Florianópolis - De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), estima-se que em 2012 mais de 150 mil novos casos de câncer da pele do tipo menos agressivo, o não melanoma, acometam brasileiros de ambos os sexos. O tipo mais raro desse tumor, o melanoma, chegou a causar cerca de 1.400 mortes em 2009.
Em Santa Catarina, é possível traçar um perfil dos pacientes atendidos no ambulatório de câncer da pele do Hospital Nereu Ramos, da Secretaria de Estado da Saúde (SES), segundo pesquisa coordenada pelo médico dermatologista Daniel Holthausen Nunes.
Confira a entrevista:
O câncer de pele corresponde a 25% dos tumores malignos registrados no Brasil? A que se deve isso?
Os tumores da pele são os mais comuns devido à facilidade de diagnóstico. As lesões aparecem em áreas expostas e por isso são mais rapidamente percebidas pelo paciente. Em função disso, também o câncer da pele pode chegar a uma taxa de 80% a 90% de cura.
A quais sinais devemos estar atentos?
No caso de câncer da pele melanoma, o mais grave, é possível identificar o aparecimento ou modificação de alguma pinta. Elas têm características bem específicas que os médicos costumam denominar de “ABCD”, ou seja, são pintas assimétricas, com borda irregular, várias cores e diâmetro maior do que 0,6cm. No tumor não melanoma as lesões são elevadas, da mesma cor da pele, porém são brilhantes, de um aspecto perolado. Nesses casos, pode ou não haver ulceração (ferida) e crosta, a famosa casquinha.
Quais são as principais causas de tumores da pele?
São três basicamente: radiação, alteração genética e infecções virais por HPV. Além dos raios ultravioletas, qualquer radiação ionizante pode gerar quadros de câncer, como por exemplo, raios-X e radioterapia. Por isso, os profissionais dessa área devem usar proteção. O bronzeamento artificial também é outro fator de risco. As infecções virais (HPV) estão relacionadas ao surgimento de tumores principalmente nos genitais e mucosas (boca, ânus).
Qual é o perfil de paciente que apresenta esse tipo de tumor?
Na maioria dos casos, principalmente dos melanomas, o paciente já tem mais de 40 anos. Uma pesquisa realizada no ambulatório de câncer da pele do Hospital Nereu Ramos, em Florianópolis, apontou que 75% dos pacientes têm mais de 30 anos de exposição, e 77% não usam protetor solar. De forma geral, é mais comum em pessoas de pele clara, chegando a 89% dos casos analisados. A pesquisa mostrou também que 72% dos pacientes exercem alguma atividade com exposição solar, sendo que 52% são agricultores.
Qual a diferença clínica entre os tipos de tumor melanoma e não melanoma?
Os tumores da pele, que é o maior órgão do corpo humano, são diferenciados pela linhagem das células. O tipo melanoma é mais raro e acomete as células pigmentadas. Esse tipo entra nas estatísticas por ser mais agressivo e tem metástase (espalhamento) rápida. O não melanoma é originário da parte estrutural das células; atinge principalmente a região do rosto e pode causar desfiguramento. Os sinais têm normalmente a cor da pele, porém, são mais brilhantes, pode fazer casca e feridas que não cicatrizam.
Que tratamento se dá aos pacientes com câncer da pele?
O tratamento se dá em duas fases: a primeira é a detecção precoce, depois o procedimento cirúrgico. Este é composto de duas etapas, que são a retirada do tumor e a reconstituição do lugar afetado.Para a reconstituição podem ser aplicadas duas técnicas. Uma delas é conhecida como “técnica dos retalhos”, utilizando parte da própria pele do paciente próxima à area do tumor. Outra é feita a partir de enxertos. A quimioterapia é aplicada somente em casos de melanomas em estágios avançados. Já a radioterapia é utilizada em quadros de metástase localizada.
Fique atento às dicas de prevenção ao câncer de pele
As dicas básicas não mudam, especialmente para as crianças e quem trabalha ao ar livre:
•Evitar exposição prolongada, principalmente entre 10h e 16h;
•Usar e reaplicar sempre o protetor solar compatível com o tom de pele, mesmo aqueles à prova d’água;
•Procurar lugares à sombra, pois mesmo debaixo do guarda sol o reflexo da radiação chega a 35%;
•Tecidos fechados têm um fator de proteção solar entre 20 a 30, mas não dispensam o uso de protetor;
•Usar óculos escuros, chapéus, camisa de manga longa e calça comprida;
•O mormaço queima, pois as nuvens filtram muito mais o calor do que a radiação ultravioleta. Por isso é importante usar protetor mesmo em dias nublados.
O Dr. Daniel Holthausen Nunes é dermatologista, faz Doutorado em Câncer da Pele na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e atende no Hospital Nereu Ramos e Hospital Universitário de Florianópolis.