Veríssimo na livraria
E de repente descobrimos que o único best-seller brasileiro capaz de agradar público e crítica estava internado em estado grave. E tudo por causa de uma simples gripe. Enquanto escrevo, Veríssimo já parece melhor e deve se recuperar. Por uma dessas inexplicáveis coincidências, exatamente um ano antes estourou a notícia de que ele talvez parasse de escrever. Era uma matéria apelativa, mas mostrava que mesmo o maior dos nossos cronistas não conseguia se sustentar somente com o que escreveu. E precisava continuar escrevendo, escrevendo.
Na busca por Veríssimo
Confesso que já li livros inteiros dentro da própria livraria. Até porque, como diz o Eduardo Galeano, hoje em dia a polícia não precisa mais censurar os livros: os preços se encarregam disso. Os livros que li foram sempre os de crônicas, pois esses eu posso abandonar a leitura no meio e recomeçar em outro dia, sem prejuízos no entendimento da história.
Outro dia eu estava numa livraria justamente para ler, na minha cara-de-pau, um livro do Nelson Rodrigues que custava, na cara-de-pau da livraria, 73 machadinhas. Pois bem. Eu ainda olhava as prateleiras quando ouvi uma conversa – eu ouço todas as conversas de uma livraria. Era uma senhora, perto dos 50 anos, que procurava um livro e pedia ajuda a uma atendente, que também não era das mais novas. Queria alguma obra do Luís Fernando Veríssimo e não estava encontrando.
A atendente foi direto na letra L, o que teria resolvido o problema, desde que os livros não estivessem organizados pelo sobrenome do autor. Mas ela não se deixou abater e explicou: é preciso olhar gênero por gênero. Percebi que não fazia ideia do tipo de texto que o Veríssimo fazia. E começou a procurar na prateleira de biografias. Eu não sei se existe uma biografia do Luís Fernando Veríssimo, e se existe eu tenho uma constatação a fazer: está incompleta. Também desconheço que ele tenha escrito a biografia de quem quer que seja. Logo, a atendente estava perdendo tempo ali.
Por um feliz acaso do nosso alfabeto, coincidiu da próxima prateleira ser a de contos e crônicas. E lá havia realmente alguns livros do Veríssimo. A mulher que procurava olhou bem para eles e constatou: “Já tenho todos”. Naquele momento, estive a ponto de amar aquela mulher. A atendente partiu então para a prateleira de romances e reparou que havia muitos do Veríssimo por lá – todos do Erico, que, como quase todo mundo sabe, não é o Luís Fernando.
A mulher alertou a atendente de que o Erico era o pai do Luís Fernando, e que estava tudo entre família, mas que definitivamente eles não eram a mesma pessoa. Confessou também que achava o Erico “meio chato” – e foi nessa ocasião que deixei de amá-la. Em seguida partiu para o caixa levando um dos poucos romances escritos pelo Luís Fernando.
Bolas, uma atendente de livraria que não conhece o Luís Fernando Veríssimo, e que não havia reparado ainda que existe um outro escritor com o mesmo sobrenome poderia muito bem ser demitida por justa causa. A sorte dela é que nem eu e nem a mulher somos malvados o bastante para reclamar. Porque se eu fosse ruim, mas ruim mesmo, eu chegaria para ela e perguntaria:
- Vocês têm algum livro do José Veríssimo?