Continuando nossa série sobre materiais de acabamento, veremos hoje um revestimento que já foi o queridinho nos anos 30 e 40, ficou um tempo esquecido e aos poucos está retornando ao mercado com toda a força: o ladrilho hidráulico. Os mais desavisados podem confundi-lo com um simples azulejo, mas o ladrilho hidráulico é uma peça artesanal e traz consigo um bocado de história.
Sua origem é baseada nos mosaicos mouros e bizantinos e foram muito utilizados durante o período vitoriano, nos castelos e prédios públicos de toda a Europa. Mas foi apenas com a descoberta do cimento, no século XIX, que a técnica de fabricação se consolidou. Introduzidos e popularizados na arquitetura das residências, chegou à América do Sul pelas mãos dos imigrantes italianos, os quais montaram as primeiras fábricas e difundiram seu uso pela cidade de São Paulo e posteriormente pelo resto do país. Quase um século depois, sua produção artesanal continua a mesma, sendo transmitida através das gerações.
Os ladrilhos são feitos com porções de tinta, uma camada de cimento seco e outra de argamassa de concreto. Podem ser coloridos com até cinco cores, com base em 30 cores de tinta. Um molde de bronze é feito para cada desenho, separando cada cor. A maneira de se colocar a cor na peça que é uma das grandes diferenças do ladrilho para outros revestimentos: a peça pronta apresenta uma camada de desenho com profundidade de 5,6mm – não é nem pintura nem impressão. Essa camada confere grande durabilidade: o desenho não sofrerá desgaste por no mínimo 50 anos. Estima-se a durabilidade das peças em mais de 100 anos.
Levam o nome de ladrilho “hidráulico” porque passam cerca de oito horas debaixo d’água para a cura. Não há nenhum processo de queima na fabricação e, por esse motivo, é também considerado um produto ecologicamente correto: além de não utilizar fornos, não necessita de energia na manufatura: as prensas utilizadas são manuais. Por serem artesanais, são comuns as pequenas irregularidades no desenho e as leves manchas nas cores, assim como pequenas lascas nas bordas e leves imperfeições no desenho.
Considerados como uma “poesia que fica no chão”, cada peça é feita individualmente. Alguns desenhos vêm de moldes das fábricas, mas é possível encomendar a fabricação de um molde novo para se ter um desenho especial - possibilitando a personalização de cada peça ou projeto para cada cliente. Ainda que se use um molde pronto, o cliente pode personalizar a cor que preencherá o desenho.
Por serem bastante porosos, é imprescindível a aplicação de resina impermeabilizante após a instalação. A manutenção posterior requer apenas água e sabão neutro, podendo ser aplicada cera líquida incolor a cada quinze dias. Nunca se deve usar quaisquer tipo de ácido para a limpeza, pois deixam a peça mais porosa e mais suscetível a manchas.
Já é possível encontrarmos cerâmicas ou azulejos industrializados que reproduzem (ou “imitam”) a superfície do ladrilho. Mas não se engane. Estes produtos não trazem consigo o charme, a beleza e a durabilidade que apenas o produto artesanal apresentará.