Vice-presidente do Banco Central do Canadá afirma que seu país também é vítima do tsunami monetário criticado por Dilma A presidente Dilma Rousseff ganhou um aliado de peso na luta contra o tsunami monetário que provoca a desvalorização do dólar e tira a competitividade dos produtos dos países emergentes. Na opinião do vice-presidente do Banco Central do Canadá, Tiff Macklem, o governo brasileiro está mais do que certo ao tributar, com 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), os empréstimos feitos no exterior com vencimento em até cinco anos. Ele ressalta que também o Canadá está sendo inundado de capitais oriundos dos Estados Unidos, da Europa e do Japão. Mas, a seu ver, o maior problema da economia do seu país é o crescente endividamento das famílias. "Estamos alertando as pessoas para que não façam dívidas que não possam pagar", diz. Para Macklem, Brasil e Canadá têm de trabalhar juntos para combater os desequilíbrios globais, defender medidas contra a formação de bolhas, garantir políticas monetárias realistas e pregar o ajuste fiscal. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista ao Correio. Qual o motivo de sua visita ao país? O Brasil é um país emergente com importância crescente para a economia global. Para o Canadá, como uma economia aberta, é importante entender como anda a economia brasileira e fortalecer nossas coordenações. Quando olhamos para trás e vemos as mudanças que ocorreram nos emergentes e o papel que passaram a ter, sobretudo nos momentos de crise, tornou-se inevitável essa aproximação. Na virada do milênio, um terço (33%) do crescimento global vinha dos mercados emergentes. Hoje, eles respondem por três quartos (75%) do avanço global. Essa é a razão pela qual eu estou aqui. A presidente Dilma Rousseff criticou o "tsunami monetário" provocado pelos países ricos, ao despejar dólares, euros e ienes no mercado, valorizando as moedas dos emergentes. O senhor concorda com a presidente? Ouvi sobre as declarações. E quero ressaltar que enfrentamos desafios parecidos. Nossos países conseguiram sair da crise muito bem. Mas ainda há muito a ser feito para deixar nossas economias ainda mais robustas. Não há dúvidas de que, daqui para frente, enfrentaremos novos desafios, enquanto os Estados Unidos e a Europa se recuperam gradualmente. Nossas moedas estão valorizadas, mas continuaremos a ser destinos populares para o capital. Agora, é certo que as duas maiores economias do mundo, Estados Unidos e China, têm pouca flexibilidade nas suas políticas cambiais. E a consequência disso é a dificuldade para a recuperação dos EUA e a insistência da inflação chinesa. Como Brasil e Canadá podem atuar conjuntamente para proteger suas economias? Promovendo mais discussões e reações internacionalmente para encontrarmos soluções que levem a um equilíbrio global. Acredito que Brasil e Canadá podem se juntar à mesa para acelerar a adoção de um plano que evite uma nova crise financeira, o que foi proposto em junho de 2010, na cúpula do G-20, em Toronto. Isso é o um dos principais passos a serem dados. Há a necessidade de se construir sistemas de proteção contra bolhas, executar política monetárias realistas e assegurar a austeridade fiscal. A crise europeia ainda está longe do fim? É preciso deixar claro que a crise europeia vai muito além da Zona do Euro. Há muito a ser feito, sobretudo no sentido de proteger o sistema financeiro local. Não vou dizer que a crise durará anos. Mas é preciso dizer é que ela levará um bom tempo. Se olharmos para a história, a recuperação das economias depois uma recessão sempre é lenta. Portanto, os governos terão um longo trabalho pela frente, pois as taxas de crescimentos serão bem reduzidas. Com isso, será necessário melhorar as relações comerciais com os países emergentes. Em menos de duas semanas, o governo ampliou a taxação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre empréstimos no exterior, agora, com vencimento em até cinco anos. Alguns economistas dizem que a medida não é suficiente para enfrentar a "guerra cambial". O problema aqui seria as altas taxas de juros. Como o Canadá vem se defendendo do capital especulativo? Como mencionei, o Canadá também é um destino atraente para o capital. Essa é uma oportunidade para atrairmos investimentos, o que é bom para o país. O importante é saber o que fazer com esse dinheiro. O desafio é sermos competitivos para atrair o capital produtivo. Nesse momento, porém, estamos mais preocupados com o aumento do endividamento das famílias devido às baixas taxas de juros. Estamos alertando as pessoas para que não façam dívidas que não possam pagar. Como é a relação entre os bancos centrais do Brasil e do Canadá? O Banco do Canadá e o Banco Central do Brasil têm laços bastante antigos. Mas cada governo tem as suas particularidades. O que posso dizer é que ainda tenho muito o que aprender sobre a política monetária brasileira. Ela é basicamente ancorada no combate à inflação e isso é maior do qualquer indivíduo que a comande. Fonte: Correio Braziliense / ROSANA HESSEL |