José Serra (PSDB) começou a perder a eleição em março, quando, após passar meses dizendo que só queria a Presidência, atropelou as prévias do PSDB e se tornou candidato a prefeito. Depois disso, deu tudo errado.

Apesar dos bons resultados iniciais nas pesquisas, Serra atravessou a campanha carregando fardos: um partido rachado, a rejeição do eleitorado, a desaprovação do prefeito Gilberto Kassab (PSD), a falta de doadores e uma estratégia controversa.



Curiosamente, o clima ruim se refletia nas fotos. Serra conseguiu se tornar o campeão das imagens cômicas. Em julho, apareceu com cara assustada quase caindo de um skate. Em setembro, perdeu o sapato ao bater um pênalti e, para completar, foi flagrado com jeito de espanto recebendo um beijo na boca de uma eleitora.

Apesar dos tropeços, Serra sobreviveu ao primeiro turno chegando na frente, mas, no segundo, não conseguiu conquistar os votos dos eleitores de Celso Russomano (PRB) e Gabriel Chalita (PMDB), que ficaram no meio do caminho. Os candidatos derrotados se apresentavam como novidade, e o eleitor já dava sinais da vontade de renovação. O tucano, porém, não teve capacidade para assumir esse papel.

Ao contrário. Passou a campanha batendo em teclas que não tiveram efeito nas urnas.

O tucano também tentou aproveitar o julgamento do mensalão para conquistar o eleitor, mas o discurso da ética não teve o apelo esperado. Abraçado a líderes evangélicos, levantou polêmicas religiosas, como o kit gay. Acabou caindo em contradição, uma vez que, como governador, distribuiu uma cartilha anti-homofobia semelhante à do MEC.

Nos últimos dias, Serra chegou a incluir propostas no plano de governo, como dobrar o tempo para uso do bilhete único no transporte coletivo. Haddad classificava como ato de desespero diante das pesquisas.

Ironicamente, o tom religioso usado por Serra já tinha dado errado em 2010, quando ele perdeu para Dilma Rousseff. Depois de duas derrotas consecutivas para petistas novatos em disputas eleitorais, o tucano tem futuro incerto. Já foi cotado para assumir a presidência nacional do PSDB, mas, a maior possibilidade é de concorrer ao Senado em 2014. São Paulo terá uma vaga, e Eduardo Suplicy (PT) tentará a reeleição.

Neste domingo, em mais uma ironia da campanha, o tucano passou a tarde no Palácio dos Bandeirantes, ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), abandonado por ele em 2008. Há quatro anos, Alckmin disputou a prefeitura, foi boicotado pelo colega e acabou derrotado.

Mais cedo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu que "o partido vai precisar de renovação":

— A gente tem que empurrar os novos para ir para a frente.

Já Serra, no discurso da derrota, deixou claro que se mantém na política ao afirmar ter mais "disposição".

4 razões para a derrota

1 — Pesou a rejeição. Pesquisas indicavam que o tucano era repudiado por 50% do eleitorado.

2 — As brigas que Serra comprou no PSDB cobraram seu preço. Conhecido como desagregador, o ex-governador rachou o partido ao implodir as prévias da legenda em março.

3 — Serra fez uma campanha equivocada, com muitos ataques e poucas propostas. Além de levar temas religiosos para o debate político, apostou na repercussão do julgamento do mensalão. Não deu certo.

4 — O apoio do atual prefeito, Gilberto Kassab, foi um tiro no pé. O criador do PSD tem a rejeição de metade do eleitorado.