Com 500 km² – mais de um terço do território de Joinville –, a área de proteção ambiental (APA) Serra Dona Francisca dará mais um passo para a preservação ambiental da região.
O processo que começou com decretos municipais de Garuva e Joinville em 1997 afinal terá reflexos na comunidade após a aprovação do plano de manejo, que será apresentado à população nesta quinta-feira na Sociedade Rio da Prata, em Pirabeiraba.
Nas 86 páginas da proposta técnica, são apresentados o acervo biológico da região (são 20 mil espécies de plantas) e que aspectos ameaçam a natureza – um ponto é o risco de espécies exóticas virarem praga, além do crescimento da mineração. Com base nisso, a área foi dividida em zonas de proteção, cada uma com permissões e proibições (veja quadro).
Duante a apresentação, a população fará as últimas sugestões aos técnicos. Segundo a bióloga da Fundação do Meio Ambiente de Joinville (Fundema) e integrante da comissão de acompanhamento do plano de manejo, Dalzemira Anselma da Silva Souza, as dicas serão anotadas e discutidas com a fundação e o conselho gestor da APA.
Atualmente, 2.764 famílias vivem na área de abrangência da APA – são cerca de 8,5 mil pessoas. Somada a população do entorno, são mais de 5 mil famílias. A área de proteção abrange em Joinville o bairro Dona Francisca, parte do Piraí, do Canela e do Cubatão. A Estrada Rio do Júlio e a Estrada Bonita formam o entorno.
Alerta a agricultores e criadores de peixes
O plano de manejo começou a ser elaborado em 2009 e deveria terminar em um ano. Mas, segundo Dalzemira, a empresa contratada teve problemas porque a fundação não tinha levantamento aéreo da região. Somente em 2010 foi possível produzir os mapas. Até então, o material disponível era dos anos 1990 – mal detalhado e com informações do IBGE.
O contrato com a empresa STCP, que fez o estudo, acaba no dia 30, por isso os últimos detalhes deverão ser decididos agora. O plano de manejo deverá ser aprovado pela Prefeitura e pelo conselho gestor da APA. As regras passam a valer assim que publicadas no “Jornal do Município”.
Na reunião de amanhã, devem se confrontar a opinião de quem defende a preservação da natureza da serra e os interesses de produtores. O plano de manejo propõe limitar o uso de agrotóxicos, a criação de peixes exóticos e até de abelhas em certas zonas. Por outro lado, mostra intenção de não gerar alvoroço quanto à presença de mineradoras – até na área mais restrita, a de conservação, a atividade será permitida, desde que sob autorização dos gestores.
Mesmo sem saber detalhes do manejo, Marceli Skerke Baruffi, 39 anos, convive com o debate há anos. É tema de conversas na escola dos filhos e entre os vizinhos. A família vive há quatro gerações perto do rio Cubatão, na região do Pico, onde mantém horta.
Ela não teme mudanças drásticas no cotidiano e pretende tomar medidas de conservação, como arborizar as margens do rio, que enche quando chove. — Mas conhecidos estão preocupados com as restrições no uso de agrotóxicos —, conta.