Se existe alguém no mundo que não pode duvidar de milagres é Gilson Luiz Rufino. Administrador de empresas, natural de Tubarão e radicado em Florianópolis, com 48 anos, duas filhas e um netinho, ele sofreu um inusitado e terrível acidente, ficou mais de oito horas entre a vida e a morte preso em rocha de um metro quadrado, com as pernas suspensas e no meio de um precipício de 700 metros de altura. Apesar do acidente, a sorte estava ao lado dele. Na madrugada deste domingo, Gilson nasceu de novo.
Gilson é um apaixonado por fotografia e adora registrar as belas paisagens de Santa Catarina. No fim de semana, de calor e céu azul, fez como centenas de pessoas e foi a um dos principais cartões-postais do Estado, a Serra do Rio do Rastro, a fim de enriquecer o seu banco de imagens. Na companhia da namorada Denise, passou momentos agradáveis, mas um descuido em um lugar que não permite vacilos quase fez o passeio terminar em tragédia.
Rio Tubarão
Foto: Gilson Rufino/Arquivo pessoal
Por volta das 17h10min de sábado, Gilson estava no mirante da serra, em frente a um cenário deslumbrante. Ele se retirou do ponto onde os turistas costumam parar para fotografar em busca de diferentes ângulos para as suas fotos. No ponto onde Gilson estava, o terreno é úmido e lodoso, com a vegetação cobrindo traiçoeiramente algumas fendas do penhasco. E foi numa dessas armadilhas que Gilson caiu. Quando pisou em falso, tentou se agarrar ao mato, mas não conseguiu e despencou.
Após mais de 20 metros de queda amortecida pela mata fechada, Gilson foi amparado por uma rocha, uma espécie de degrau salvador na montanha. Caiu deitado, de lado, com a metade de cima do corpo junto ao paredão de rocha e as pernas suspensas no precipício.
Enquanto isso, Denise o esperava no mirante. Só que os minutos passaram e Gilson não voltava. Denise o chamou, mas ele não respondeu. Uma hora depois, sem vê-lo nem ouvi-lo e já pensando no pior, ela pediu socorro no posto da Polícia Militar Rodoviária instalado no mirante.
— Ela disse que o namorado havia caído no cânion, mas não estava claro se tinha caído no chão ou lá embaixo, e fomos procurá-lo — conta o policial Roberto Borges de Oliveira, 42 anos.
A busca por Gilson foi rápida. Bastaram poucos minutos de caminhada e alguns gritos, e ele respondeu. Estava relativamente bem, mas não se sabia exatamente onde. Afinal, tratava-se de uma gigantesca montanha em um dos maiores conjuntos de cânions do mundo.
Imediatamente, uma grande operação de resgate foi mobilizada, num local de dificílimo acesso. Uma caminhonete da Celesc, de uma subestação nas proximidades, foi o primeiro veículo a ser postado à beira do precipício. Os bombeiros de Orleans e Criciúma chegaram cerca de uma hora depois.
Já estava escuro, a temperatura caía rapidamente, o tempo não parava, e a necessidade de resgatar Gilson aumentava a cada minuto. Mais uma viatura policial, dois pequenos tratores, 20 voluntários e o trabalho corajoso de três jovens bombeiros somaram-se à operação.