Padre Antônio Taliari
Jornalista (DRT 3847/SC)
Missionário em Rondônia, estudando em Curitiba/PR
Neste, 3º Domingo do Tempo da Quaresma, o Evangelho de Lucas, começa com dois episódios de crônica, o assassinato de alguns revoltosos políticos e um acidente que fez várias vítimas, e termina como uma parábola. A pergunta que os dois primeiros levantam vem da impossibilidade humana de entender a impotência divina: por que Deus permite opressão e violência, os desastres e as calamidades? Os desmandos da natureza e as injustiças da história parecem passar a ideia de que o maligno esteja no comando da situação. No caso envolvendo Pilatos, espera-se que Jesus julgue entre maus e bons; no caso da torre assassina, perde-se a esperança num Deus que permite a morte de inocentes. Jesus toma essas duas situações, evidentemente difíceis, para ensinar o necessário discernimento que o cristão deve exercitar diante dos acontecimentos históricos e naturais. O mal, presente tanto na história quanto na natureza, está intimamente ligado ao pecado, mas, a despeito das aparências, não escapa das mãos daquele Deus que tem nas mãos os abismos da terra, que recolhe em odres as águas do mar. Se é verdade que todos pecamos, e não temos nem de longe condição de avaliar as nefastas consequências do pecado, é mais verdade ainda que o nosso mal é agora o lugar da nossa salvação, pois “onde abundou o pecado, superabundou a graça”. Estando assim as coisas, todos os acontecimentos devem ser lidos, em profundidade, em termos de perdição e de salvação. Os acontecimentos humanos e naturais desvelam a perdição da qual Deus nos salva, pela graça, e, ao mesmo tempo, a nossa conversão. Àquele do qual nos afastamos. Libertamo-nos, assim, do maniqueísmo, que, com um simplismo tão claro quanto enganador, só conhece duas cores na pintura do mundo: o branco do bem e o preto do mal. Não desprezamos a analise que busca, nas realidades físicas ou sociais, o conjunto das causas que as sustentam e promove. Mas focamos as lentes antes de tudo em nós mesmos, para ver o mal que está dentro de nós, do qual devemos e podemos converter-nos. Sem deixar de lado outros níveis da realidade, é preciso ir à raiz, distinguindo e isolando o fermento que move a nossa vida. Neste nível, Jesus nos ensina que só há duas possibilidades: O fermento do adversário, que domina por meio do medo e nos leva a ter mais, a gozar mais, a aparecer mais, e o fermento Reino, que nos liberta pela confiança filial e pela acolhida do dom. O ‘mal’ não é um problema, mas ‘o’ problema que desata todos os outros. a tentativa de defender-nos dele põe em movimento a história humana e todos os seus motores. É o maior desafio para a fé: pode nocauteá-la ou fortalecê-la, negá-la ou fazê-la dar um salto de qualidade. O mau discernimento divide os bons dos maus em nome da justiça. Não só. Considera o bem fraco e impotente e o mal, inevitável e fatal. Além disso, pensa que o sofrimento seja por si e necessariamente um mal. O bom discernimento, ao contrario, abre os olhos e leva a uma mudança de vida, integrando os vários níveis que o maniqueísmo, o objetivismo e o subjetivismo desarticulam. Isso não acontece de uma hora para outra. A hora é agora e a hora é a história, o tempo da liberdade que continua a fluir para que todos tenham o modo de encontrar a ternura e a misericórdia de Deus. A história, em seu sentido profundo, é o ‘ano’ da paciência e da misericórdia de Deus, dilatação da salvação e dilatação do juízo, sempre por mais um ano, de então até agora e de agora até o fim do mundo. Conversão e história andam juntas assim como misericórdia e paciência, esperança e espera. No princípio e no fim, está a bondade de Deus que nos empurra e atrai para a conversão.
04/03/13 – Seg: 2Rs 5,1-15a – Sl 41 – Lc 4,25-30
05/03/13 – Ter: Dn 3,25.34-43 – Sl 24 – Mt 18,21-35
06/03/13 – Qua: Dn 4,1.5-9 – Sl 147 – Mt 5,17-19
07/03/13 – Qui: Jr 7,23-28 – Sl 94 – Lc 11,14-23
08/03/13 – Sex: Os 14,2-10 – Sl 80 – Mc 12,28b-34
09/03/13 – Sáb: Os 6,1-6 – Sl 50 – Lc 18,9-14