O calor fora de época é apontado como uma das causas para o aumento atípico na reprodução das abelhas na área urbana de Jaraguá do Sul. Esse crescimento, que já provocou duas mortes, é revelado no registro de pedidos de ajuda.
Há cerca de dois meses, a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros Voluntários recebem em média cinco ligações por semana solicitando a retirada dos insetos.
— Antes, eram em média três por mês e os pedidos só aumentavam depois de outubro e seguiam até março — afirma o comandante da corporação Jean Carlos Walz.
O apicultor Dorivaldo Diel, 72 anos, explica que mudança climática faz com que as abelhas, em muito maior número, saiam das matas em busca de mais espaço para fazer suas colmeias.
— Às vezes, elas ficam no forro das casas, ou dentro de latas. Quando isso ocorre, é preciso ter todo o cuidado, principalmente agora que é também época de produzirem mel. Você pode enxotá-las um dia e não acontecer nada, mas em outro podem atacar — ressalta Dorivaldo.
Quando as abelhas se transformam em um risco até mesmo de morte, o ideal é chamar ajuda especializada. O comandante Walz destaca que o atendimento costuma ser feito durante o dia, com o isolamento do local e à noite é retirada colmeia. Ela é colocada em uma caixa e levada para os apicultores.
— Fazemos a retirada à noite porque estão todas dentro do ninho — diz o bombeiro.
Essa proliferação pode ter provocado duas mortes em pouco mais de um mês de diferença. Há oito dias, o aposentado Valdir Campregher, 70 anos, limpava o terreno de uma parente, no bairro Rau, quando foi atacado por um enxame de abelha. No sábado, ele não resistiu e morreu.
Em Schroeder, mais uma vítima. No começo de agosto, Arminda Vogel Ludtke, 93 anos, foi picada por mais de 400 abelhas enquanto estava no quintal de casa. Um dos filhos da mulher e a nora foram socorrer a idosa e também foram atacados, mas receberam alta no mesmo dia. Já Arminda ficou 18 dias no hospital e morreu no dia 1º de setembro.
Única picada pode matar alérgico
A médica Renata Ribeiro Bonilauri alerta que uma única ferroada pode bastar para provocar a morte de uma pessoa que tenha alergia a inseto. Por isso, não é aconselhável usar roupas coloridas, perfume, comer ou beber perto de onde há abelhas.
— A pessoa que não tem alergia suporta algumas ferroadas, mas o ataque de um enxame provoca choque anafilático. Há dificuldade para respirar, a pressão baixa e aparecem manchas pelo corpo e inchaços — afirma Renata.
A idade não é o principal fator que definirá a recuperação da vítima. A sobrevivência depende da rapidez do atendimento e do estado de saúde que a pessoa apresentava antes.
— Se já tinha alguma doença como diabetes ou pressão baixa, entre outros problemas, o risco será maior — esclarece a médica.
O biólogo Ulisses Sternheim, da Prefeitura de Jaraguá do Sul, ressalta que as abelhas atacam por dois motivos: quando estão sozinhas, para se defender, ou em grupo, para proteger a colmeia. Ele comenta que ao picar uma pessoa o inseto exala um cheiro que atrai o resto do enxame.
— Se a pessoa for atacada por muitas abelhas, aconselha-se correr em zigue-zague até encontrar um abrigo. As abelhas costumam voar em linha reta — comenta.
O biólogo acrescenta que é importante evitar ruídos altos perto de ninhos de abelhas.
— Elas podem se sentir ameaçadas — diz.