Padre Antônio Taliari
Jornalista (DRT 3847/SC)
Missionário em Rondônia, estudando em Curitiba/PR
Hoje, o Evangelho traz a metáfora da videira e dos ramos, com o qual Jesus fala da sua união profunda com os que aderem a ele, o amam e vivem as suas palavras. Videira e ramos não são duas coisas, mas uma só planta. Têm a mesma seiva, vivem a mesma vida, dão os mesmos frutos. A ceia é o ‘contexto’, a videira é o ‘texto’ e o vinho é o ‘quase texto: aludem à Eucaristia. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, morarei nele e ele em mim. Seu pré-texto é o Salmo 80, que relê a história de Israel a partir da metáfora de uma vinha, plantada por Deus com tanto amor e vigor que cobre toda a terra, mas foi abandonada e devastada. A videira é árvore e fruto da Terra Prometida. Produz o vinho bom que alegra o coração do homem. Simboliza o amor e a alegria, aquele algo mais que dá gosto à vida. Remete ao primeiro dos sinais, em Caná da Galileia, quando a água da Lei se viu transformada em Vinho da nova e definitiva aliança. Jesus é a videira e nós, os ramos, cuja fecundidade, porém, depende da união com ele, cumprindo seus mandamentos. A fecundidade não é automática. É a fecundidade do amor, que se concretiza na prática dos mandamentos de Jesus, sobretudo do ‘seu’ mandamento! “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Esse procedimento é típico do evangelista João, que, justamente, é considerado a ‘águia’, enquanto os demais são: Mateus o ‘boi’, Lucas o ‘homem’ e Marcos o ‘leão’, na tradicional interpretação dos quatro seres alados do Apocalipse. A águia, voando, dá voltas em torno do mesmo ponto, em círculos cada vez mais altos. Aqui, João, falando da comunhão que já existe entre Jesus e os seus, nos leva para além do tempo e do espaço, abraçando todo tempo e espaço, para perder-se na imensidão de Deus, com se verá, depois da Ascensão, no capitulo 17. Esse longo discurso tem a continuidade e a descontinuidade do voo, na verdade, do planar, da águia. Numa corrente ascensional, sem movimento perceptível, leva-nos para o alto, descortinando-nos uma visão cada vez mais plana. Do céu contempla-se a vastidão da terra e, nesta, foca-se o que se pretende ver melhor para agarrar. Esse procedimento não é um duplicado, mas uma repetição. Como assim? A verdade deve ser contemplada, não uma, mas muitas vezes. Só assim, ela pode ser saboreada. Só assim ela é interiorizada. A repetição é princípio de vida, como o coração, que, repetindo sua batida, mantém-nos vivos; parando de repetir-se, mata-nos. Ou como o pulmão, que repete seu ritmo imperceptivelmente. Ou como o sangue, que circula sempre pelos mesmos lugares; quando pára, o lugar morre. A repetição, o ritmo, a candência valem também para a vida no Espírito. A Palavra precisa ser sempre de novo ouvida, mastigada e assimilada para nos fazer viver e crescer. Não se come uma vez por todas. Come-se todos os dias. Algumas vezes ao dia. Constantemente recordada, a Palavra se imprime em nós, nos modifica e nos assimila a si. Pode chegar ao ponto de “Não ser mais eu que vivo, mas Cristo que vive em mim”. A gente vive daquilo que re-corda, quer dizer, daquilo que traz de novo ao coração. A gente vive daquilo que está no coração. A repetição não cansa nem enjoa. E a contemplação nos torna reflexos da beleza de Deus! Seja fiél, ofereça o Dízimo!