Ser trabalhador e dono de um pequeno negócio para complementar a renda da casa eram motivos de orgulho para o comerciante Antônio Possenti, 76 anos, responsável por uma agropecuária no bairro Fátima, na zona Sul de Joinville.
Mas a presença dele atrás do balcão também o fez virar alvo de um tiro à queima-roupa, na manhã de quarta-feira, disparado em um assalto em plena luz do dia. Sobre o bandido, tudo o que se sabia no mesmo dia eram relatos de que fugiu a pé após acabar com a vida de um pai de família, por causa de alguns trocados.
Antônio estava sozinho na hora do crime. Esperava os clientes sentado nos fundos da loja, como de costume. A mulher dele, Lúcia Possenti, 76 anos, havia chegado em casa minutos antes, após buscar exames de saúde. O casal morava em cima do ponto comercial. Não há indícios de que o idoso tenha tentado reagir ao assalto. Como testemunhas viram o bandido entrar e sair rapidamente da agropecuária, é considerada pela polícia a hipótese de um latrocínio (roubo seguido de morte) premeditado.
A companheira e três dos sete filhos do comerciante ainda acompanharam de perto os últimos suspiros dele, enquanto socorristas do Samu tentavam reanimá-lo. O helicóptero da Polícia Militar aterrissou numa área próxima para agilizar o deslocamento até o hospital, mas Antônio não resistiu.
Cercados por uma multidão de vizinhos e curiosos, familiares da vítima não contiveram as reações de revolta enquanto polícia e perícia analisavam a cena do crime.
— Um trabalhador, nunca fez mal nenhum a ninguém. Estava sozinho, desprotegido. Como pode um bandido tirar a vida dele por nada? Como conseguem proteger bandidos por direitos humanos? Os direitos dele e da nossa família não foram protegidos —, desabafou Santo Possenti, 47 anos, um dos filhos da vítima.
Nascido em Siderópolis, no Sul de SC, Antônio mudou-se com os filhos para Joinville há 40 anos, quando largou a lavoura para tentar a vida na cidade. Há pelo menos três décadas mantinha o negócio na rua Fátima.
Polícia à procura do suspeito
A Divisão de Homicídios da Polícia Civil de Joinville assumiu a investigação do caso ainda durante o trabalho de perícia na cena do crime. Uma das primeiras providências do delegado Jeferson Alessandro do Prado Costa foi assistir imagens de uma câmera de vigilância instalada em uma loja que fica ao lado da agropecuária.
Trechos do vídeo mostram um homem com as características do suspeito – camiseta amarela e bermuda com estampas – mas não permitiram que a polícia identificasse o criminoso porque só o filmaram de costas, saindo do comércio.
Conforme testemunhas, ao deixar a agropecuária, o assaltante ainda invadiu um salão de beleza e uma loja de móveis antes de seguir em fuga.
Segundo comerciantes, o homem parecia desorientado.
— Ninguém o segurou porque estava armado e não sabíamos o que havia acontecido —, conta.
Policiais militares se dividiram em rondas por toda a zona Sul de Joinville, mas nenhum suspeito foi detido até o fechamento desta edição.
Antônio era casado e tinha sete filhos. Ele está sendo velado em casa e será sepultado às 16 horas desta quinta-feira, no Cemitério Nossa Senhora de Fátima