Diante de 144 cardeais reunidos na quinta-feira em sua despedida como Papa, Joseph Ratzinger proclamou: um deles será seu sucessor. Apesar de usar uma figura de linguagem, já que nem todos os candidatos ao papado estão no Vaticano, Bento XVI deu a largada nos preparativos para a eleição do seu substituto.
Dos presentes, 115 receberão nesta sexta-feira a convocação oficial para a votação, vinda do cardeal Angelo Sodano, decano do Colégio Cardinalício. Há poucas certezas sobre a votação, que ainda não tem data definida.
A previsão é de que reuniões preliminares ocorram a partir da próxima segunda-feira, e o conclave, por volta do dia 10 de março — para que se cumpra a tradição de celebrar a chamada missa de entronização do novo pontífice em um domingo. Uma coisa é certa: ao contrário do pleito que elegeu Ratzinger com quatro votações, em 2005, o conclave atual não tem favoritos.
Na quinta-feira, os aposentos de Bento XVI foram selados pelo cardeal camerlengo e secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone. Durante a Sé Vacante, Bertone ou cardeal algum tem poder ou jurisdição sobre as questões relacionadas ao papa, reservando-se apenas a preparar a sucessão.
Antes do conclave de 2005, os participantes ficavam alojados na Casa de Santa Maria. Desde então, ficam hospedados distribuídos por todo o Estado pontifício, em locais providos de alta segurança contra espionagem.
Os espaços que receberão os votantes serão inspecionados pelo camerlengo para evitar vazamento de informações durante o processo. Sem contato com o mundo exterior, os cardeais podem ser excomungados caso transgridam a regra.
Antes das reuniões, alguns religiosos arriscaram expressar expectativas para o próximo pontificado. O belga Godfried Danneels afirmou que o futuro papa deverá "tomar a Cúria nas mãos". O chefe da Igreja australiana, George Pell, foi mais crítico pela forma "desestabilizadora" com que o pontificado de Joseph Ratzinger foi encerrado.
— O governo não é o seu forte. Prefiro alguém que saiba conduzir a Igreja e uni-la um pouco — disse o cardeal, citando também seu descontentamento com o vazamento de documentos confidenciais do Vaticano.
Tudo se encaminha, na opinião do cardeal brasileiro dom Geraldo Majella Agnelo, a uma disputa em que "ninguém que se sobressaia". A questão agora, parece, é de paciência.