A polícia catarinense suspeita que um paraguaio preso na manhã de terça-feira, em Itapema, litoral Norte, com 22 peças de roupas engomadas com cocaína, possa estar por trás de um esquema de tráfico internacional de drogas.
Daniel Sena, 24 anos, morador de Ciudad del Este, no Paraguai, que faz fronteira com Foz do Iguaçu (PR), foi preso em uma abordagem na BR-101, no posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Os policiais do Núcleo de Operações Especiais (NOE) da PRF faziam fiscalização de rotina. Ao abordar um ônibus que vinha de Foz do Iguaçu com destino a Florianópolis, a equipe desconfiou do paraguaio e decidiu verificar a sua bagagem.
- O policial desconfiou da roupa que estava dura. Com o uso do reagente químico, descobrimos que havia cocaína engomada. Esse tipo de transporte é muito raro aqui e não lembro de outro flagrante desse tipo que tenha ocorrido antes - disse o inspetor Luiz Graziano.
Os policiais rodoviários acionaram policiais civis da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Florianópolis. O delegado Cláudio Monteiro, da Divisão de Repressão a Entorpecentes (DRE), foi cauteloso na divulgação das informações sobre a prisão para não atrapalhar a investigação.
O delegado afirmou ao DC que a missão da Deic agora é descobrir o destino da cocaína. Ele afirmou que a polícia investigará todas as hipóteses, inclusive a de tráfico internacional, mas por enquanto vai manter a apuração em sigilo.
A polícia afirma que o paraguaio possa ser mula, como são chamados os transportadores de drogas. Conforme investigações anteriores feitas pela Polícia Federal, como as operações Playboy e Voyage, jovens catarinenses saíam do Estado levando cocaína para a Europa e retornavam trazendo drogas sintéticas na bagagem.
Daniel está preso na Deic. Ele foi autuado em flagrante por tráfico de drogas. Entre as peças de roupas havia camisetas, calças, meias femininas e toalhas. A cocaína só é perceptível com o uso do reagente. O tecido fica azul quando detecta a presença da droga.
- Pelo tom do azul, forte, acreditamos que seja cocaína de alta pureza - observou o delegado Monteiro.
Daniel levava duas bolsas, uma mochila e outra mala maior. A PRF estimou um total de nove quilos de roupas, sendo que seriam três quilos de peças engomadas com cocaína. As roupas serão entregues ao Instituto Geral de Perícias (IGP).
Viagem recente ao exterior
O passaporte do paraguaio Diego Sena indicava uma viagem recente ao exterior, mas não havia passagem aérea para os próximos dias. Em junho, Daniel fez de avião o roteiro Florianópolis, São Paulo, Emirados Árabes Unidos e França, o que, para a polícia, reforça a suspeita de tráfico internacional de drogas. Ele comentou que o motivo da viagem ao exterior seria a negociação de carros.
Diego afirmou que receberia US$ 1 mil para fazer o transporte da cocaína engomada a Florianópolis. Ele disse ser mula e negou envolvimento com traficantes.
- É a primeira vez que faço isso. Sabia apenas que era para entregar a uma pessoa em Florianópolis. Não sei de mais nada - declarou Diego à reportagem em uma sala da Deic.
O estrangeiro afirmou que conhecia Florianópolis, mas que nunca havia feito outra viagem levando drogas. Ele disse que trabalha como comerciante de carros no Paraguai e que nunca havia sido preso antes.
O jovem contou que não sabia nada sobre quem havia engomado a droga e nem como esse processo é feito. A versão dele não convenceu os policiais rodoviários federais nem os policiais da Deic.
Solvente para engomar
O processo para retirar a cocaína engomada das roupas seria feito com solvente. Com a droga diluída no produto, as roupas seriam mergulhadas no líquido. Após secas, as peças ficam engomadas. O mesmo processo, com solvente, seria usado para retirar a cocaína dos tecidos, suspeitam os policiais.
O inspetor Luiz Graziano ressaltou que a mala com as roupas estava bastante perfumada. Graziano suspeita que teria sido proposital pelos traficantes para evitar fiscalização por cães farejadores da polícia.
No Brasil, há registros de apreensões desse tipo com cocaína em roupas engomadas em aeroportos de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Brasília.
- Eles (traficantes) tentam cada vez mais novas formas para driblar a fiscalização da polícia. Sabemos também que estão forrando as drogas com papel carbono para não ser detectadas no raio-x - alertou o inspetor.