Florianópolis - As exportações de produtos básicos brasileiros estão no nível de 1978, quando representavam 47% da pauta. Os embarques de manufaturados, que à época somaram 40%, têm hoje uma participação de 36%. A informação foi dada pelo vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro, que participou de painel na Jornada Inovação e Competitividade, promovida pelo Sistema FIESC, nesta quinta-feira, em Florianópolis.
Nos últimos 10 anos, os preços médios da exportação cresceram explosivamente. A quantidade exportada também aumentou. O resultado foi receita de exportação. Isso fez com que o Brasil tivesse um resultado fantástico no superávit comercial. Com isso, pagou-se a dívida externa. No entanto, na opinião de Castro, com o bom momento das commodities "a indústria de transformação foi esquecida, engolida e ficou ofuscada. Indiretamente pagou a conta", afirmou ele.
"O comércio exterior é insustentável", disse Castro, destacando que a predominância de produtos básicos na exportação deixa o Brasil numa situação de instabilidade pelo fato de os preços desses produtos dependerem do mercado internacional. A pauta de manufaturados é mais estável, pois a dependência do cenário externo é menor. Os itens de maior valor agregado dependem mais do ambiente interno e as indústria têm mais controle. "Não podemos prescindir da indústria. E o grande desafio é o governo realizar uma política industrial de longo prazo e não uma colcha de retalho como é hoje", disse.
"O baixo crescimento da produtividade é um fator importante para explicar a perda de competitividade do Brasil", disse o gerente de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, que moderou um painel sobre competitividade. A estagnação da produtividade limita o crescimento da indústria e do PIB, completou. A indústria brasileira vem perdendo espaço. A produção do setor industrial estagnou após 2008. "Isso faz com que o uso da capacidade instalada se reduza, gere ociosidade e é o primeiro sinal de que não precisa investir. A confiança vem se reduzindo. Ociosidade alta e confiança baixa é ruim para o investimento", ressaltou.
A indústria de transformação já respondeu por 35% do PIB. Hoje responde por 14%. O setor já foi responsável por 25% dos empregos formais no país. Esse índice caiu para 17%. Há fatores que explicam a relativa perda da importância da indústria. Entre eles estão a mudança no padrão de crescimento global que mudou do Atlântico Norte para a Ásia, os gastos elevados do governo, o aumento dos custos de produção, dos salários e da energia, além da tributação excessiva.
O professor da Fundação Dom Cabral, Luiz Lobão, que também participou do evento, disse que é preocupante a situação da indústria. "Se não forem feitas as reformas necessárias, dificilmente seremos competitivos. Não temos a capacidade de produzir produtos baratos como a China e tão pouco temos a inovação dos alemães. Então, estaremos numa situação perigosa porque não conseguimos gerar vantagem competitiva. De fato, as questões de competitividade são estruturais", disse ele, lembrando que o Brasil tem um nível de escolaridade baixo o que agrava a situação. "O índice de alfabetismo funcional mostra que 33% dos universitários não atendem as exigências mínimas necessárias para ingressar na universidade.