Para a economista, o BC está dividido entre os problemas transitórios e permanentes da economia Silvia Matos, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio, acha que a ata do Copom reflete o cenário "extremamente difícil" para o BC: a economia dividida entre uma indústria combalida e o aquecimento do setor de serviços e do mercado de trabalho. Qual a principal mensagem da ata? Bem, o fato de que o BC tenha mudado a velocidade da redução da Selic, com o corte recente de 0,75 ponto, veio provavelmente das informações mais negativas, principalmente da atividade econômica doméstica. Acho que pesaram os dados da produção industrial e do PIB mais fraco. Mas isso não quer dizer que tenha mudado o horizonte final do corte. Lendo a ata, o nível de 9% aparece como um valor razoável para se chegar, como era antes da decisão. O que mais pode ter motivado a aceleração dos cortes? Um dado importante que eles também citam é esse que a gente produz aqui (no Ibre), e que mostra a deterioração do sentimento, do índice de confiança de consumidores e empresários. Por que estabelecer esse piso de 9% para a queda? Para baixo de 9%, o BC parece ter uma sensação maior de risco. Ele destacou, por exemplo, a piora das projeções de inflação para 2013, tanto no cenário de referência como no cenário de mercado. Isso é um alerta de que há perdas e ganhos, que apesar da atividade estar pior, se ele baixar demais os juros, o cenário da inflação em 2013 pode se deteriorar mais ainda. Então a leitura que eu faço é de que a ideia é fazer mais um corte de 0,75 ponto porcentual e esperar para ver se a economia reage. Se não reagir, em alguns meses, ele poderia cortar mais ainda. Qual a sua opinião sobre essa estratégia do BC? Eu acho que o cenário é extremamente difícil. É fácil criticar o BC, mas deve ser muito difícil para eles tomarem decisões. Há problemas mais transitórios e mais permanentes na nossa economia. A indústria, por exemplo, independentemente da política monetária e creditícia, está sofrendo uma problema de concorrência muito forte, e mais estrutural. Por outro lado, há setores como serviços, o próprio mercado de trabalho, que estão indo bem e podem pressionar a inflação. Houve críticas à comunicação do Banco Central. Parece que, diante desse cenário complexo, é como se o Banco Central tivesse um roteiro traçado, mas qualquer choque influencia a tomada de decisões. Ele parece estar se sentindo mais à vontade para poder mudar de acordo com o ambiente, o que cria mais volatilidade. Eu acho até que, neste momento, seria melhor ter reuniões mensais do que de 45 em 45 dias. Mas e a inflação, como fica? A nossa inflação é 5,2%, e em termos de atividade, estamos com 3%, com viés para baixo. Está muito difícil crescer no começo deste ano. Fonte: FERNANDO DANTAS / RIO - O Estado de S.Paulo |