimo há uns dez anos. Essa Rodovia dos Móveis é uma vergonha. Hoje é a “Rodovia dos Buracos”. É triste essa realidade? A iluminação na Serra Dona Francisca está precária. São Bento não tem representatividade no governo. Sempre acham que São Bento é “riquinha” e que não precisa de nada – e sempre estamos pagando esse preço. O governo leva nosso ICMS, nosso dinheiro, e isso não está voltando.
EVOLUÇÃO – Estamos com vários patrimônios à venda em São Bento do Sul, de antigas empresas. Tem a Imocol, tem a Consular, a Intercontinental fechada. Quer dizer, não se está dando lugar às ruínas em vez do progresso? Agora já se discute se a Walmart pode ser construída na antiga Zipprinho... Ou seja, em vez de atraí-los, não estamos espantando investimentos?
GERALDO WEIHERMANN – Tem empresas que foram à falência, então é difícil tratar isso. O nosso Plano Diretor precisa ser revisto. O último grande Plano Diretor foi feito na década de 70, com o então prefeito Osvaldo Zipperer. Depois, o Rubén Pereyra, no governo Frank Bollmann, deu uma atualizada no Plano Diretor. Foi criado o Conselho da Cidade, inclusive.
EVOLUÇÃO – Na gestão de Fernando Mallon...
GERALDO WEIHERMANN – Foi feita a Área Industrial e tal. Algumas coisas foram evoluindo, mas a cidade precisa avançar e criar leis mais flexíveis. Estamos com um bom crescimento econômico. Inclusive vi no Caged que em janeiro e fevereiro foram 719 novas vagas de emprego – o que é um emprego muito bom. No ano passado inteiro, foram 1,2 mil vagas! Temos esse foco de crescimento, estamos diversificando a economia. Assim, novas oportunidade surgirão.