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“O Brasil tem melhorado muito a sua cultura de mesa”

Segunda, 06 de fevereiro de 2012

Irineu Weihermann, 48 anos, natural de São Bento do Sul, formado na área de Ciências da Computação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), assumiu o cargo de diretor superintendente da Oxford Porcelanas, onde iniciou em 1988 como analista de sistema. Ao longo desta entrevista, Irineu fala a respeito da sua trajetória e das transformações por que passou a empresa, falando de tecnologia e dos valores internos, da diversificação e da agregação de valor aos produtos, e ainda da feroz concorrência dos importados, uma vez que a companhia, de 2003 para cá, tem-se focado no mercado nacional.

  

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“Quando a população começa a ter um pouco mais de renda, ela quer melhorar também o visual da sua mesa, substituindo vidro por porcelana e por cerâmica. Isso acaba sendo favorável para nós” (Foto Elvis Lozeiko/Evolução)
 

EVOLUÇÃO – Olá, Irineu, como está?

IRINEU WEIHERMANN – Tudo bem. Ainda antes de me formar (na universidade), fui estagiário da Celesc, como programador de computador. Ao me formar, fui convidado para ser efetivado na Celesc como funcionário, porque até então não existia concurso para essa área, pois havia muito pouca mão de obra – era praticamente o início da informática. Trabalhei um tempo como analista de sistema e daí surgiu um convite na própria UFSC para trabalhar em um projeto no departamento de Engenharia Elétrica, que estava fazendo algumas pesquisas e necessitava de alguém para fazer a parte de informática. Esse projeto era para um ano – e depois foi renovado para mais um ano. Quando eu estava no meio do segundo ano, surgiu o anúncio no jornal “Diário Catarinense”: a Oxford, de São Bento do Sul, estava recrutando um analista de sistema. Como eu tinha formação e como era em São Bento, enviei o currículo e acabei vindo para cá fazer entrevista com o então gerente de Informática.

 

EVOLUÇÃO – Isso foi em que ano?

IRINEU WEIHERMANN – Isso foi em 1988. Então, acabei voltando para cá – se não me engano, foi em março daquele ano. Entrei como analista de sistema. A Oxford, na época, estava iniciando o desenvolvimento dos sistemas corporativos da empresa. Então acabei participando de todo o desenvolvimento – parte comercial, financeira, contábil, industrial, etc. Tive a oportunidade de participar de tudo isso, o que foi muito importante na minha trajetória, porque acabei conhecendo a empresa em todos os seus aspectos – e não especificamente em uma área. Depois, em 1993, época em que o senhor Otair (Becker) era presidente, ele me convidou para ser gerente de Informática – galguei o primeiro cargo de chefia. Foi uma satisfação muito grande. Até houve um fato curioso: na semana em que fui convidado para ser gerente, meu pai estava doente e faleceu. Depois, em determinado momento, fui convidado para assumir – além da área de Informática –, a área administrativa de vendas. Passados mais cinco anos, em 1999, fui convidado para assumir a área contábil-financeira. Nesse cargo fiquei de 1999 a 2008. Naquele ano (2008), houve uma mudança no Conselho de Administração. O senhor Eggon João da Silva, que era o presidente do conselho da Oxford, saiu - e quem assumiu foi Décio Silva, filho dele. Então foram feitas algumas mudanças – o senhor Célio Silva, então presidente, foi convidado a participar do Conselho de Administração. O diretor comercial, que era o Volney (Domingues), assumiu a presidência e eu assumi a diretoria administrativa financeira. Naquele momento, o Antônio Marcos (Schroth) foi convidado a ser diretor industrial. Então, com o mando de três anos, entre 2008 e 2011 essa foi a configuração na empresa. Foram vinte e três anos, muitos detalhes e muitas experiências nesse tempo todo.

 

EVOLUÇÃO – É um bom tempo...

IRINEU WEIHERMANN – Parece que sou profissional de uma empresa só, não é? Aqui dentro da Oxford tive a oportunidade de conhecer muitas funções diferentes, o que acaba gerando um engrandecimento profissional. Também deve-se acabar com esse mito de que o profissional tem que ficar trocando de empresa para crescer. A Oxford tem um compromisso com a política de reconhecimento dos valores internos. Agora ficou comprovado que no nível mais alto, na diretoria, também está-se valorizando os pratas da casa. Isso é bom para os funcionários que estão aí trabalhando, se preparando, estudando. Eles esperam receber um dia uma possibilidade de crescimento. A Oxford tem conseguido atender a essa demanda, oferecendo novos desafios. Por outro lado, muitas vezes é bom também ter um sangue novo, não é? Ou seja, trazer alguém de fora, com pensamentos diferentes. Porém, acho que não deve haver uma política muito agressiva neste sentido. Há uma cultura forte na empresa em relação aos valores internos, então o pessoal acaba vestindo a camisa da empresa. Um dos pilares do sucesso da Oxford é essa cultura. Para termos uma ideia, existem ex-funcionários da Oxford que fazem encontros até hoje.

 

EVOLUÇÃO – Cria-se um vínculo muito grande!

IRINEU WEIHERMANN – Então, o recado que podemos deixar para quem está estudando, está se preparando, é: as oportunidades aparecem e temos que estar preparados para isso. “Poxa, mas fiz faculdade, fiz pós-graduação, mas não estou sendo reconhecido”. Pode-se falar em sorte? Acho que sorte é quando se encontram competência com oportunidade. Muitas vezes há oportunidade, mas a pessoa não está preparada para aquela oportunidade – ou a pessoa está preparada, mas não existe a oportunidade.

 

EVOLUÇÃO – O senhor conhece muito bem a empresa, vendo o que a companhia era em 1988 e vendo o que é hoje. Que paralelo faz lá do final da década de 80 com a realidade de hoje, já nos anos 2000?

IRINEU WEIHERMANN – A Oxford era uma empresa eminentemente exportadora. A empresa chegou a exportar 70% da sua produção. Nós tínhamos basicamente um produto, que era a faiança. No mundo cerâmico, existe a faiança e existe a porcelana. A porcelana são produtos mais elaborados. A faiança são produtos mais populares. Até hoje a empresa ainda é chamada por muitos como “Cerâmica Oxford”. Há alguns anos, porém, mudamos inclusive a razão social – para Oxford Porcelanas. Já estamos com mais de 50% da nossa produção na linha de porcelana. A faiança, com o crescimento da China nos últimos vinte anos, começou a ser massificada com a oferta de produtos mais baixos, competindo muito forte com a “antiga Oxford” – então acabamos perdendo mercado. No final da década de 90, tivemos de fazer fortes investimentos em novas tecnologias – para podermos agregar mais valor aos produtos. Com isso, conseguimos lançar produtos com mais design, com formas diferentes, enfim.

 

EVOLUÇÃO – Houve uma diversificação de produtos, então?

IRINEU WEIHERMANN – Diversificação com agregação de valor, para tentarmos fugir da vala comum, em que o preço é importante, pois compra-se prato por U$S 1,00. Tivemos que fugir disso. Foi uma decisão muito acertada. Esse é outro pilar da Oxford: a tecnologia. Então, conseguimos passar por essas dificuldades e conseguimos sobreviver por conta da tecnologia que temos em nossos produtos. Custou bastante, foram vários anos pagando esses investimentos, com a empresa sofrendo consequências por conta das altas taxas de juros e tal. A partir de 2003, conseguimos iniciar um processo de crescimento no mercado interno. Como já falei, éramos muito fortes no mercado externo e, com essa nova tecnologia, conseguimos entrar no mercado interno como uma novidade. Já existiam os tradicionais fornecedores de porcelana no mercado doméstico, mas eles estavam como uma porcelana, digamos, muito antiquada, que não era moderna. Então, entramos com novas formas e também com decorações mais modernas, começando a pegar um público mais jovem. Para termos uma ideia, no último ano a participação das exportações foi de apenas 10%.

 

EVOLUÇÃO – De 70% para 10%?

IRINEU WEIHERMANN – Não que não queiramos exportar, mas a América do Norte e a Europa estão em crise. Na própria América do Sul, a Argentina está colocando alguns empecilhos para produtos brasileiros. Agora, recentemente, nos últimos três anos, os importados estão entrando muito fortemente no Brasil. Veja: no ramo de porcelana e cerâmica de mesa, de 2007 para 2011 cresceu 108% a oferta de produtos importados no mercado nacional. De 2010 para 2011, aumentou em 57% a entrada de produtos importados no Brasil. Para termos uma ordem de grandeza, a Oxford, em 2011, produziu 33 milhões de peças – enquanto entraram 148 milhões de importados, quase cinco vezes mais. E olha que a Oxford é a maior produtora de porcelana e cerâmica do Brasil! Os importados estão entrando com muita força por causa do câmbio e também porque a crise na Europa e nos Estados Unidos está grande – então a China está tendo que encontrar outros destinos para os seus produtos. O Brasil foi o eleito. Então, pairam algumas nuvens negras no cenário futuro por conta dos importados.

 

EVOLUÇÃO – O que fazer?

IRINEU WEIHERMANN – Temos que arregaçar as mangas e fazer algo. Temos visto na mídia que a própria indústria está se voltando contra o governo para que sejam colocadas algumas restrições aos importados, porque a indústria nacional, para a economia, para a geração de empregos, é importante. A Oxford emprega 1.334 colaboradores. Se levarmos em conta quatro pessoas por família, são 5,3 mil pessoas que dependem da Oxford. É um contingente muito grande. O Brasil foi melhorando muito suas leis trabalhistas. Também tem a questão do Salário Mínimo, que melhorou. A indústria cerâmica é uma atividade eminentemente dependente da mão de obra. Praticamente 50% do custo estão relacionados à mão de obra. É uma atividade muito artesanal, ainda.

 

EVOLUÇÃO – Apesar de toda a tecnologia?

IRINEU WEIHERMANN – Apesar da tecnologia e de todos os equipamentos, é uma atividade bastante artesanal. Se 50% dos custos são provenientes da mão de obra, quanto mais cara a mão de obra, menos competitivos vamos ficar relativamente aos chineses, por exemplo. Acho que o governo tem tido um discurso bem favorável à indústria nacional – acredito que vá tomar algumas medidas para incentivar a indústria intensiva em mão de obra, como é a indústria cerâmica. Nos últimos anos, dois grandes fabricantes de porcelana no Brasil fecharam as portas: a Pozzani, do interior de São Paulo, e a Cerâmica Vila Rica, de Minas Gerais. Além disso, existem outras no mercado que têm problemas também.

 

EVOLUÇÃO – São concorrentes a menos, certo?

IRINEU WEIHERMANN – Sim, mas diante do crescimento dos importados, isso não representa muito. São concorrentes a menos, sim, mas para o Brasil é ruim.

 

EVOLUÇÃO – Lá em 2003, quando a empresa começou a apostar no mercado interno, foi uma aposta no próprio Brasil também? Porque houve elevação da renda, houve a questão da elevação das classes sociais.

IRINEU WEIHERMANN – Como eu disse, direcionamos para um público mais jovem, porque o Brasil é um país de jovens. Esses jovens estão começando a consumir. A partir de 2003 – antes, inclusive –, com os programas  sociais e a melhoria do Salário Mínimo, a classe C e a classe D começaram a consumir, além de outros produtos, a porcelana e a cerâmica. Acredito que com esse novo aumento do Salário Mínimo – esse ano tem novo aumento – e com a redução da taxa de juros, 2012 vai ser um ano melhor do que foi 2011. Essa aposta no mercado jovem foi outro pilar do crescimento e da sustentação da Oxford. É importante frisar que o Brasil tem melhorado muito a sua cultura de mesa. No passado, o que mais se via nas mesas eram os pratos de vidro. Quando a população começa a ter um pouco mais de renda, ela quer melhorar também o visual da sua mesa, substituindo vidro por porcelana e por cerâmica. Isso acaba sendo favorável para nós.

 

EVOLUÇÃO – Muito bem, senhor Irineu, mais algum ponto a registrar?

IRINEU WEIHERMANN – Quero frisar aos colaboradores da Oxford que teremos grandes desafios pelos próximos anos. Estamos com o processo de implantação do novo sistema de gestão empresarial. Se iniciamos o sistema em 1988, esse sistema está até hoje em funcionamento – agora decidimos substituí-lo, comprando um sistema pronto do mercado. Estamos na fase de implantação desse sistema de gestão corporativa. É o projeto denominado “Inovox”, junção de informação, inovação e Oxford. Outro grande desafio, agora em 2012, é o crescimento no setor de cristal. Adquirimos, no final de 2010, uma unidade produtora de cristal em Pomerode. Em 2011, começamos a fornecer cristal para o mercado. Porém, como não somos um fornecedor muito conhecido, as coisas seguem um ritmo um pouco mais lento do que o normal.

 

EVOLUÇÃO – São produtos mais requintados?

IRINEU WEIHERMANN – São produtos de cristal com alto valor agregado. O produto que tem de 24% a 30% de chumbo na sua composição pode ser chamado de cristal. Quando não há essa composição, é um vidro com outra denominação. A Oxford focou no cristal 24% de chumbo, porque quer aproveitar uma cultura que também está crescendo no Brasil, que é a cultura do vinho. O brasileiro não é um grande consumidor de vinho, mas nos últimos anos essa cultura tem crescido muito. Quem quer ter todo o aroma do vinho, toda a cor, tem que ter um cristal. Então, primeiramente estamos focando esse público mais B e A.

 

EVOLUÇÃO – O cristal é um complemento na arte da degustação do vinho?

IRINEU WEIHERMANN – Todo grande fabricante de porcelana no mundo tem uma linha de cristal – a Oxford, até então, não tinha. É uma produção artesanal, que no Brasil é feita apenas na região do Vale Europeu, que envolve Blumenau, Pomerode, Timbó. É um tipo de produção passado de pai para filho. É um processo manual, com sopro – ou seja, não tem máquina para fazer cristal.

 

EVOLUÇÃO – E o que consumidor leva isso em conta, claro...

IRINEU WEIHERMANN – Paga um preço um pouco mais alto, mas leva isso em consideração. Essa nossa unidade tem capacidade atual para produzir 30 mil peças/mês, porém já estamos em fase de expansão da fábrica. Pretendemos, durante este ano e no início de 2013, ampliar a produção. Outro grande desafio nosso é crescer no segmento profissional. Existe a porcelana de uso doméstico – aquela que compramos para usar em casa –, mas no Brasil cresceu muito o mercado da alimentação fora de casa. Cada vez mais estamos almoçando fora de casa, porque as mulheres estão trabalhando mais, a vida profissional não oferece o tempo necessário para se fazer um almoço, etc.

 

EVOLUÇÃO – Leia-se restaurantes e hotéis?

IRINEU WEIHERMANN – Isso. No caso dos hotéis, por exemplo, é um segmento que tende a crescer muito no Brasil, por causa da Copa do Mundo e das Olimpíadas. É um mercado que queremos atender mais fortemente. Quando se é uma empresa inovadora, sempre se deve ser inovador. A cada lançamento é preciso inovar. É um caminho sem volta. Temos uma equipe de designers que constantemente tem que estar se reciclando. Recentemente foi feita uma viagem a Nova Iorque, para ter contato com o que há de mais moderno em design no mundo. Esses são os nossos grandes desafios, além da questão da concorrência dos importados, como eu já falei. Isso preocupa mais a cada dia. Temos que ser rápidos para estar na vanguarda. Como dizia Charles Darwin, que era pesquisador da vida animal e autor da teoria da evolução das espécies, “as espécies que sobrevivem não são as mais fortes e nem as mais rápidas, mas sim as que melhor se adaptam às mudanças”. Então, temos que estar atentos a isto. Atentos às mudanças nos hábitos de consumo, por exemplo, ou nas tendências de moda. Só assim podemos sobreviver. Por fim, quero agradecer pela oportunidade da entrevista e deixar o convite para que o jornal Evolução conheça a nossa unidade de cristal. Ainda quero agradecer a todos os profissionais com os quais tive o prazer de compartilhar experiências. Agradeço ao senhor Otair Becker, por ter me dado a oportunidade de ingressar na Oxford e, mais especialmente, ao senhor Célio Silva, pois foi com ele, ao longo de mais de vinte anos, que aprendi muito com a sua forma de tratar as pessoas e com a sua experiência em finanças. 



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