Zuleica Voltolini: “Foi uma alegria total”

Zuleica Maria Sousa Voltolini, 49 anos, há 28 no serviço educacional do Estado e há 14 como diretora da EEB São Bento, conversou com o Evolução na manhã de quinta-feira 23. O assunto principal, claro, foi o destaque dado à unidade no “Jornal Nacional” devido ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A escola estadual, que tem convênio com o Instituto dos Irmãos Maristas, atraiu a reportagem da Rede Globo a São Bento do Sul para produção do quadro “JN no Ar”. Formada em Educação Física pela Univille, campus Joinville, Zuleica já atuou em diferentes unidades escolares, como a campo-alegrense Jerônimo Coelho Pacheco e as são-bentenses Carlos Zipperer Sobrinho, Celso Ramos Filho e Orestes Guimarães.

“A disciplina na Escola de Educação Básica ajuda em todas as outras questões – de aprendizagem e de todo o processo pedagógico. Com esse contexto, conseguimos fazer uma educação de qualidade em São Bento do Sul” (Foto Elvis Lozeiko/Evolução)

EVOLUÇÃO – Conversamos, nesta ocasião, com Zuleica Voltolini, diretora da Escola de Educação Básica São Bento, até hoje chamada por muitos de “Cesb”, o eterno “Colégio São Bento”. Esta unidade foi notícia, na semana passada, em pleno “Jornal Nacional”, o que nos deixa muito orgulhosos devido aos bons índices do Ideb, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica do Brasil. Para vocês, a alegria foi maior ainda, certo?

ZULEICA VOLTOLINI – É um prazer enorme estar aqui e poder dividir com todos essa alegria. A nossa escola teve destaque como a escola estadual com o melhor índice (do Ideb). Tivemos a visita do “Jornal Nacional”, da Rede Globo, em São Bento do Sul, destacando a nossa cidade e mostrando que nós, no interior de Santa Catarina, fazemos um trabalho de qualidade. Temos uma educação de qualidade! A alegria, claro, é muito grande! Queremos comemorar juntos com todos aqueles que estudaram no antigo Ginásio São Bento, depois no Colégio São Bento – agora Escola de Educação Básica São Bento, que é conveniada aos Irmãos Maristas. Porém, seguimos todas as diretrizes do Estado de Santa Catarina. Esse apoio dos Irmãos Maristas é um dos nossos diferenciais.

EVOLUÇÃO – Como a direção da escola tomou conhecimento da reportagem que a Globo gostaria de fazer em São Bento do Sul?

ZULEICA VOLTOLINI – Houve uma ligação da Secretaria de Educação. A pessoa que ligou até perguntou: “O que vocês estão fazendo de diferente? Querem fazer uma entrevista na escola!”. Eu disse: “A única coisa diferente que estamos aguardando é o resultado do Ideb”. Oficialmente, a Secretaria de Educação ainda faria o anúncio. Porém, eles (da Globo) se anteciparam um pouquinho. Então, no dia 15 (quarta-feira retrasada) apareceu a Rede Globo na nossa escola. Foi uma emoção muito grande. Ainda não sabíamos que éramos destaque entre as escolas estaduais.

EVOLUÇÃO – Vocês ficaram sabendo através da equipe de reportagem?

ZULEICA VOLTOLINI – Exato. O secretário de Educação (Eduardo Dechamps) só anunciaria à tarde, em uma (entrevista) coletiva. Então, estávamos aguardando o resultado. Porém, sabíamos que nossa prova havia sido boa. Afinal, os alunos estavam bem preparados. Após a prova, feita no final do ano passado, até os alunos estavam falando: “Nós fomos bem”. Foi quando chegou a Rede Globo que soubemos o resultado oficial. A alegria, claro, foi enorme. A jornalista (Cláudia Bomtempo) já tinha os dados todos. Ela já veio com toda a pesquisa do MEC (Ministério da Educação) feita. Assim, ela foi dizendo as notas, onde fomos melhores, etc. Até então, nem acesso às notas tínhamos. Foi uma alegria total. Eles falaram que gostariam de visitar toda a escola, conversar com os alunos, etc. Foi um dia especial para todos.

EVOLUÇÃO – A própria reportagem da Globo fala que Santa Catarina tem se destacado no Ideb em nível nacional e que a escola com as melhores notas no Estado é a Escola São Bento. Então, nesses termos, podemos dizer que a escola hoje é a melhor do Brasil?

ZULEICA VOLTOLINI – Nesses termos, podemos dizer que estamos entre as melhores do Brasil. É um orgulho muito grande, porque é uma caminhada – isso não foi de ontem para hoje. O próprio Ideb iniciou lá em 2005. Desde então, estamos tendo essa preocupação. Uma pessoa muito especial, que fez nos preocuparmos com esse índice, é a Marli Corrêa, nossa supervisora escolar. Atualmente, ela está aposentada – porém, ela contribuiu muito para o despertar dessa preocupação, ou seja, prepararmos bem os alunos também para esta prova. Nós sempre procuramos preparar o aluno para as provas da vida. Mas também tem as provas na sala de aula! Queremos preparar o aluno com qualidade – não apenas porque ele passou pela escola e aprendeu determinado conteúdo.

EVOLUÇÃO – Não existe fórmula mágica para isso, certo?

ZULEICA VOLTOLINI – Não existe. É um trabalho de dedicação e de empenho de toda a equipe, como frisei na reportagem. É necessário ter uma equipe! Tem que ser uma aula de qualidade. Temos a nossa assessora de direção, a Ariane Hinke. Temos a nossa parceria com a APP (Associação de Pais e Professores). O professor tem que estar comprometido. Além do professor, tem os alunos e as famílias. É necessário ter uma equipe administrativa e pedagógica para termos esse suporte quando o professor precisa de material, quando precisa inovar e fazer algo diferente no dia a dia. Precisamos das nossas serventes, que deixam as salas e os banheiros limpos, precisamos dos nossos vigiais, das nossas merendeiras.

EVOLUÇÃO – Bom, sabemos que o trabalho de direção não é fácil, porque existem as dores de cabeça, as preocupações e as responsabilidades do dia a dia. Porém, esse prêmio vem para recompensar tudo isso...

ZULEICA VOLTOLINI – Recompensa todos os sacrifícios. Nós, como educadores, não conseguimos agradar a todos. Nós temos as nossas metas, a nossa filosofia. A filosofia da unidade é tudo para uma escola, porque envolve o desenvolvimento integral do aluno, em todas as direções: corpo, mente e espírito. Isso é um instrumento gerador de conquistas sociais e uma conquista de cidadania. É isso que queremos dos nossos alunos. O jovem não está apenas como um objeto sentado – ele é um todo. Temos que ver esses jovens como um todo, vendo todos esses aspectos. Sempre procuramos, na escola, acompanhar os alunos, vendo o que está acontecendo, inclusive com os pais: “Ah, meu filho deixou de entregar um trabalho”. “Então vamos ficar atentos”. Essa questão da família presente é muito importante.

EVOLUÇÃO – Não é apenas terceirizar a educação?

ZULEICA VOLTOLINI – A família tem que estar junto, acompanhando: “Filho, o que temos hoje? Quer que eu ajude?”. É necessário acompanhar, porque ninguém consegue aprender apenas em quatro horas dentro da sala de aula. Existem as atividades e tarefas que são levadas para casa. Assim, é um trabalho conjunto entre família e escola.

EVOLUÇÃO – E a autoestima de toda a escola, como está?

ZULEICA VOLTOLINI – Sabemos que existem as questões de governo e tudo mais, a desvalorização dos professores, que mereciam ter um salário mais justo e adequado. O professor tem que trabalhar suas quarenta horas, às vezes sessenta horas – com isso pode ser complicado se aperfeiçoar. Nós precisamos de um aperfeiçoamento contínuo. A cada dia estamos aprendendo. Essa desvalorização, porém, acontece em nível de Brasil.

EVOLUÇÃO – Voltando a falar das dificuldades de trabalhar na direção. Sabemos que hoje a juventude não é a mesma de décadas passadas. Estamos na chamada Era da Informação, hoje temos a internet, a tecnologia. É uma situação nova também para vocês?

ZULEICA VOLTOLINI – São muitas informações do lado de fora. Os alunos estão com o pensamento acelerado. Às vezes, na escola, aquela coisa de ficar sentado, prestando atenção no professor, não é tão interessante. Aí o professor tem que motivar, estar bem planejado com suas aulas, porque os alunos não vão ficar apenas como antigamente, apenas escutando. Hoje os alunos já são mais críticos, mais ativos, participativos. Os alunos estão contribuindo com essa formação. Às vezes, claro, não é fácil, porque o aluno pode estar vindo de uma situação familiar... Então, precisamos sentar, conversar, ouvir. Às vezes o aluno conta algo à direção e os pais são os últimos a saber. O que fazemos? Orientamos. Pedimos a essa criança, a esse adolescente, que abra o jogo com o pai, contando tudo. É melhor o pai saber pelo seu próprio filho do que através de um terceiro.

EVOLUÇÃO – Mas às vezes o jovem se sente mais à vontade para contar para um colega, para um professor, para a diretora...

ZULEICA VOLTOLINI – Sim. Mas nós ajudamos. “Querido, vai lá, conte para o seu pai. O pai vai brigar, vai chamar a atenção, mas é importante falar”. É importante ter esse diálogo. Claro, não é fácil, mas estamos nesse caminho. Muitas vezes os alunos vêm, choram, contam isso e aquilo... Tentamos dar uma de psicóloga nessas horas. Só o fato de ouvir já é importante.

EVOLUÇÃO – Fazendo uma analogia com o futebol, agora. O Brasil se acostumou a ser campeão. De repente um vice-campeonato já é muito mais criticado do que o título, comemorado. Como é essa responsabilidade de se manter no topo?

ZULEICA VOLTOLINI – Existe o despertar de todas as outras escolas, porque todas as escolas têm capacidade para chegar lá! Elas podem dar o seu melhor. Para nós, é uma responsabilidade muito grande, porque não podemos ficar parados. Como foi dito: enquanto os outros cresceram, o Brasil ficou para trás. Por quê? Porque eles correram. Nós, particularmente, já estamos nos preocupando com o próximo Ideb. Estamos com essa preocupação, pois precisamos rever algumas questões, porque nossa intenção é melhorar.

EVOLUÇÃO – Muito bem! Escola de Educação Básica São Bento e diretora Zuleica Voltolini de São Bento do Sul para o mundo, afinal a Globo tem audiência internacional também! Poderíamos nos alongar muito mais na conversa, mesmo porque o assunto é amplo. Porém, temos que encerrar. Suas considerações finais, por favor. Para finalizar, deixamos mais uma pergunta: já caiu a ficha?

ZULEICA VOLTOLINI – Olha, agora está caindo... É um trabalho, devo dizer, que é desenvolvido com uma equipe maravilhosa e em que todos estão contribuindo. É preciso dizer que nossa filosofia está junto com a entidade dos Irmãos Maristas. Esse é nosso diferencial em relação às demais escolas. Em nossa escola, conseguimos trabalhar muito a questão dos valores. Temos a Pastoral Educacional dentro da escola, com trabalhos de liderança, de valores. Conseguimos esse diferencial através dessa parceria. O senhor Marcelino Champagnat, que é o padroeiro dos Irmãos Maristas, dizia: “Para bem educar crianças e jovens, antes de tudo é preciso amar”. Esse amar estamos conseguindo realizar. Amar não é apenas passar a mão na cabeça: “Ai, meu querido, tudo bem?”. Amar é exigir, é cobrar...

EVOLUÇÃO – ...é dizer não!

ZULEICA VOLTOLINI – É dizer não! É difícil dizer não! Esse “não” tem que ser dito na hora certa. Esse amor que proporcionamos aos nossos alunos é cobrar compromisso e disciplina. A disciplina na Escola de Educação Básica ajuda em todas as outras questões – de aprendizagem e de todo o processo pedagógico. Com esse contexto, conseguimos fazer uma educação de qualidade em São Bento do Sul.

EVOLUÇÃO – Algo mais, Zuleica?

ZULEICA VOLTOLINI – Sou apaixonada pelo que eu faço. Como eu disse, dou a minha vida por isso. Queremos o melhor. Acreditamos nessa filosofia. Queremos sempre dar o melhor.