Jornal Evolução Notícias de Santa Catarina
Facebook Jornal Evolução       (47) 99660-9995       Whatsapp Jornal Evolução (47) 99660-9995       E-mail

Maria Luz Banut: “O objetivo do intercâmbio não é apenas viajar”

Quinta, 27 de setembro de 2012

Maria Luz Banut, 18 anos, argentina de San Nicolas de los Arroyos – Província de Buenos Aires, está fazendo intercâmbio em São Bento do Sul através do Rotary International. Ela fala de suas experiências como intercambista e como estudante do Colégio Global.

 

Clique para ampliar
“Acho que aqui não se fala muito de política. Eu gosto muito de política e na minha escola isto era uma coisa muito importante. É uma das matérias que mais importância tem.” (Foto Pedro Skiba/Evolução)
  

EVOLUÇÃO – O que você cursava lá?

MARIA LUZ BANUT – Eu estava no Ensino Médio da Escola Normal Rafaela (Enro), terminei o terceirão em dezembro e aí vim para fazer o intercâmbio. Na Argentina o estudo é um pouco diferente. Antes de você começar a estudar os últimos três anos, você pode escolher se gosta mais de Ciências Naturais, Sociais ou Economia. Na minha escola podia escolher entre Ciências Naturais ou Sociais. Escolhi Ciências Sociais por gostar mais. A matéria que eu amava era Política, que estuda a história da política e a atual – a história militar, que é muito importante, até a atualidade. Só que mesmo nas aulas somos informados para debater sobre os temas atuais políticos que estão acontecendo na Argentina. É uma matéria com a qual eu ficava sempre atualizada e sabendo o que estava acontecendo no País. É muito bom porque você se prepara para discutir mesmo em casa com seus pais e irmãos – e tem uma opinião formada. Não é apenas escutar e repetir. Você se informa, debate e tem sua opinião.

 

EVOLUÇÃO – O jovem argentino é mais informado e mais politizado que o brasileiro?

MARIA LUZ BANUT – Isso pode ser. Acho que aqui não se fala muito de política. Eu gosto muito de política e na minha escola isto era uma coisa muito importante. É uma das matérias que mais importância tem. E para passar nesta matéria tem que estudar muito. Eles dão muita importância para a política.

 

EVOLUÇÃO – Aqui a maioria dos nossos jovens sequer sabe o nome de um vereador, vice-prefeito, quanto mais de um ministro...

MARIA LUZ BANUT – Isso é uma questão muito importante porque nós não somos mais crianças. Somos adolescentes que estamos começando a nos formar para a vida adulta. Não podemos começar uma faculdade sem termos conhecimento da política. A matemática e outras são essenciais, mas sobre a política de nosso País temos que ter conhecimento. Isto é uma coisa muito importante e na escola nós temos que ler muitos livros, muita literatura – e não somente sobre a Argentina, mas também sobre outros países.

 

EVOLUÇÃO – Intercâmbio para você não é apenas pegar uma mala e sair viajando. Defina melhor.

MARIA LUZ BANUT – Tem muitas pessoas que confundem intercâmbio com turismo. Pensam que ir para outro País é só viajar e aproveitar. O objetivo do intercâmbio não é apenas viajar. Claro que isto muitas vezes é compatível com o intercâmbio, pois surgem as oportunidades. O Rotary mesmo planeja viagens para que você possa conhecer um pouco mais do País e da cultura. Por exemplo: eu estou morando no sul do Brasil, já no norte a cultura é totalmente diferente. Então uma viagem para lá permite que você conheça outra parte da cultura brasileira. Eu ainda acho que o objetivo do intercâmbio, primeiro, é você crescer como pessoa. Você cresce quando aprende uma cultura nova, aprende a aceitar uma cultura nova – e isso é fundamental. Muitas pessoas são fechadas e pensam que sua cultura é a melhor e que todo mundo tem que se adaptar e aceitar essa cultura. No intercâmbio você tem que ser inteiramente aberta para aceitar uma nova cultura, pessoas novas, regras novas da casa da família hospedeira, das amizades, uma língua nova. A tudo isto você tem que se adaptar. O País, a cidade, as pessoas não vão se adaptar a você - é você que tem que se adaptar. É muito crescimento pessoal para você. Você começa a amadurecer, pois não está mais em sua casa onde o pai e a mãe resolvem seus problemas, fazem por você. Aqui, se você não faz, ninguém irá fazer por você. Tem que ter muita responsabilidade. Por isso o crescimento. Não é fácil porque não é turismo. Um ano longe da família, mas uma experiência inesquecível, maravilhosa para a vida. O melhor ano para a minha vida.

 

EVOLUÇÃO - E o convívio com as novas famílias?

MARIA LUZ BANUT – Aqui terei duas famílias. Tive uma com a qual morei seis meses (Uwe e Vivian Stortz), e na semana passada troquei para outra, na qual vou ficar mais cinco meses, pois vou embora no dia 2 de fevereiro de 2013. Tive muita sorte com minhas famílias. Foram muito legais, muito acolhedoras. Para qualquer coisa que eu precisei sempre estiveram disponíveis. Na minha primeira tive mãe, pai e mais duas irmãs. Uma que tem 19 anos e a outra, com 17, que está fazendo intercâmbio fora.  Na nova família também tenho mãe e pai, um irmão com 16 e uma irmã com 18. Isso é bom, pois, como meus irmãos, um tem 16 e outro quase 19. Isto é bom para o meu relacionamento. Meus pais estão sempre juntos e sempre foram bem abertos.

 

EVOLUÇÃO – Você estuda no Global. Como analisa os métodos, o convívio e o aprendizado?

MARIA LUZ BANUT – Acho o Global muito bom mesmo. Já no primeiro dia foi tudo bem, todo mundo veio falar comigo. Eu entendi e me comunicava muito mal, mais em inglês que espanhol. Já começaram os convites, as amizades, ir em uma casa e outra – eu me senti muito bem. Fui muito bem acolhida. A galera foi super boa, super aberta, sempre que tive alguma dificuldade eles estiveram dispostos e me ajudar. Com os professores também não tive nenhuma dificuldade. Por exemplo, na aula de Geografia fui convidada a fazer uma minipalestra, falar da Argentina. Já fui convidada pelo professor de História para falar sobre o peronismo. Acho isso muito importante, pois faz parte de uma história que ainda tem agora suas consequências. Também falei para uma turma de crianças mais novas sobre a cultura argentina. O ensino, no Global, acho que eles preparam muito bem para o vestibular. São muito exigentes – mas é preciso – e trabalham muito bem com as apostilas. Os professores são muito dedicados, diferentes daqueles que chegam na aula e, quando um aluno faz uma pergunta, deixam de responder porque só sabem o essencial. A preparação dos professores é muito boa. Eles sempre deixam uma experiência, uma vivência. Eles motivam a galera, dizem que é preciso estudar, que tem que passar no vestibular. Eu acho muito importante isso.

 

EVOLUÇÃO – Você se mostra bastante politizada. O que representa para você o fenômeno Evita?

MARIA LUZ BANUT – Evita (Perón) foi para o povo argentino muito importante. Ela ajudava o pessoal mais carente, mais pobre. Mas se fala muito que ela usava isto para angariar votos.  É complicado, pois como não vivi nesta época, isso é o que escuto e estudo. É complicado formar uma opinião se isso foi bom ou ruim.  Mas, para o povo em geral, Evita e Perón foram os melhores. Mesmo agora, Cristina Kirchner está praticando este tipo de política. A Argentina é um País muito lindo, para passear, e conhecer, mas não está bem economicamente. Eu acho muito triste, pois acredito que a Argentina pode ser bem melhor. Ainda não sabemos o que ela quer ganhar com isto. Por exemplo, eu estou aqui e com cartão de crédito eles cobram 15% a mais. Para o débito, eu que estou aqui no exterior, não posso tirar dinheiro. Está tudo muito limitado. Muitas importações foram cortadas e isto dificulta o comércio. As pessoas precisam de produtos que a Argentina não fabrica.

 

EVOLUÇÃO – Você vai voltar em fevereiro. Qual a sequência nos seus estudos?

MARIA LUZ BANUT – Eu vou começar a faculdade. Vou estudar interpretariado. Eu gosto muito de línguas. Primeiro vou fazer tradutorado e depois estudar um pouquinho mais para fazer interpretariado. É uma tradutora oral, mais para reuniões, conferências, atividades empresariais, apresentação de projetos em outra língua, e eu farei a tradução. Preciso aperfeiçoar meu inglês, meu francês (que já estudei seis anos). Já o espanhol eu domino,  agora também o português e uma língua oriental. Os orientais estão entrando muito no mundo capitalista e quase não se encontra quem fale a língua deles.

 

EVOLUÇÃO – Qual diferença que você notou no comportamento dos nossos jovens com os da sua terra?

MARIA LUZ BANUT – Depende muito do contexto social. Lá como cá, tem de tudo. Drogas, sexo, rock and roll e álcool. O que eu acho muito engraçado é que aqui o pessoal ainda muito jovem já está começando a namorar. Usam até anel de compromisso. Eu não acho isso muito importante. Prefiro ter muitas amizades que ter um namorado com quem vou passar muito tempo e deixar de conviver com outras pessoas, o que eu acho que é muito mais rico. Isso de namorar tão novo... acho que nesta idade temos que aproveitar para estudar. Para nos prepararmos para o futuro. Namorado pode até vir, mas sei lá, depois tem tempo.

 

EVOLUÇÃO – Além da experiência do intercâmbio, aqui você experimentou não só a cultura brasileira, mais diversidades dentro da própria cidade?

MARIA LUZ BANUT – De além-mar. Eu achei isto uma experiência muito divertida e de muito proveito para mim. Foi uma oportunidade que não vou voltar a ter. Na Argentina tem muito imigrante italiano, francês, muito europeu, mas alemão não tanto. Da Schlachtfest eu gostei muito. Totalmente diferente para mim que nunca tinha desfilado – é uma cultura que eu não conhecia antes. O Rotary me pediu para desfilar. Por que não? Uma coisa nova. O  intercambista experimenta de tudo. Arrumei um traje emprestado e desfilei. E foi muito engraçado, pois os que me conheciam diziam: “Uma argentina vestida de alemã e desfilando no Brasil”. Foi divertido. Conheci uma parte da cultura brasileira e também da alemã.

 

EVOLUÇÃO –  O que você leva de mais precioso desta tua passagem aqui em São Bento do Sul?

MARIA LUZ BANUT – Eu vejo que intercâmbio em cidade maior como Joinville é mais complicado. Muitos dizem que em São Bento não tem muito o que fazer. Eu respondo: é melhor fazer intercâmbio em cidade menor. Você tem muito mais cultura, pois as cidades grandes são cosmopolitas e misturam tudo. Na cidade pequena você conhece mais pessoas, recebe cumprimentos, muito convites, mais integração, mais segurança. Você nunca deve fazer intercâmbio com muita expectativa para não se desiludir, mas aqui foi muito mais do que eu esperava. Na escola, na cidade, no Rotary, o pessoal, a sociedade que me acolheu, tudo foi dez. Não posso me queixar em nada. E nunca vou esquecer que aqui a cultura é brasileira e alemã. No intercâmbio você nunca leva nada material, a não ser souvenirs. Leva mais conhecimento, maturidade e experiência de vida.

 

EVOLUÇÃO – Um conselho para nossos jovens que pensam em sair e fazer um intercâmbio.

MARIA LUZ BANUT – Vá! Você precisa de coragem. Nem todo adolescente tem vontade de sair da casa onde está confortável, de não ver seus amigos, sua família. Mas é preciso sair para crescer, para amadurecer, para ter conhecimento e não acreditar que onde você mora todo mundo vive. Quando você sai da sua casa, você vê outra realidade e você cresce muito como pessoa vendo a tua realidade – e onde você morou toda a tua vida é a realidade de todo mundo. Você poder começar a entender coisas e poder opinar sobre assuntos que antes você não sabia e então não poderia comentar. É uma oportunidade única. Este intercâmbio que o Rotary oferece não é um intercâmbio que você pode fazer depois de uma faculdade ou tipo um travel work. É totalmente diferente. Tem que fazer intercâmbio para conhecer pessoas, cultura, língua, um País novo, cidade, e desapegar do pai e da mãe e das amizades. Nada é difícil, mas você precisa estar bem encaminhado porque existe muito álcool, existem muitas drogas, mas se você está preparado aprende a valorizar as coisas e é o melhor que teus pais dão, trabalhando para te proporcionar estudos e conhecimentos. Não tem que reclamar, tem que aproveitar. Hoje quem não fala uma segunda língua já tem dificuldade em encontrar trabalho. Fiquei muito feliz com a entrevista. Obrigada. 



Comente






Conteúdo relacionado





Inicial  |  Parceiros  |  Notícias  |  Colunistas  |  Sobre nós  |  Contato  | 

Contato
Fone: (47) 99660-9995
Celular / Whatsapp: (47) 99660-9995
E-mail: paskibagmail.com



© Copyright 2025 - Jornal Evolução Notícias de Santa Catarina
by SAMUCA