
A morte do garoto Kevin Douglas Beltrán Espada, de apenas 14 anos, causou comoção não só em Oruro, local do incidente na partida entre San José e Corinthians, quarta-feira, mas também em toda a Bolívia. Nos discursos de todas as autoridades locais na última quinta-feira, ficou a sensação de que o país clama por justiça e punição aos responsáveis pelo lançamento de um sinalizador de navio que vitimou Kevin.
No plano esportivo, o clube paulista já foi punido. A Conmebol anunciou na noite de quinta-feira que o Corinthians vai jogar suas partidas como mandante na Libertadores com portões fechados, sem torcida. O clube terá três dias para apresentar sua defesa.
Na Bolívia, a autoridade mais ponderada no caso tem sido a fiscal de investigação (equivalente à delegada) Abigail Saba, que comanda todo o processo e está em contato direto com os 12 torcedores presos e indiciados por homicídio – Saba não especificou se culposo ou doloso. Ela avisou que o caso é de “repercussão nacional” e que será tratado como extremo cuidado.
- Fizemos a valoração de todas as provas apresentadas. Foi realizado um requerimento formal de imputação de medidas cautelares, isso será apresentado ao juiz cautelar, ele vai assumir essas medidas e julgá-las. É um caso de repercussão nacional e será tratado como tal. O que posso dizer é que as investigações estão sendo conduzidas com total seriedade, e que os responsáveis serão punidos - afirmou Abigail Saba.

O discurso do governador do departamento de Oruro, Javier Tito Vélez, foi mais incisivo. Ele cobrou uma resolução rápida da polícia e pediu que nenhum dos 12 brasileiros presos seja liberado enquanto o caso não for esclarecido.
- É um crime que choca todo um país. Uma torcida apaixonada, sem histórico de violência, só de amor ao seu clube. Não estamos acostumados a isso na Bolívia. Para nós, futebol é uma festa. Por isso, estamos todos chocados. Vou cobrar atenção máxima para que ninguém saia ileso nesse julgamento - disparou Tito Vélez.

A imprensa boliviana deu grande destaque à morte do garoto de 14 anos durante toda a quinta-feira, sempre com um discurso de choque. A tragédia deve servir para aumentar o cerco em cima das próprias torcidas do país, acostumadas ao uso de sinalizadores. Antes do jogo contra o Corinthians, por exemplo, parte da “hinchada” do San José fez grande festa com inúmeros artefatos desse tipo – mas não tão potentes quanto o que matou Kevin Espada. Em um mosaico, inclusive, era possível ler “La Temible” (A temível), nome que a torcida de Oruro adotou.
Nesta sexta-feira, os 12 indiciados vão passar por audiência para julgamento das medidas cautelares normais de um processo como esse. Isso serve para saber se os torcedores responderão ao processo em liberdade ou terão a prisão preventiva decretada. A apuração de todos os fatos deve durar pelo menos seis meses, de acordo com a fiscal de investigação Abigail Saba. Pela lei local, o condenado por homicídio pode pegar de 5 a 20 anos de prisão.