Natal, Réveillon e a temporada deverão ser de transtornos nos atendimentos hospitalares públicos em Santa Catarina. O motivo é a greve dos servidores, que tende a seguir nos próximos feriadões e em janeiro.
O sindicato da categoria e o governo do Estado estão longe de acordo. A contratação de mil funcionários temporários surge como reação para amenizar a situação, principalmente na Grande Florianópolis e Norte.
O impasse entre as partes dura 56 dias. Na tarde desta segunda-feira, havia expectativa de acordo com a proposta de premiação por produtividade depois de quatro meses de resultados, mas foi rejeitada pelo Sindisaúde, o que aumentou a preocupação da Secretaria de Estado da Saúde.
O esvaziamento no atendimento preocupa justamente na época da chegada de turistas. Há um outro agravante nesta época do ano: os acidentes de trânsito nas BR-101 e 282, na Grande Florianópolis, que geralmente aumentam significativa o número de atendimentos das emergências dos hospitais.
- Está havendo uma intransigência do Sindisaúde. Conseguimos oferecer uma premiação por produtividade em que teríamos impacto de R$ 3 milhões ao mês. Mas eles insistem na gratificação de 50% que chegaria ao impacto de R$ 10 milhões, o que é inviável - ressaltou o secretário adjunto da Saúde, Acélio Casagrande, após a terceira reunião sem avanços com o Sindisaúde, no Ministério do Trabalho, em Florianópolis.
A contratação dos mil temporários deverá por seis meses, com o recrutamento de enfermeiros e técnicos de enfermagem como prioridade nos próximos dias. Na segunda-feira, a Saúde estimava que a paralisação atingia 20% dos 10,2 mil funcionários, em oito hospitais, que contabilizavam entre 35% e 40% dos leitos fechados por falta de profissionais para os atendimentos.
Em Florianópolis, as unidades em que há greve são o Hospital Celso Ramos, a Maternidade Carmela Dutra e o Hospital Infantil Joana de Gusmão. Em São José, o Hospital Regional e o Instituto de Cardiologia. Em Joinville, o Hospital Regional e a Maternidade Darci Vargas e, em Lages, o Hospital Tereza Ramos.
Sindicato divulga panfletos no exterior alertando turistas
Um panfleto que está sendo divulgado pelo SindSaúde para autoridades da Argentina, Paraguai, Chile e Uruguai piorou ainda mais a relação dos sindicalistas com o governo do Estado. No documento, alertam que a temporada terá situação caótica no atendimento e que o serviço de saúde catarinense está comprometido.
No texto, o SindSaúde diz que a rede estadual está parada desde o dia 23 de outubro, expõe valores de remuneração dos servidores e critica o governo. Os grevistas lembram também dos ataques criminosos ocorridos em novembro e acusam o governo de não ter se preocupado a respeito.
O governo do Estado e a Secretaria de Estado da Saúde receberam com indignação o manifesto do SindSaúde e contestaram a informação de que não haja um bom serviço de atendimento na área, pelo Estado.
A assessoria de imprensa do governo afirmou que o governador Raimundo Colombo considera a greve como política, que extrapolou a razoabilidade e por isso não haverá negociação nem audiência com os representantes da categoria.
Ainda conforme a assessoria, o governador tem a real dimensão da situação, está fortalecendo o quadro de funcionários - contratação de mais de 50 servidores para o Hospital Regional de São José - e honrando com os valores por exemplo da hora plantão. O governo também voltou a afirmar que não há dinheiro em caixa para reajustes.
ENTREVISTA: Pedro Paulo das Chagas, presidente do SindSaúde.
O SindSaúde nega intransigência, mas afirma que a greve vai entrar janeiro a dentro. Confira a entrevista dada na tarde desta segunda-feira pelo presidente.
Diário Catarinense - O governo diz que a proposta da premiação é viável e deveria encerrar a greve. Por que o sindicato não a aceitou?
Pedro Chagas - A categoria não aceitou porque não confia na economia. Estão tratando um valor se economizar. Eu vou comprar um carro, tu vende o teu carro pra mim, eu vou lá dou 10 de entrada e depois vou lá e digo que se eu ganhar na mega sena eu te pago o carro. E se eu nunca ganhar?
DC - O que vocês exigem?
Pedro - O nosso vencimento (mostra vencimento com cerca de R$ 3 mil mensais e o vencimento básico de R$ 1.939), fica pela nossa proposta R$ 50% do vencimento de cada funcionário. O menor salário é R$ 958 e o maior R$ 3.257. É desses que estamos pedindo 50%. A cada quatro meses não contempla (produtividade).
DC - Temos as festas agora, o que tem a dizer a população que vai encontrar problemas?
Pedro - Não é nossa vontade. Por nós não teria nem greve. Mas a categoria entende que se não tem proposta entra janeiro a dentro.
DC - Por que se chegou a esse ponto, de quase 60 dias de greve?
Pedro - Saímos pedindo 60% de gratificação. Vê quanto a Fazenda, PGE, ganham de gratificação. A Saúde não pode ter. E dentro do próprio prédio da secretaria tem gratificação. Os nossos hospitais não têm. Então estamos pedindo para todos.
DC - E esses panfletos enviados ao exterior?
Pedro - O comando de greve mandou para o Mercosul - pedindo para não vir não -, avisando que a Saúde pública está em greve. Foi para não encher a cidade sem saúde pública. Quem deveria fazer isso era o governo. Nossa preocupação é que vem muitos argentinos com crianças e eu vejo o Hospital Infantil.
DC - O governo diz que vocês são intransigentes na negociação...
Pedro - De maneira alguma. Podemos dizer isso deles. Vamos manter a greve como está. A Saúde está um caos e o caos não foi criado pela greve. A greve só escancarou a greve. Esperamos solução. Se nós chegássemos no governador teríamos resolvido. E achamos ainda que ele não sabe a real situação. Eu queria que ele fosse nos hospitais para ver como é que está.