A diretora do Hospital e Maternidade Sagrada Família concedeu esta entrevista na manhã de quarta-feira, falando principalmente do “caso Rim e Vida”. Durante a conversa, ela destaca pontos do contrato com a clínica, da audiência de conciliação que acontecerá no dia 11, da preocupação com o aspecto humano com o impasse e que o assunto chegou inclusive a sair do campo profissional, indo para questões pessoais.
Desde o início das tratativas e das negociações, aumentamos o tempo de desocupação do espaço de um mês para quatro meses. E, para prestação do serviço, de um mês para dois meses. A prestação de serviço termina realmente no dia 3 de dezembro. A partir da zero hora do dia 4 de dezembro a Pró-Rim vai prestar um serviço aos doentes internados principalmente na UTI (Foto Elvis Lozeiko/Evolução)
EVOLUÇÃO – Estamos com a Irmã Nelsa Hackbarth, diretora do Hospital e Maternidade Sagrada Família, de São Bento do Sul. Ela nos recebe nesta manhã ensolarada de quarta-feira, aqui na própria sala da direção. Irmã, gostaríamos de ouvir alguns esclarecimentos da direção do hospital sobre o chamado “caso Clínica Rim e Vida”. Inicialmente, o que a senhora pode nos falar sobre este assunto?
NELSA HACKBARTH – Especificamente sobre este assunto, o que posso dizer é que não temos nada mais a declarar além do que já foi publicado. Essa questão refere-se ao vencimento de contrato comercial, contratação de prestação de serviços e contrato de locação. O mesmo tinha data fixa, do dia 30 de setembro de 2007 até 30 de setembro de 2012 – com cláusulas de que, se uma das duas partes quisesse dar sequência ao serviço ou à locação, teria que se manifestar cento e oitenta dias antes do vencimento. Como não tínhamos interesse na continuidade do contrato – e como não recebemos uma solicitação de continuidade –, entendemos que não havia o interesse da outra parte. Então comunicamos a outra parte que estaríamos encerrando o contrato, conforme o próprio contrato escrito.
EVOLUÇÃO – Quando foi feito esse comunicado?
NELSA HACKBARTH – Dia 28 de setembro deste ano, porque dia 30 caia num domingo. Até hoje (quarta 21) não recebemos solicitação de um novo contrato. O que nós recebemos, continuamente, é a solicitação de permanência no espaço. Porém, não recebemos solicitação para um novo contrato.
EVOLUÇÃO – Oficialmente não existe interesse por parte da clínica?
NELSA HACKBARTH – De novo contrato, não. Existe manifestação, sim, de permanência no espaço. Mas algo como “Vamos contratar de novo”, “Vamos renovar o contrato”, “O que não está bom para vocês?”, “O que vocês querem de diferente?”, isso não foi feito. O que aconteceu? A partir do dia 30, quando foram comunicados, num primeiro momento demos trinta dias de tempo para desocupação do espaço, mas eles nos solicitaram noventa dias. Acabamos concedendo sessenta. Eles concordaram – a Clínica Rim e Vida acolheu. Diante disso, precisamos fazer um aditivo ao contrato para esses dois meses, porque, para todos os efeitos, se não tivéssemos feito o aditivo, estaríamos sem contrato – e, legalmente, não poderíamos repassar valores. Os valores – que principalmente o SUS (Sistema Único de Saúde) paga – nós recebemos e repassamos.
EVOLUÇÃO – Ou seja, a clínica é uma prestadora de serviços...
NELSA HACKBARTH – ...e só podemos repassar mediante um contrato de prestação de serviços – como o contrato estaria vencido, então fizemos um aditivo para estes dois meses, para que possamos continuar repassando o valor. Foi feito o aditivo. Em um próximo momento, após a assinatura do aditivo, veio outra solicitação. Houve a solicitação da prorrogação do tempo de permanência para um ano. Mas entendemos que não! Ou seja, mantivemos os sessenta dias para prestação de serviços, até o dia 3 de dezembro. Ainda demos mais dois meses, até 4 de fevereiro de 2013, como tempo para que o espaço seja desocupado como locação. Ou seja, prorrogamos a locação para mais dois meses. Assim, desde o início das tratativas e das negociações, aumentamos o tempo de desocupação do espaço de um mês para quatro meses. E, para prestação do serviço, de um mês para dois meses. A prestação de serviço termina realmente no dia 3 de dezembro. A partir da zero hora do dia 4 de dezembro a Pró-Rim vai prestar um serviço aos doentes internados – principalmente na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
EVOLUÇÃO – Em sua visão, por que houve toda essa turbulência, com manifestações, com passeata, com a participação das redes sociais, como o Facebook, e também com tanto “diz-se isso” e “diz-se aquilo”?
NELSA HACKBARTH – Nós tratamos a questão de maneira comercial e administrativa. Nunca fomos procurados para um novo contrato – apenas para permanência no local. Entendo que a forma que a Clínica Rim e Vida encontrou para fortalecer a possibilidade de permanecer foi envolver a comunidade. Porém, entendemos que essa é uma questão entre as duas partes. Nós temos que negociar!
EVOLUÇÃO – Entre locatário e locador?
NELSA HACKBARTH – Entre locatário e locador!!! Não sei por que se entende que somos obrigados a locar o espaço. Não somos obrigados. Também não entendo que estamos sendo inflexíveis, tanto é que cumprimos o contrato. Quer se dizer que “houve uma parceria”. Mas numa parceria a gente não trata apenas de forma comercial. É uma forma de leitura que se tem. Tem o outro lado: realmente não temos interesse de manter esse contrato. Esse envolvimento foi a maneira que eles encontraram para, em vez de tratar de forma administrativa, tratar de outra forma.
EVOLUÇÃO – O que um leigo pode entender é que os pacientes podem ficar à mercê do tratamento.
NELSA HACKBARTH – Essa é uma questão que está sendo colocada. Porém, acredito que grande parte da comunidade já entendeu que não é isso. Dei uma entrevista de uma página inteira, publicada no jornal “A Gazeta”, e também um esclarecimento à comunidade. Não existe a possibilidade de a comunidade ficar sem assistência na hemodiálise. Em primeiro lugar, existem duas clínicas em São Bento – a Rim e Vida e a Pró-Rim. Então, a pessoa pode optar entre uma ou outra. Eu não tenho nada a ver com o trabalho que elas fazem. A clínica Pró-Rim está estabelecida lá na rua Augusto Klimmek e a outra está estabelecida aqui – a princípio, até o dia 4 de fevereiro. A partir deste dia, ela pode se estabelecer em qualquer lugar. Então, as clínicas podem e devem continuar em São Bento. Em relação ao tratamento para as pessoas internadas, em vez de termos um contrato com a clínica Rim e Vida, já temos assinado (com a Pró-Rim). Ou seja, não existe nenhum risco de a população ter que viajar para Joinville, ou para Mafra, ou para Jaraguá do Sul. Não sei por que isso foi usado, porque isso não existe.
EVOLUÇÃO – Há quem diga: “Eles estão vendo a questão comercial, mas não estão vendo o lado humano de quem está em tratamento”. Não é assim, Irmã?
NELSA HACKBARTH – Se alguém diz isso, isso não procede. O atendimento está garantido para as pessoas. Tanto procede que a própria clínica Rim e Vida vai ficar aqui pelo menos até o dia 4 de fevereiro. É o que temos proposto formalmente. O que existe hoje é que já demos uma resposta ao Ministério Público, esclarecendo justamente esses aspectos – tanto o comercial (por que está sendo feito assim) como o fato de que não há risco de a comunidade não ser atendida. No dia 11 de dezembro temos marcada uma audiência de conciliação entre as partes. Assim, perante o juiz, vamos verificar a questão da locação. O que está em questão junto ao juiz diz respeito ao tempo para desocupação do espaço. Nós estamos dando quatro meses – e vamos lá dizer por que estamos dando este tempo. Assim, junto com o juiz, vamos chegar a uma conclusão.
EVOLUÇÃO – Na segunda-feira a senhora recebeu aqui José Aluísio Vieira, o “dr. Xuxo”, da Pró-Rim. Como foi a conversa?
NELSA HACKBARTH – A conversa foi boa. Realmente estamos contratando esse serviço. Ele veio aqui para saber como são as questões, os esclarecimentos, enfim. Ele está acompanhando esse rebuliço todo que tem acontecido na cidade. A Fundação Pró-Rim está totalmente à disposição. A empresa garante para nós que podemos ficar realmente tranquilos quanto ao atendimento. Assim, mais uma vez estamos dizendo: o atendimento vai continuar. Queremos que esse atendimento seja sempre melhor, não interessa se é pela Pró-Rim ou pela Rim e Vida. Temos muito claro que ser um doente crônico é desgastante demais para a pessoa – ser um doente renal é ainda pior.
EVOLUÇÃO – São horas e horas de hemodiálise por semana!!!
NELSA HACKBARTH – O que está sendo alegado é que eu, como diretora, não estou preocupada com isso. Isso não procede! Isso é uma inverdade. Já disse em reuniões na própria Acisbs (Associação Empresarial de São Bento do Sul) que isso é uma calúnia contra minha pessoa. Não tenho indiferença com nenhum doente. Para cada doente, a sua questão é importante. Os doentes crônicos sofrem muito – sejam diabéticos, cardíacos ou renais. Todos eles sofrem bastante. Temos clareza que não estamos fazendo as coisas sem considerar o atendimento. As pessoas vão ser atendidas.
EVOLUÇÃO – A Pró-Rim vai continuar atendendo onde ela está, prestando serviço para o hospital? É isso?
NELSA HACKBARTH – Não. No lugar onde está, ela vai continuar atendendo como prestadora de serviço ambulatorial. Para o hospital, o contrato que temos é que ela vai atender aqui dentro os doentes que estiverem internados na UTI. Ou seja, a partir do dia 4, os doentes que estiverem internados na UTI e que necessitarem de hemodiálise serão atendidos pela Pró-Rim.
EVOLUÇÃO – Quando houver a desocupação do espaço da Rim e Vida, a Pró-Rim vai se instalar lá?
NELSA HACKBARTH – Obrigatoriamente, não! Em relação ao espaço, primeiro ele tem que ser desocupado para vermos o que é realmente este espaço. Depois, antes de eventualmente locarmos o espaço para alguém, vamos sentar com nosso grupo de trabalho e com outras pessoas que possam nos ajudar – para sabermos o que, de fato, será feito. De repente pode haver outra necessidade que pode não ser, obrigatoriamente, termos uma clínica de diálise ou de hemodiálise. O que precisamos, sim, é ter um espaço adequado para atendimento de urgência e emergência. Enfim, vamos ter que fazer um estudo. Mas não estamos olhando especificamente apenas a questão comercial – talvez possamos usar o espaço para os serviços próprios do hospital. Porém, não queremos criar expectativas. Vai ser a Pró-Rim? Vai ser “não-sei-quem”? Não sabemos. Não está definido que após o dia 4 de fevereiro haverá outro locatário. Com calma, o hospital vai ver o que é mais importante para aquele espaço.
EVOLUÇÃO – Como falamos ainda com o gravador desligado, não viemos até aqui com o objetivo de colocar a senhora contra a parede ou de pressioná-la – apenas queremos ouvir esclarecimentos por parte da direção do hospital. A senhora não acha que, diante de todo esse imbróglio, não faltou um pouco de transparência nessa questão? O próprio hospital tem assessoria de imprensa e os veículos de comunicação estão à disposição para esclarecimentos. Enfim, que leitura a senhora faz dessa questão?
NELSA HACKBARTH – Conversamos várias vezes sobre isso. Não achamos que nos furtamos a dar esclarecimentos. Houve a publicação da minha entrevista (no jornal “A Gazeta”), porque fui procurada. Também houve a divulgação de uma Nota de Esclarecimento. O que acontece é que às vezes conversamos com as pessoas, perguntando se elas leram o que dissemos. O que algumas dizem? “Não!”. Eu possivelmente não teria ido, mas as rádios não nos procuraram. Não tenho notícia que as rádios tenham nos procurado. A própria RBS – ou qualquer outro meio de comunicação mais estadual – também não nos procurou. O que tenho ouvido várias vezes, através de pessoas que vêm conversar conosco? “Estamos sabendo o lado da Rim e Vida”. “Mas vocês leram o que a Irmã escreveu na Nota de Esclarecimento?”. “Não, não lemos”. Quer dizer, adianta gastar dinheiro para fazer mais Notas de Esclarecimento? O fato é que se partiu para se criar insegurança na população, o que não procede. O fato é que os serviços não vão deixar de existir em São Bento do Sul. O hospital não tem nem o poder nem a pretensão de mandar alguém embora de São Bento do Sul, porque tem lugar para todo mundo.
EVOLUÇÃO – E o empresariado nesta questão toda, Irmã? Sabemos que existe – ou existia – um Conselho Consultivo e que existe também a possibilidade de se criar um Conselho Deliberativo. Como está isso?
NELSA HACKBARTH – Temos dado uma segurada nessa questão. Vim para cá em abril do ano passado. Primeiro tenho que ter um tempo para conhecer bem a nossa realidade, embora eu já estivesse acompanhando o hospital através da direção das Irmãs da Divina Providência, na Província de Curitiba. Mas, claro, eu não estava ali na “gema do ovo”, como se diz. Agora voltamos a conversar com a Acisbs, em uma reunião que tivemos há duas semanas. Ainda estamos conversando. Essa questão do Conselho Consultivo ou do Conselho Deliberativo está com os assessores jurídicos – tanto com o doutor Jonny Zulauf, da Acisbs, como com o nosso, que é o doutor Walter (Marin Wolff), da Sociedade Mãe da Divina Providência. Eles vão apresentar uma nova proposta, um novo documento, para vermos o que será feito.
EVOLUÇÃO – Muito bem! Conversamos com a Irmã Nelsa Hackbarth, diretora do Hospital e Maternidade Sagrada Família. Sabemos que daqui a alguns minutinhos a senhora tem novos compromissos – então, por favor, se tiver mais algo para deixar registrado...
NELSA HACKBARTH – Apenas colocar à população, mais uma vez, que ela deve ficar tranquila. Não tenho esse aspecto de irresponsabilidade – eu sou muito responsável. Também pedimos a Deus que as pessoas continuem sendo bem atendidas. Que a qualidade de vida das pessoas possa melhorar. Queremos realmente o bem da comunidade. Fico um pouco triste quando se parte para questões pessoais. Essa questão deve ser tratada de forma profissional, administrativa. Por fim, quero dizer à comunidade que Deus não nos abandonará – e nunca nos abandonou. O que vejo é que as coisas vão evoluir para o melhor. Temos esse momento de estresse, por compreensões distintas, pois alguns o tratam de maneira mais profissional e outros o levam para um lado mais pessoal e emocional – isso, porém, tem que ser administrado, porque faz parte da vida.