Florianópolis - O reconhecimento do episódio da Guerra do Contestado como deflagrador do processo de unificação e da identidade do estado catarinense marcou o enfoque do pronunciamento feito pelo deputado Antonio Aguiar (PMDB), durante a sessão especial realizada esta semana pela Assembleia Legislativa, pela passagem do centenário do início do conflito. Aguiar, autor do requerimento que provou a sessão, disse que o Contestado “resultou na integração de Santa Catarina”, e forjou “o espírito guerreiro e determinado de nossa população”.
Ao recuperar dados históricos da chamada “guerra santa”, ou “conflito dos esquecidos”, o deputado contextualizou o episódio que mudou o cenário catarinense depois de conflagrar uma área de aproximadamente 20 mil quilômetros quadrados nas regiões do Planalto Norte, Serra Catarinense e Meio-Oeste. Aguiar lembrou a necessidade de os mais jovens perceberem a importância de um conflito que contou com componentes sociais, políticos e econômicos, e resultou, após sucessivos combates, nas mortes estimadas de até 8 mil civis e cerca de mil militares, bem como na destruição da maioria das povoações da região. Ele enalteceu que, com a pacificação, foram consolidados os atuais limites do Estado.
O historiador e chefe de gabinete da prefeitura de Canoinhas, Fernando Tokarski, estudioso da guerra, fez um resgate histórico e citou o também historiador Nilson Thomé, para quem a Guerra do Contestado foi o evento bélico mais importante da história de Santa Catarina, envolvendo a população sertaneja de um lado, forças militares e nacionais do outro. “O evento, que aconteceu em terras administradas por Santa Catarina e leste do Rio do Peixe, é definido por estudiosos como “insurreição xucra” ou “guerra civil”; para religiosos, ocorreu uma “rebelião de fanáticos”; para sociólogos, houve um “conflito social”; para antropólogos, foi um “movimento messiânico”; para políticos, uma tentativa de desestabilização das oligarquias; para administradores públicos, aconteceu uma “questão de limites”; para militares, tratou-se de uma “campanha militar”; para socialistas, aconteceu uma “luta pela terra”. Entretanto, para historiadores regionais da atualidade, a Guerra do Contestado foi tudo isso simultaneamente”.
O escritor Péricles Prade representou a Academia Catarinense de Letras e destacou o fundo de natureza messiânica na Guerra do Contestado. Segundo ele, por conta da precariedade da medicina e do papel dos monges na promoção de curas, na salvação de doentes com rezas e no conhecimento de remédios naturais, feitos com infusões, eles conquistavam fiéis e eram reconhecidos como expoentes religiosos. “Esta visão messiânica é também de natureza antropológica, pois é marcante a posição do homem que integra determinada comunidade. Dessa forma, a sociologia também se faz importante com um fundamento que se pode determinar econômico. Do lado positivo, houve abertura para o progresso. Do lado negativo, houve a dizimação de milhares de vidas. Hoje nada se comemora, tragédia não se comemora, evoca-se. Evoca-se a repercussão de um episodio histórico”, finalizou
Entre as personalidades homenageadas, uma delas chamou atenção pela força que mantém aos 107 anos de idade. Rosalina Cristina Pereira, testemunha ocular da historia da Guerra do Contestado, recebeu a bandeira do Contestado e uma placa em sua homenagem das mãos do proponente da sessão, deputado Antônio Aguiar.
Também estiveram presentes na solenidade os deputados Dirceu Dresch (PT), Gilmar Knaesel (PSDB), Luciane Carminatti (PT), Maurício Eskudlark (PSD), Neodi Saretta (PT), Padre Pedro Baldissera (PT) e Silvio Dreveck (PP).
Representação – Ao final da sessão especial, aconteceu a apresentação do espetáculo “Heróis do Contestado”, no hall da Assembleia. A obra dirigida e coreografada pela professora de dança Nádia Zolet, com pesquisa histórica de Rosa Maria Tesser, representa a saga do homem do Contestado nas diferentes paragens em que se encontrava, respaldando o caboclo nos seus usos, costumes e hábitos, bem como em seus meios de sobrevivência, nas fontes econômicas e na expressão artístico-cultural do relacionamento cotidiano.
Homenageados – O secretário de Segurança Cesar Grubba representou o governador do estado Raimundo Colombo, homenageado, bem como os senadores, o professor Fernando Tokarski, historiador e membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu; Patricia Córdova, representando o Museu Histórico e Antropológico da Região do Contestado; Péricles Prade, representando a Academia Catarinense de Letras; o professor José Alceu Valério, representando a Fundação Universidade Contestado (UNC). Também foram homenageados os prefeitos Leobert Weinert, de Canoinhas; Elói José Quege, de Três Barras; Adelmo Alberti, de Bela Vista do Toldo; Imar Rocha, de Caçador; Ismael Kiem, de Major Vieira; Magno Bollmann, de São Bento do Sul; Luiz Henrique Saliba, de Papanduva; Aldomir Roskamp, de Monte Castelo; Helio Wendt, de Itaiópolis; Paulo Dutra, de Mafra; Genir Junckes, de Santa Terezinha; João Medeiros, de Santa Cecília; Valdir Santos, de Timbó Grande; Wanderley Lezan, de Irineópolis; Renato Stasiak, de Porto União; Darci Batista, de Matos Costa; Alcides Francisco Boff, de Calmon; Ingo Weiss, de Rio das Antas; Ludovino de Oliveira, de Lebon Régis; Nelmar Pins, de Fraiburgo; Antoninho Tibúrcio, de Monte Carlo; Ivonete Felisbino, de Frei Rogério; Wanderlei Agostini, de Curitibanos; Jaime Cesca, de São Cristovão do Sul; Luiz Paulo Farias, de Ponte Alta; Rubens Schmidt, de Ponte Alta do Norte; Vinibaldo Schmid, de Campos Novos; Vânio Fortes, de Correia Pinto; Renato Nunes de Oliveira; de Lages; - Adelaide Salvador, de Irani; e Wilmar Carelli, de Videira.